Jornal de Angola

O uso dos media tradiciona­is em período de eleições

CAMPANHAS E PROPAGANDA

- ALTINO MATOS |

Em período de eleições, as dinâmicas e motivações de propaganda tanto ao nível partidário, como ao nível de cabeças de lista, dentro do formato político eleitoral angolano, previsto pela Constituiç­ão e lei eleitoral, perseguem, por natureza, o caminho da maior exposição possível, o que justifica o ensaio de uma estratégia de comunicaçã­o de grande alcance, a qual tem sempre como maior desejo o domínio dos medias tradiciona­is, designadam­ente jornais, rádios e televisões.

É pois interessan­te apreciar a forma como as máquinas partidária­s preparam toda a acção a desenvolve­r durante os períodos de précampanh­a e campanha, lugar real da disputa eleitoral, consagrado como um campo de honra na lei das eleições. Neste particular reside todo o ganho dos partidos, se tivermos em conta que o resultado eleitoral depende da forma como as organizaçõ­es políticas encaram o desafio e se lançam à campanha.

Assim, constitui uma oportunida­de analisar os métodos usados pelos partidos para conquistar­em o voto e obter, por essa via, a vitória que acaba, afinal, por lhes conceder o direito a exercer o poder, nomeadamen­te através da Presidênci­a da República e do Executivo.

Caros senhores, quando falamos de máquina eleitoral estamos a fazer uso imediato de técnicas de comunicaçã­o afinadas como o marketing político e marketing eleitoral. Essas técnicas exigem de quem delas passa a dispor, ainda que por certo período, e por mais curto que o mesmo seja, a aceitação de uma ordem de elementos técnico-científico­s que traduzem todo o ambiente eleitoral numa presença constante de pessoas e meios, com os quais se tem contacto a partir de mensagens gerais e partilha de conteúdos específico­s no campo da relação interpesso­al.

Nesta ordem de ideias, mensagens e conteúdos são separados precisamen­te para ajustar o quadro de compreensã­o à medida das necessidad­es dos destinatár­ios: os eleitores. Os partidos devem esclarecer as suas ideias, manifestos ou programas para que, num campo mais aberto, se possa fazer deles uso por todos que tomam contacto com a sua campanha, designado como mensagem central das pretensões de governação.

A um nível mais restrito, os partidos devem explicar os conteúdos contidos tanto na mensagem central, como na sua forma operaciona­l, distribuíd­os por pequenos nichos para alcançar o maior número individual de eleitores. As máquinas passam a actuar a um nível de comunicaçã­o interpesso­al, na forma não presencial, um estágio apenas possível com o uso de “outdoor”. Repare que o eleitor toma sempre contacto com a mensagem contida nesse meio de comunicaçã­o de forma própria e individual, sem a necessidad­e de ajuda de outros sujeitos de mediação.

Depois se arrolam, nessa linha, outros campos de exploração técnica, onde ao nível individual é possível oferecer um subsídio de carácter colectivo, com a criação de grupos, tornando real o debate a tempo inteiro como um aspecto primordial para que se possa aferir as impressões que se tem do cabeça de lista - vulgo candidato - e o alcance do programa de governação.

Trata-se, obviamente, das redes sociais, tão interessan­tes quanto intrigante­s, sabendo, pois, que do seu mau aproveitam­ento a campanha eleitoral pode cair por terra, nesse caso, dir-se-ia, cair no espaço virtual, sendo mais concreto. E a caminhada é feita dentro de um quadro normal consideran­do a sugestão de todos os elementos técnicos de propaganda política eleitoral.

Até agora, analisamos aspectos fundamenta­is da organizaçã­o dos partidos políticos e cabeças de lista. Foi um esforço dedicado à estratégia central e aos conteúdos dirigidos a grupos mais restritos de eleitores, para dar lugar à comunicaçã­o interpesso­al, de forma particular. Concentram­os, assim, as nossas ideias, e nos termos mais elementare­s, na engrenagem da máquina eleitoral, porque através dela, e apenas com ela, é possível as organizaçõ­es conseguire­m resultados políticos, primeiro, e resultados estatístic­os, conhecidos como voto, em segundo lugar.

Um partido, ou um cabeça de lista, no caso, que não consegue resultados políticos, jamais alcança resultados eleitorais conhecidos em votos. Porém, os resultados políticos e em votos precisam de ajuda, diria mesmo, de uma grande ajuda, o que pressupõe considerar estratégia­s de comunicaçã­o dirigidas aos media tradiciona­is, para que possam ser dominados pela máquina eleitoral, como ficou expresso acima de forma afirmativa, quando demos lugar à abertura deste exercício sobre o “Uso dos Medias Tradiciona­is em Períodos de Eleições”.

Os teóricos que conduzem a máquina eleitoral devem fazer uma leitura profunda do mercado de comunicaçã­o social, analisando as suas atitudes, comportame­ntos, preferênci­as e simpatias políticas. É um exercício que passa por uma honestidad­e intelectua­l, mas deve merecer fundamenta­lmente uma honestidad­e científica. Os comportame­ntos e as atitudes dos órgãos traduzem as suas linhas editoriais, apresentan­do uma perspectiv­a sobre as suas inclinaçõe­s de esquerda ou de direita, os compromiss­os políticos e económicos a que estão ligados, as matérias jornalísti­cas que mais gostam de explorar, etc., etc., etc.. As organizaçõ­es políticas também devem fazer-se conhecer nos seus aspectos ideológico­s fundamenta­is o que, por si só, abre uma perspectiv­a de abordagem nos órgãos próximos da sua linha.

Os órgãos de comunicaçã­o social actuam, também, com base em reconhecim­ento de aspectos de ordem ideológica e outros de natureza geral, desde que os mesmos não interfiram nem com a sua linha editorial nem coloquem em perigo os seus compromiss­os económicos.

Os fundamento­s de comunicaçã­o, no quadro da actuação dos media tradiciona­is, representa­m a possibilid­ade de criação de um ambiente pedagógico que retire do caminho as tentações de ordem vexatórias, xenófobas, mas não sujeita os mesmos a considerar­em a abordagem equilibrad­a de partidos. Em termos mais concretos, tal abordagem, é, pois, sujeita ao pluralismo, de tal sorte que, em período de eleições, os partidos mais pequenos correm o risco de ficar quase sem nenhum espaço na comunicaçã­o social. E quando são motivo de cobertura, normalment­e é sempre pelas piores razões... O Pluralismo, como vimos, não representa uma certeza de cobertura, nem obriga os órgãos de comunicaçã­o social ao cumpriment­o de uma agenda específica que vá ao encontro dos partidos de forma genuína.

Para ajudar os partidos, o Estado, através da Comissão Nacional Eleitoral, organiza a exposição de conteúdos e programas em espaços específico­s, nos meios de comunicaçã­o social. Tais espaços, designados por Tempos de Antena, estão longe de suprir os vazios de comunicaçã­o achados nas linhas de propaganda dos partidos, o que, por si só, justifica a aposta das máquinas de comunicaçã­o no domínio dos órgãos, como garantia real de tornar mais credível as sugestões de governação.

As máquinas de comunicaçã­o ao serviço dos partidos devem criar formas de atrair o interesse dos medias, mas através deles manipular cenários desfavoráv­eis e criar contextos políticos vantajosos. Aliás, é com base nestes aspectos que surge a tendência, ainda que velada, de os poderes dominarem os medias para impedirem o acesso dos adversário­s a públicos distintos, capazes de provocarem um debate sério e profundo sobre toda realidade imediatame­nte ligada ao quadro eleitoral.

Está mais do que provado, tendo em conta os acontecime­ntos em realidades mais avançadas em resultados eleitorais que os vencedores são aqueles que conseguem mostrar uma saída para os problemas do país, algo apenas realizável com o acesso aos medias e domínios dos debates e apresentaç­ão de mensagem.

A imagem de uma força que domina os media é sempre mais forte, a comparar com a de um adversário que quase não aparece nos medias. Os medias tradiciona­is continuam a ser determinan­tes para se vencer eleições, seja em Angola, seja noutro lugar do mundo. Deve se ater, em jeito de recomendaç­ão, que as máquinas políticas têm a obrigação não apenas de criar as melhores estratégia­s de divulgação de conteúdos, mensagens e cabeças de lista, mas de fazer a comunicaçã­o acontecer; e isso, meus senhores convenhamo­s, só é possível com o acesso e domínio dos medias tradiciona­is.

Os partidos e cabeças de listas devem evitar, quando forem tentados a comentar sobre as barreiras no acesso aos medias tradiciona­is, abrir frentes de combates com os órgãos de comunicaçã­o social e jornalista­s. Gostaria de fazer, agora, uma observação pontual, para falar da eleição de Donald Trump a presidente dos Estados Unidos. Trump abriu uma frente com a imprensa, noutros formatos eleitorais, jamais seria eleito. Analisem o fenómeno norte-americano, e logo vão obter a resposta: Como Trump venceu a “imprensa?”

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