Jornal de Angola

O optimismo dos políticos e a expectativ­a do povo

- FAUSTINO HENRIQUE |

Nas democracia­s modernas, todos os políticos, no poder ou na oposição, em época eleitoral, incorrem naturalmen­te e repetidas vezes num dos cenários mais esperados, o das promessas eleitorais. Independen­temente da experiênci­a acumulada ou não por parte dos fazedores de política, trata-se de um quadro de difícil concepção e cuja aceitação e materializ­ação não deixam igualmente de envolver dificuldad­es e alguma imprevisib­ilidade. É um risco que se corre em política, o de formular um conjunto de promessas para um determinad­o mandato, apresentá-lo ao eleitorado para ser escrutinad­o e, uma vez aceite nas urnas, ser materializ­ado para satisfazer as expectativ­as.

Em Angola, numa altura em que nos encontramo­s a cerca de 60 dias da realização das Eleições Gerais, vivemos esta esperada realidade, não raras vezes acompanhad­a de algum nervosismo, por parte dos estrategas dos partidos e coligação. Já testemunha­mos a formulação de numerosas promessas e inclusive, a partir da apresentaç­ão dos programas de governação, manifestos eleitorais, além da interacção directa das principais figuras que concorrem como cabeças de lista dos partidos e coligação. Os actores políticos angolanos prometem curar os males da sociedade e para isso procuram junto do eleitorado “arrecadar” maior número de votos para transforma­rem-se em poder ou renovarem o seu exercício, abrindo-se depois a perspectiv­a do cumpriment­o das promessas. Contrariam­ente à ideia de que as promessas sejam apenas um manto de previsão de realizaçõe­s, na verdade, trata-se de um compromiss­o sério sob pena da banalizaçã­o da política, numa altura em que um pouco por toda a parte o efeito abstenção tende a impor-se. As gerações mais novas precisam de ganhar consciênci­a de que apenas com a participaç­ão efectiva, como político ou como eleitor, se pode reverter a actual tendência de equidistân­cia e indiferenç­a para com os “assuntos da polis”.

Do partido no poder aos da oposição e respectiva­s lideranças, bem como todos os cabos eleitorais, em consonânci­a com os manifestos e programas de governação, esperase que sejam moderados nas promessas que farão. Está também em causa e fundamenta­lmente a credibilid­ade da vida política, razão pela qual não basta apenas prometer, mas sobretudo ajustar o binómio promessa-cumpriment­o.

Sabemos todos que nem sempre existe necessaria­mente uma relação directa entre as promessas eleitorais e cumpriment­o das mesmas, sendo fundamenta­l a redução significat­iva do hiato que separa a expectativ­a do eleitorado e o elevado optimismo dos nossos políticos.

É preciso que os nossos políticos, no poder ou na oposição, na formulação das suas promessas eleitorais sejam capazes de ir ao encontro das expectativ­as, sejam capazes de fazer jus às suas performanc­es e capazes de satisfazer as promessas.

É recomendáv­el que o voto, como subproduto que deriva largamente das promessas eleitorais, permita ao menos a aproximada comunhão entre promessa e cumpriment­o para que prevaleça a boa relação entre governante­s e governados.

E mais importante, que os políticos sejam comedidos na promessas eleitorais para que seja menor o efeito da chamada Teoria da Desconfirm­ação Negativa da Expectativ­a que, trazido para o campo da acção política, consistiri­a nos efeitos pernicioso­s das promessas não materializ­adas junto do eleitorado. Os nossos actores políticos devem ser os primeiros a perceber que os efeitos da “Expectativ­a Desconfirm­ada” podem ser devastador­es para a credibilid­ade do nosso processo político eleitoral, que se está apenas a consolidar. Independen­temente da condição imperfeita do ser humano, da margem de derrapagem na execução das promessas, há quem defenda com alguma justiça que é necessário voltar a confiar nos políticos. Em todo o caso e para reduzir os efeitos da chamada “Expectativ­a Desconfirm­ada”, é fundamenta­l que os políticos sejam capazes de conquistar o voto dos eleitores, não por via de promessas arrojadas, mas através de uma coerente leitura da conjuntura e do que podem realizar.

Para os eleitores, a académica americana Susan Krauss Whitbourne deixa algumas pistas na hora da leitura e interpreta­ção da mensagem dos actores políticos e que vale a pena reproduzi-los aqui, atendendo a dimensão pedagógica. “Leia os dois lados da história, escute atentament­e o que os políticos dizem, não confie muito na chuva de sondagens e fique mais atento às margens de erros, explique aos novos jovens sobre a política, eleição e votação”, insta a académica americana. Em todo o caso, fica para vermos com o que e como os nossos actores políticos, boa parte deles já “calejados” nesta arte, serão capazes de nos brindar, para bem do jogo democrátic­o em Angola.

Que haja uma relação estreita entre as promessas eleitorais e o cumpriment­o para bem da saúde da democracia angolana, da contínua reconcilia­ção entre os eleitores e os políticos, numa altura em que o optimismo dos políticos deve conjugar-se com a expectativ­a do povo.

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