O optimismo dos políticos e a expectativa do povo
Nas democracias modernas, todos os políticos, no poder ou na oposição, em época eleitoral, incorrem naturalmente e repetidas vezes num dos cenários mais esperados, o das promessas eleitorais. Independentemente da experiência acumulada ou não por parte dos fazedores de política, trata-se de um quadro de difícil concepção e cuja aceitação e materialização não deixam igualmente de envolver dificuldades e alguma imprevisibilidade. É um risco que se corre em política, o de formular um conjunto de promessas para um determinado mandato, apresentá-lo ao eleitorado para ser escrutinado e, uma vez aceite nas urnas, ser materializado para satisfazer as expectativas.
Em Angola, numa altura em que nos encontramos a cerca de 60 dias da realização das Eleições Gerais, vivemos esta esperada realidade, não raras vezes acompanhada de algum nervosismo, por parte dos estrategas dos partidos e coligação. Já testemunhamos a formulação de numerosas promessas e inclusive, a partir da apresentação dos programas de governação, manifestos eleitorais, além da interacção directa das principais figuras que concorrem como cabeças de lista dos partidos e coligação. Os actores políticos angolanos prometem curar os males da sociedade e para isso procuram junto do eleitorado “arrecadar” maior número de votos para transformarem-se em poder ou renovarem o seu exercício, abrindo-se depois a perspectiva do cumprimento das promessas. Contrariamente à ideia de que as promessas sejam apenas um manto de previsão de realizações, na verdade, trata-se de um compromisso sério sob pena da banalização da política, numa altura em que um pouco por toda a parte o efeito abstenção tende a impor-se. As gerações mais novas precisam de ganhar consciência de que apenas com a participação efectiva, como político ou como eleitor, se pode reverter a actual tendência de equidistância e indiferença para com os “assuntos da polis”.
Do partido no poder aos da oposição e respectivas lideranças, bem como todos os cabos eleitorais, em consonância com os manifestos e programas de governação, esperase que sejam moderados nas promessas que farão. Está também em causa e fundamentalmente a credibilidade da vida política, razão pela qual não basta apenas prometer, mas sobretudo ajustar o binómio promessa-cumprimento.
Sabemos todos que nem sempre existe necessariamente uma relação directa entre as promessas eleitorais e cumprimento das mesmas, sendo fundamental a redução significativa do hiato que separa a expectativa do eleitorado e o elevado optimismo dos nossos políticos.
É preciso que os nossos políticos, no poder ou na oposição, na formulação das suas promessas eleitorais sejam capazes de ir ao encontro das expectativas, sejam capazes de fazer jus às suas performances e capazes de satisfazer as promessas.
É recomendável que o voto, como subproduto que deriva largamente das promessas eleitorais, permita ao menos a aproximada comunhão entre promessa e cumprimento para que prevaleça a boa relação entre governantes e governados.
E mais importante, que os políticos sejam comedidos na promessas eleitorais para que seja menor o efeito da chamada Teoria da Desconfirmação Negativa da Expectativa que, trazido para o campo da acção política, consistiria nos efeitos perniciosos das promessas não materializadas junto do eleitorado. Os nossos actores políticos devem ser os primeiros a perceber que os efeitos da “Expectativa Desconfirmada” podem ser devastadores para a credibilidade do nosso processo político eleitoral, que se está apenas a consolidar. Independentemente da condição imperfeita do ser humano, da margem de derrapagem na execução das promessas, há quem defenda com alguma justiça que é necessário voltar a confiar nos políticos. Em todo o caso e para reduzir os efeitos da chamada “Expectativa Desconfirmada”, é fundamental que os políticos sejam capazes de conquistar o voto dos eleitores, não por via de promessas arrojadas, mas através de uma coerente leitura da conjuntura e do que podem realizar.
Para os eleitores, a académica americana Susan Krauss Whitbourne deixa algumas pistas na hora da leitura e interpretação da mensagem dos actores políticos e que vale a pena reproduzi-los aqui, atendendo a dimensão pedagógica. “Leia os dois lados da história, escute atentamente o que os políticos dizem, não confie muito na chuva de sondagens e fique mais atento às margens de erros, explique aos novos jovens sobre a política, eleição e votação”, insta a académica americana. Em todo o caso, fica para vermos com o que e como os nossos actores políticos, boa parte deles já “calejados” nesta arte, serão capazes de nos brindar, para bem do jogo democrático em Angola.
Que haja uma relação estreita entre as promessas eleitorais e o cumprimento para bem da saúde da democracia angolana, da contínua reconciliação entre os eleitores e os políticos, numa altura em que o optimismo dos políticos deve conjugar-se com a expectativa do povo.