Tensão entre Djibuti e Eritreia com a saída de soldados do Qatar
Conselho de Segurança da ONU debateu à porta fechada o diferendo entre os dois países
O agravar da tensão entre o Djibuti e a Eritreia com o ressurgimento de uma disputa territorial na fronteira comum dos dois países na sequência da retirada de soldados do Qatar, analisado ontem em debate no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), é a mais recente consequência da crise diplomática que assola a região do Golfo Pérsico.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Djibuti, Mahmoud Al Youssouf, acusou sexta-feira Asmara de “colocar as suas forças” na região de Doumeira, junto ao mar Vermelho, disputada pelos dois países. “O Djibuti é um país pacífico e damos prioridade às soluções pacíficas. Mas se a Eritreia insistir na procura de soluções militares, o Djibuti está pronto”, disse Al Youssouf em conferência de imprensa.
A Eritreia não reagiu publicamente às declarações do governante do Djibuti. Num comunicado divulgado sábado, o presidente da comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, apelou à calma e contenção do Djibuti e da Eritreia, depois de o primeiro acusar o segundo de aproveitar a saída das forças do Qatar para ocupar parte do território reivindicado pelos dois Estados na fronteira e apresentar uma queixa formal à Comissão da organização continental.
“A Comissão da União Africana, após estreitas consultas com as autoridades do Djibuti e da Eritreia, decidiu enviar uma missão à fronteira entre os dois países para verificar os factos”, é referido no documento, que acrescenta que “o presidente da Comissão está ao dispor do Djibuti e da Eritreia para ajudar a normalizar as relações bilaterais e a promover a boa vizinhança”. Também no sábado, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou que a organização recebeu documentos do Djibuti e da Eritreia e garantiu que a Organização das Nações Unidas está a analisar a questão, que considerou “um exemplo das repercussões” da disputa entre o Qatar e a Arábia Saudita.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas debateu ontem a situação à porta fechada.
A retirada dos militares, anunciada na semana passada pelo Qatar, ocorre na sequência da crise entre o pequeno emirado do Golfo e a Arábia Saudita e aliados, que acusam Doha de apoiar o terrorismo islâmico. O Qatar, que rejeita estas acusações, não especificou o número de soldados que integram a sua força de observação implantada na fronteira entre a Eritreia e o Djibuti em 2010.
Apesar de o Djibuti e a Eritreia terem boas relações com a Arábia Saudita e os seus aliados dos Emiratos Árabes Unidos e ficarem ao lado de Riade no conflito com o Qatar, mantêm relações muito distintas com as potências estrangeiras. O Djibuti alberga bases militares francesas e norte-americanas e a China também está a construir a sua base no pequeno território africano. Actualmente, a Eritreia é considerada um Estado desgovernado. Por outro lado, o porto do Djibuti escoa importações e exportações da Etiópia, inimigo regional da Eritreia.
As relações entre os dois países da região do Corno de África agravaram-se em 2008, com confrontos entre as forças armadas dos dois países na Doumeira, território não demarcado no Mar Vermelho.
Em 2010, os dois Estados assinaram um acordo sob os auspícios do Qatar com vista a negociações para resolver a disputa territorial. O Qatar enviou soldados para a área em questão, na sequência de um acordo final entre Djibuti e Asmara.
Depois da Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos, o Bahrein, o Egipto, o Iémen e parte da Líbia romperem relações diplomáticas com o Qatar, por considerarem este último “apoiante de grupos terroristas”.
O Senegal foi o primeiro país da África Subsaariana a fazê-lo, antes de o Chade e a Mauritânia, e por último o Níger. A Somália adoptou uma posição neutra.
As posições destes países africanos, que escolheram apoiar um dos lados ou abster-se do conflito na perspectiva de maximizarem os seus benefícios e eventuais perdas, têm o potencial de dividir o já pouco unido continente africano.
Para evitar males maiores no continente, Alpha Condé, o presidente da Guiné Conacri e em exercício da União Africana, já manifestou publicamente disponibilidade para mediar e procurar, nesta qualidade, “uma solução rápida e pacífica” para a crise diplomática entre o Qatar e os países vizinhos.