O ACNUR estimava, há um ano, que um em cada 113 habitantes do Mundo era refugiado, já que a violência força diariamente centenas de famílias a fugirem em busca de paz para as suas vidas
à imprensa, o novo representante diplomático afirmou que o Estado angolano quer trabalhar para o aprofundamento das relações de amizade e boa vizinhança entre os dois países que partilham uma longa fronteira terrestre e fluvial.
José João Manuel defendeu a procura das melhores vias de entendimento e diálogo para a estabilidade na RDC. “Tudo o que acontece nesse país vizinho tem reflexos no nosso país”, disse, para acrescentar que a sua missão é continuar a aprofundar as relações para encontrar as melhores vias de diálogo e entendimento.
Outra preocupação natural manifestada pela população angolana e organismos de saúde tem a ver com a proliferação de doenças,sobretudo, devido à ocorrência confirmada de casos de Ébola naquele país. É ainda bastante recente a epidemia de Margbug, que teve como epicentro a província do Uíge, também fronteiriça com a RDC, que deixou traumas na população angolana, sobretudo por a região ter estado sitiada por longos meses.
A lembrança dessa catástrofe, que matou milhares de pessoas, leva muitos a olharem com desconfiança para a imigração de refugiados vindos da RDC, sendo que muitos se esquecem ou desconhecem a emigração forçada dos angolanos durante a luta de libertação nacional.
Aproveitamos a ocasião para render homenagem aos Serviços Médicos Militares e à Igreja Católica, em particular, nas pessoas do Bispo Mata Mourisca e do padre Muanamosi Matumona, já falecido, que se mantiveram na frente de luta contra a epidemia, com o auxílio de médicos voluntários estrangeiros, sobretudo portugueses.
Problema mundial
Os números relativos aos refugiados em todo o mundo são, entretanto, chocantes. O ACNUR estimava, há um ano, que um em cada 113 habitantes do Mundo era refugiado, já que a violência força diariamente centenas de famílias a fugirem em busca de paz para as suas vidas. Uma petição deste organismo em 2016 solicitava a garantia de que todas as crianças refugiadas tivessem acesso à educação, que todas as famílias refugiadas tivessem um lugar seguro para viver e que todos os refugiados pudessem trabalhar e adquirir conhecimentos que contribuíssem de forma positiva para as suas comunidades.
Nos dias de hoje, muito por força dos conflitos gerados na última década, os números referentes ao deslocamento forçado ultrapassaram o marco de 60 milhões de pessoas. Os países que se destacam como origem de refugiados são: Síria, com 4,9 milhões de refugiados; Afeganistão, com 2,7 milhões e Somália, com 1,1 milhão. Já os países com maior número de deslocados internos são Colômbia (6,9 milhões), Síria (6,6 milhões) e Iraque (4,4 milhões).
África continua a liderar a lista de refugiados, mas as estatísticas demonstram um crescendo do número de pessoas provenientes de outras regiões. Só no ano passado, de acordo com dados da ONU, 50 por cento dos imigrantes chegados à Europa eram de países não-africanos: Síria (38 por cento) e Afeganistão (12 por cento). Adicionando outros países à conta, como o Paquistão, Iraque e Irão, fica nítido que menos de metade da migração rumo ao continente europeu sai de África.
As migrações com origem na Síria e Afeganistão, sobretudo, são vistas no Ocidente com certa complacência, talvez porque os povos da Europa, principal destino do fluxo migratório com origem nesses países, e dos Estados Unidos, começam a ganhar consciência sobre a verdadeira origem das guerras que grassam em tais territórios e queiram, de alguma forma, alhearse das culpas dos seus governantes.
Na Europa, entretanto, as forças políticas anti-emigração ganham corpo respaldadas, em grande medida, pelas correntes ditas nacionalistas devido à desaceleração da economia mundial, com algumas opiniões radicais a apontarem que a imigração pode acelerar o colapso da ordem social europeia.
A deportação, questão muitas vezes levantada e apontada como solução para o problema da imigração pelas grandes economias, mostrase descabida até do ponto de vista financeiro. Cálculos apontam que os custos de deportação são equivalentes àqueles da ajuda semanal aos imigrantes. Investigações do site “The Migrant Files” apontam que 11 mil milhões de euros foram gastos para repatriar imigrantes para os países de origem – e mais mil milhões em toda a Europa, para custear esforços de protecção de fronteiras. Para o jornal “The Guardian”, esse dinheiro podia muito bem ser utilizado para integrar os imigrantes na sociedade Europeia.
Outro jornal britânico apontava, entretanto, que o número total de imigrantes que chegou à Europa em 2015 – cerca de 200 mil – é tão ínfimo que representa nada mais que 0,027 por cento da população total europeia, de 740 milhões. Dessa forma, o continente mais rico do mundo pode, facilmente, absorver um fluxo tão pequeno, concluiu o jornal.
Medidas concertadas
A situação real dos refugiados em todo o mundo aponta que, mais do que reagir às situações pontuais, quando estas se revelam demasiado graves e atentatórias à condição humana, com as mais diversas violações dos direitos humanos, é preciso uma acção concertada de todos os países do Mundo, para a qual é importante ouvir os organismos internacionais com experiência nos mais diversos cenários.
No caso da RDC, por exemplo, há a indicação de que muitos dos líderes congoleses recorrem, de forma leviana, a antigas declarações deFranz Fanon, segundo as quais “África tinha a forma de um revólver, cujo gatilho se encontrava na RDC”. Aponta-se ainda que tais figuras, por saberem que o seu país faz fronteira com nove estados que temem uma possível instabilidade política ou militar na RDC, encaram com imprudência a deterioração da situação no país, esperando que as outras nações, por medo de serem afectadas, acabem por resolver o problema.
Esta visão radical descabida tem já alguns defensores, pessoas em nada interessadas na solução do conflito e no desenvolvimento da RDC, da região e de todo o continente africano como um conjunto.