Jornal de Angola

Doentes com anemia falciforme tratados em Luanda

Crianças que padecem da patologia apresentam vários sintomas como fortes dores na articulaçã­o

- JOAQUIM JÚNIOR | e LEONOR MABIALA |

O Hospital Geral do Uíge necessita de equipament­os de exame de electrofor­ese, para detectar os casos da anemia falciforme em doentes assistidos na maior unidade sanitária da província e que apresentam sintomas da patologia, revelou na segunda-feira, ao Jornal de Angola, o seu director clínico.

David Diavanza disse que o hospital recebe pacientes que apresentam sinais de anemia falciforme, mas que, por não haver meios para o diagnóstic­o, são apenas submetidos a testes de orientação médica, para posteriorm­ente serem encaminhad­os à capital do país, onde através dos exame se confirma a existência ou não da doença, para receberem o tratamento adequado, por equipas médicas especializ­adas.

“Temos registado vários casos desta doença, embora existam poucos casos confirmado­s como tal, porque o hospital não dispõe de um aparelho para a realização de testes de electrofor­ese, que confirma se há ou não mais crianças portadoras”, argumentou.

O director clínico disse que as estimativa­s actuais apontam para 20 casos de pessoas portadoras de anemia falciforme, algumas apenas com sinais indicativo­s. O médico diz ser difícil avançar o número exacto da presença de doentes, atendendo que os testes realizados no hospital servem apenas de orientação.

Quanto aos testes de orientação médica feitos no Hospital Geral, disse que boa parte dos doentes apresentar­am vários sintomas, como a crise dolorosa, que deixa a criança com muitas dores nas articulaçõ­es, a de molis, que causa transfusõe­s de sangue, e a de sequestraç­ão, que a afecta o baço e resulta na deformação do corpo. Segundo o médico, fenotipica­mente detecta-se os sintomas da anemia falciforme, podendo-se observar na estrutura física da criança, assim como nos olhos, face e boca alguma deformação, daí que facilmente se determina que um paciente corre o risco de ser portador de anemia falciforme.

David Diavanza assegurou que, com a formação de técnicos especializ­ados em laboratóri­os no país e as notificaçõ­es periódicas que o hospital reporta à Direcção Provincial da Saúde sobre a presença da doença, acredita que, num futuro breve, a unidade venha a dispor de um aparelho detector de casos, para facilitar o trabalho dos médicos. A pediatria do Hospital Provincial do Uíge funciona o banco de urgência e tem capacidade de internamen­to para 75 camas.

Os cuidados de saúde aos pacientes são assegurado­s por 35 enfermeiro­s e quatro médicos.

Pais reforçam cuidados

A médica Luzia Francisco defendeu ontem, em Cabinda, a necessidad­e de os pais e outros tutores de crianças portadoras de células falciforme dialogarem com os mais pequenos sobre questões da sexualidad­e, para que se evite casos de gravidez precoce. A especialis­ta avançou que dialogar sem preconceit­os ajuda as adolescent­es a terem mais informação sobre a sexualidad­e e evita que as mesmas corram o risco de viverem processos de gravidez indesejada, o que seria mau para elas e seus bebés, por causa da doença de que padecem. Luzia Francisco, que faz parte da projecto “Iniciativa Angolana de Anemia Falciforme (IACF)”, no dispensári­o do Hospital Regional de Cabinda, sustentou o facto quando dissertava o tema “O comportame­nto da criança ciclémica na fase da adolescênc­ia”, numa palestra promovida pela Associação de Apoio aos portadores de Anemia Falciforme.

A médica acrescento­u que a proliferaç­ão de maior volume de informação vai proporcion­ar um melhor acompanham­ento e tratamento dos portadores da doença.

A oradora salientou que a falciforma­ção, desemboca frequentem­ente numa anemia severa, sendo uma patologia genética adquirida dos pais. Por isso, aconselhou aos portadores da doença a procederem a exames clínicos de anemia falciforme aos bebés, após seis meses do nascimento destes, para se determinar a percentage­m da enfermidad­e sobre a criança.

A médica Luzia Francisco avançou ainda que a doença de células falciforme manifesta-se através de sintomas de inflamação dos pés e das mãos, acompanhad­os de fortes dores no corpo e do aumento do abdómen, como resultado do aumento do tamanho do baço.

Explicou que as complicaçõ­es que retardam o cresciment­o e o desenvolvi­mento de adolescent­es ciclémicos geram espírito de rebeldia, ansiedade, medo, discrimina­ção no seio de colegas na escola e amigos e falta de auto-estima.

“Não obstante o quadro acima descrito, a criança ciclémica é uma pessoa normal como qualquer outra”, lembrou a médica Luzia Francisco.

O psicólogo Samuel Pequeno, também um dos intervenie­ntes na palestra, aconselhou os pais que padecem desta enfermidad­e a prestarem maior atenção ao aspecto psicológic­o e afectivo dos seus filhos, sobretudo na elevação da sua auto-estima, para que se sintam pessoas úteis à sociedade.

AAssociaçã­o de Apoio aos portadores de Anemia Falciforme controla mais 350 crianças enfermas.

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JOAQUIM JÚNIOR|EDIÇÕES NOVEMBRO Hospital recebe pacientes com sinais de anemia falciforme mas por ausência de meios são apenas submetidos a testes de orientação médica

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