Jornal de Angola

Cigarro causa nove por cento das mortes no país

Ministro considera devastador­as as consequênc­ias do consumo do tabaco e exposição ao fumo

- VICTORINO JOAQUIM |

Cerca de nove por cento dos óbitos registados nos últimos anos no país são consequênc­ia do uso do cigarro, revelou ontem, em Luanda, a chefe do Departamen­to de Promoção da Saúde do ministério de tutela, Filomena Wilson.

Deste número, disse Filomena Wilson, cerca de quatro por cento são mulheres. Acrescento­u que quase um milhão de adultos angolanos fumam todos os dias.

Filomena Wilson falava à margem do primeiro encontro de capacitaçã­o dos peritos da região africana na preparação do relatório sobre o controlo do tabagismo.

Apesar destes dados, salientou, Angola é considerad­a pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) como sendo um país de baixa prevalênci­a no consumo de cigarros.

Filomena Wilson lembrou que o uso do tabaco tem sido um factor de risco para a saúde das pessoas, provocando doenças crónicas não transmissí­veis, como hipertensã­o arterial, cardíacas e pulmonares, entre outras.

A ciência continua a provar que o uso de tabaco mata lentamente muitas pessoas, disse Filomena Wilson, acrescenta­ndo que, no momento do uso do tabaco, os consumidor­es ignoram o risco que correm para satisfazer o vício.

Estudos realizados em 2009 pelas autoridade­s sanitárias de Angola, numa das províncias do país, revelaram que 20 por cento dos rapazes e 18 das meninas, dos 13 aos 15 anos de idade fumam, precisou.

“O mais preocupant­e é que estes jovens, para além de fumar, também mascam a folha do tabaco e, por vezes, inalam o pó do tabaco, causando consequênc­ias ainda mais graves à saúde”, acrescento­u a chefe do Departamen­to de Promoção de Saúde.

Apesar das informaçõe­s disponívei­s, disse, o país tem dificuldad­es em calcular exactament­e as consequênc­ias do uso do tabaco.

As dificuldad­es surgem devido a várias preocupaçõ­es a que as autoridade­s angolanas procuram dar resposta imediata, como o combate à malária, a diabetes e a hipertensã­o arterial, entre outras, para evitar a morte de muitos pacientes em estado grave.

Consequênc­ias devastador­as

No discurso de abertura dos trabalhos, o ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, considerou devastador­as as consequênc­ias do uso do tabaco e a exposição ao fumo.

Por este facto, disse Luís Gomes Sambo, a Assembleia Nacional ratificou em Junho de 2007, a convenção da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) que visa o controlo do tabaco e a redução do consumo. Em 2009, acrescento­u, o Conselho de Ministros aprovou o Decreto 43 que proíbe as pessoas de fumarem em locais públicos. “As nossas actividade­s contra o tabagismo têm um carácter multidisci­plinar e contam com o envolvimen­to de actores chaves, como os ministério­s da Justiça, da Educação, das Finanças, do Comércio, do Interior e da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social, além de organizaçõ­es não governamen­tais e demais sectores da sociedade civil.

Apesar da baixa prevalênci­a do tabaco no país, disse Luís Gomes Sambo, o Ministério da Saúde tem consciênci­a da necessidad­e de melhorar-se a produção de dados que permitiam identifica­r a real tendência e monitorar as consequênc­ias do consumo no seio da população. O mais alto responsáve­l do Ministério da Saúde afirmou que o seu pelouro está empenhado na reforma do Sistema Nacional de Saúde, com o objectivo de melhorar as estruturas mais funcionais, capazes de correspond­er às expectativ­as e necessidad­es da população.

O ministro disse que programas de promoção da saúde, como a luta contra o tabagismo, necessitam de um sistema de saúde “resiliente” para produzir resultados “dourados”, em termos de redução de doenças cardíacas, pulmonares e cancro, entre outras associadas ao consumo do tabaco.

Atraso económico

O representa­nte da OMS em Angola, Hernando Agudelo, frisou que o consumo do tabaco não afecta apenas a saúde dos fumadores activos e passivos, mas também provoca um atraso económico e causa danos ao meio ambiente, além do impacto negativo sobre as finanças.O número de mortes, anualmente, causado pelo consumo do tabaco em todo o mundo chega a atingir a cifra de 7,2 milhões de pessoas, 80 por cento das quais nos países de baixo ou médio rendimento.

Na região africana, morrem todos os anos, aproximada­mente, 146 mil adultos com 30 anos de idade ou mais, devido a doenças relacionad­as com o uso do tabaco.

O chefe de equipa para o controlo do tabaco da OMS, Tibor Szilagyi, considerou inédito o encontro e disse que a capacitaçã­o dos peritos africanos vai servir de mecanismo para ajudar os países na apresentaç­ão dos relatórios sobre o controlo do tabagismo.

Tibor Szilagyi salientou que a apresentaç­ão de relatório é um requisito fundamenta­l, “permite que os países se informem mutuamente”, não apenas sobre os seus progressos, mas também sobre dificuldad­es e desafios na implementa­ção da convenção da OMS.

Qualquer apoio a ser dado pela OMS a estes países será com base nas informaçõe­s contidas nos relatórios apresentad­os. “Não podemos prestar ajuda se não soubermos quais são as vossas dificuldad­es e necessidad­es”, acrescento­u Tibor Szilagyi.

Dados recolhidos no local indicam que a Convenção da OMS para o controlo do tabaco é um tratado internacio­nal que entrou em vigor em Fevereiro de 2005, com a finalidade de proteger a saúde pública mundial das devastador­as consequênc­ias derivadas do consumo e da exposição do tabaco. Angola ratificou a Convenção Anti-tabaco em Junho de 2007 e até ao momento implemento­u, como medidas mais relevantes, a interdição de fumar em todos os voos nacionais e internacio­nais.Participam no encontro a Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Libéria, Cabo Verde e a Zâmbia.

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DOMINGOS CADÊNCIA|EDIÇÕES NOVEMBRO Peritos da região africana preparam em Luanda relatório sobre o controlo do tabagismo e os números revelados são preocupant­es

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