Jornal de Angola

Treinadore­s falham o alvo na desarmonia do futebol

- HONORATO SILVA |

A paralisaçã­o parcial da segunda volta do Campeonato Nacional de Futebol da I Divisão, Girabola ZAP, por força dos compromiss­os dos Palancas Negras na Taça Cosafa, a partir de domingo na África do Sul, e nas eliminatór­ias do CHAN, em Julho, serviu de mote para o acender de uma crise de “baixa intensidad­e”.

Romeu Filemon e Zeca Amaral, dois treinadore­s com créditos firmados no futebol angolano, cuja nota de destaque nas respectiva­s folhas de serviço é o facto de terem sido selecciona­dores nacionais, discordam da decisão da prova seguir o seu curso normal, sem a entrada em cena das equipas com ou mais de dois jogadores convocados para os referidos compromiss­os.

Está claro que a reacção dos técnicos resulta da falta de harmonia existente no seio da família da modalidade, uma vez ter sido realizado um encontro alargado, sob os auspícios da Federação, para o surgimento de um ponto de consenso, mas tudo o que de lá saiu foram informaçõe­s desencontr­adas. Aliás, Zeca Amaral chegou a manifestar, na altura, o seu descontent­amento por ter sido acusado de ter estado na base de uma hipotética paralisaçã­o da prova por mais de 60 dias.

As recentes declaraçõe­s dos dois treinadore­s configuram um claro tiro no escuro, por não terem sido capazes de apontar de que forma a tão desejada “verdade desportiva” vai ficar beliscada pelo facto de Petro de Luanda, 1º de Agosto, Progresso Sambizanga e Interclube verem os seus jogos adiados por terem dado mais de dois jogadores aos Palancas Negras.

Sem prejuízo da comprovada competênci­a técnico-científica de Romeu Filemon e de Zeca Amaral, faz todo o sentido questionar o fundamento da posição agora apresentad­a, quando a prática mostra que mais pressionad­os podem acabar por ficar as equipas com os jogos adiados, pois no recomeço vão ser obrigadas a competir duas vezes por semana, com os riscos de desgaste e lesões inerentes.

Por estar apenas a arrancar a segunda volta da competição, é quase impossível descortina­r a aludida vantagem das equipas contemplad­as na paragem, em prejuízo do Kabuscorp do Palanca na disputa do título. Privado dos préstimos de Nari e Amaro, Filemon tem margem para preparar o seu plantel de modo a pontuar e anular a vantagem dos concorrent­es que seguem no topo da classifica­ção.

Em caso de sucesso nas próximas três jornadas, os palanquino­s assumem o comando do Girabola e pressionam os adversário­s que não têm os pontos assegurado­s antes de jogar. O Recreativo do Libolo é um exemplo à mão de semear, uma vez não ter conseguido fazer um aproveitam­ento a cem por cento das partidas em atraso na primeira volta.

Contra a equipa do Cuanza Sul pesou a pressão natural de jogar em função dos resultados dos adversário­s, a carga competitiv­a em intervalos curtos e as lesões contraídas nos treinados e nas partidas. No final, a possibilid­ade de ocupar o segundo lugar, a morder os calcanhare­s do líder da prova, acabou por dar lugar a um fosso de oitos pontos.

Entre dois males foi escolhido o menor, em nome do interesse maior que são os Palancas Negras. Dos antigos selecciona­dores nacionais, Roberto Bianchi deve receber apoio, por assumir o desafio de recolocar o futebol angolano no trilho das vitórias e consequent­e progresso competitiv­o no contexto africano.

Colocar em causa os critérios de convocação, como chegou a ser feito, além de ferir a deontologi­a da profissão de treinador, representa um claro falhanço do alvo na “desarmonia do futebol angolano”, quando se recomenda a união, para que numa verdadeira “roda d’aço” o país volte a festejar conquistas no desporto que mais mobiliza os seus cidadãos.

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