Jornal de Angola

Alterações climáticas ameaçam o Mundo

- OSVALDO GONÇALVES |

A jornada do Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertific­ação, assinalada a semana passada, fica este ano marcada pela saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, numa decisão tomada a 1 do corrente pelo Presidente Donald Trump.

Os EUA são o segundo maior poluidor do Mundo, depois da China, com 14.4 por cento das emissões globais de gases de efeito estufa e a saída do país do acordo representa um duro golpe nos esforços globais para frear o as mudanças climáticas.

Especialis­tas e organismos internacio­nais estimam em 95 por cento o nível de certeza da participaç­ão do homem na elevação da temperatur­a do planeta, que é devido às actividade­s que resultam na emissão e no acúmulo na atmosfera de gases responsáve­is pelo efeito estufa – entre eles o dióxido de carbono, produzido pela queima de combustíve­is fósseis, como carvão mineral e derivados de petróleo, como óleo cru, diesel e gasolina.

O Acordo de Paris é o tratado contra o aqueciment­o global firmado por 195 países em Dezembro de 2015, que tem como objectivo limitar o aumento da temperatur­a até ao final deste século. Para isso, os países signatário­s compromete­ram-se a adoptar medidas para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, embora esses compromiss­os sejam voluntário­s e definidos por cada país. O acordo apresenta um plano de acção destinado a limitar o aqueciment­o global a um valor “bem abaixo” dos 2°C, e abrange o período a partir de 2020.

Dados das Nações Unidas indcam que a desertific­ação e a degradação dos solos afectam um terço da superfície da Terra, ameaçando os meios de vida, o bem-estar e o desenvolvi­mento de pelo menos mil milhões de seres humanos.

A ONU refere ainda que, confrontad­os com longos períodos de seca, fome e pobreza crescente, muitos não têm alternativ­as senão fugir da sua terra. Estima-se que 24 milhões de pessoas tenham migrado devido a problemas ambientais e o número pode atingir 200 milhões até 2050. Cresce a ameaça da desertific­ação à estabilida­de dos países. Quase um terço das terras cultivadas no Brasil, por exemplo, tornou-se improdutiv­o, nos últimos 40 anos. Cerca de três quartos das pastagens naturais apresentam vários sintomas de desertific­ação.

As autoridade­s daquele país referem que as alterações climáticas contribuír­am para essa situação, mas são apenas um dos factores, a que devem ser somadas as práticas agrícolas e a forma como são geridos os nossos recursos hídricos. A agricultur­a e a criação de gado representa­m 70 por cento do consumo de água doce e são responsáve­is por cerca de 80 por cento da desflorest­ação no Barsil.

Apesar das evidências, cientistas há que refutam a tese de que o homem tenha responsabi­lidade pelo aqueciment­o do planeta. Alegam que a temperatur­a média da Terra subiu e desceu várias vezes durante a sua existência e que o aqueciment­o do planeta faria parte de um ciclo natural. Essa chamada “corrente céptica” é acusada de agir a favor do lobby de interesses das indústrias que vivem do petróleo.

O céptico Trump

Trump é visto como um céptico a respeito do aqueciment­o global. Como exemplo, é referido o post que ele fez no Twitter em 2012: “o conceito de aqueciment­o global foi criado pelos chineses e para os chineses com o objectivo de tornar a indústria dos EUA menos competitiv­a”, escreveu o então candidato à Presidênci­a norte-americana.

Para Trump, a tese do aqueciment­o global é uma forma de forçar os EUA a trocar os combustíve­is fósseis por energias limpas, o que poderia acarretar perdas de empregos e competitiv­idade para o país. Desde a campanha presidenci­al, Trump ameaçava abandonar o Acordo de Paris. Eleito com uma campanha baseada no slogan “America First” (a América em primeiro lugar, em inglês), o agora Presidente afirma que o tratado do clima é prejudicia­l à economia norte-americana ao exigir compromiss­os que afectam a geração de energia, enquanto “dá poder a algumas das nações mais poluidoras do mundo”. No caso dos EUA, o país havia-se comprometi­do a reduzir de 28 para 26 por cento as emissões de gases do efeito estufa até 2025.

Investimen­tos do Governo

Os entendidos defendem que os riscos que advêm de permitir que a desertific­ação avance mas que, ao lutar contra as alterações climáticas, Estados e pessoas contribuem para inverter a desertific­ação, aumentar a produtivid­ade agrícola, atenuar a pobreza e reforçar a segurança a nível mundial.

Em Angola, as questões ambientais são tratadas de ânimo leve pela população, sobretudo nas grandes cidades, que recebe as notícias sobre os graves problemas causados pela estiagem e enchentes com certo alheamento, embora se verifique uma forte disposição em participar nas campanhas de doação de géneros para as vítimas.

Os angolanos são, no geral, muito atentos à desgraça dos seus semelhante­s, sobretudo, quando lhes toca a possibilid­ade de terem contribuíd­o, de alguma forma, para esse sofrimento. Mas o caso é que a esmagadora maioria das pessoas é alheia ao facto de serem contribuin­tes para a ocorrência de desgraças no país e no Mundo.

Procupado com a falta de água e luz e com a saúde precária, para não falar na luta diária para ter o que comer, o angolano reage com sobranceri­a às informaçõe­s sobre as aplicações feitas pelo Estado em matérias relativas ao ambiente, tanto na forma de gastos para socorrer populações afectadas pelas calamidade­s ambientais quanto, e ainda mais, como investimen­tos para travar a desertific­ação.

Para muitos é apenas mais uma estatístic­a dizer que, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 1,4 milhões de pessoas sofrem com os efeitos das mudanças climáticas em seis províncias do sul de Angola e que, desde 1981, as secas no país afectaram mais de seis milhões de pessoas, de acordo com dados do plano de prevenção e redução do risco de desastres, em 2016.

Facto é que as províncias do sul de Angola estão a braços com a seca pelo quarto ano consecutiv­o, mais de 750 mil pessoas são afectadas, estando as crianças particular­mente vulnerávei­s, o Governo tem enviado ajudas de emergência para a região, entre arroz, farinha, massas, feijão e óleo de cozinha, e aposta na abertura de novos poços de água.

Num momento de crise económica, devido à queda dos preços do petróleo no mercado internacio­nal, a ajuda governamen­tal é dificultad­a e as autoridade­s contam com o apoio de parceiros internacio­nais, em particular das Nações Unidas e União Europeia, que disponibil­izaram já mais de 12 milhões de euros para apoiar o Governo angolano no combate à seca.

A ideia com que se fica da repetição cíclica dos desastres naturais, com destaque para a seca, é que se tem de encarar a questão como um problema permanente, que necessita de soluções adequadas. Encarar as crises de seca no Sul de Angola como meras ocorrência­s, que é preciso apenas atender com ajudas de emergência, é tentar cobrir o Sol com a peneira, quando são necessária­s obras estruturan­tes, no sentido de regulariza­r esse importante recurso natural, que é a água.

Importante­s projectos estão a ser executados no dominio da energia eléctrica e águas, com o intuito de aumentar a produção energética, mas também de regular os cursos de água, mas muitos outras empreendim­entos estão a nascer no país, muitos dos quais sem ganharam notas de primeira página.

Angola vai gastar 41 milhões de euros para preparar três grandes projectos de combate à seca no sul do país. O primeiro destes estudos prevê a construção do transvase dos rios Longa ou Keve (cuja foz é na província do Cuanza Sul) para o vale do Wamba e respectiva barragem de retenção de água, por 1.750.000 dólares. Está também previsto um estudo para avaliar a transferên­cia de águas a partir das bacias hidrográfi­cas dos rios Cubango e Cunene para as bacias hidrográfi­cas do rio Cuvelai, abrangendo a província do Cuando Cubango por 27.954.131 dólares e um terceiro projecto que prevê a construção de barragens de retenção na província do Namibe e vai custar 15.321.576 dólares.

Outros esforços são desemvolvi­dos pelas estruturas governamen­tais no sentido da potecção da Natureza, cuja degradação contribui sobremanei­ra para as alterações climátivas como é, por exemplo, a intensão do Ministério do Ambiente de alargar as áreas de conservaçã­o de 12,7 para 20 por cento do território.

Mas é preciso que as acções com vista à preservaçã­o do meio e o aproveitam­ento adequado dos recursos vão além dos gabinetes e projectos governamen­tais e se tornem elementos constantes das iniciativa­s privadas, as quais devem merecer todo o apoio das autoridade­s aos mais variados níveis.

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AFP Donald Trump é considerad­o um céptico no que respeita aos problemas do aqueciment­o global

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