Tributo da Trienal à Banda Maravilha
Sequência do ciclo de homenagens da III Trienal de Luanda reconhece importância e prestígio do conjunto da obra de uma das formações mais importantes da contemporaneidade musical angolana
A Banda Maravilha,uma das formações musicais mais importantes da contemporaneidade musical angolana, mereceu um simbólico tributo pelo prestígio do conjunto da sua obra, no âmbito do ciclo de homenagens da III Trienal de Luanda, um projecto que visa a valorização e enaltecimento dos protagonistas da história da Música Popular Angolana.
A Banda Maravilha surgiu do encontro de conceituados instrumentistas, do panorama musical luandense, que se encontravam dispersos na sequência da eclosão da guerra em 1992. Fundada em 1993, é uma das herdeiras mais próximas do conjunto os “Merengues”, assumindo uma malha eclética de sonoridades onde ressoam, na sua mais profunda composição, a influência dos grupos de carnaval, incluindo a absorção das experiências rítmicas do conjunto Ngola Ritmos.
Considerada uma das formações musicais mais profissionais da actualidade, os seus membros transformaram-se em arautos de uma vertente muito peculiar do semba, prolongando um exercício que conjuga uma base rítmica, inconfundivelmente angolana, aliada a uma forma moderna de conviver com o baixo eléctrico, teclado e bateria, instrumentos de certa forma estranhos à estrutura tradicional do semba.
Excelente banda de acompanhamento, a Banda Maravilha interpreta, com reconhecida propriedade e criatividade, géneros canónicos da música internacional, e explora diversas matizes do semba cadenciado, olhando, com acuidade e inovação, o que de melhor regista o passado musical angolano. Tudo começou em 1993, com Carlitos Vieira Dias, guitarra solo, Moreira Filho, guitarra ritmo, Joãozinho Morgado, tumbas, e Kinito Trindade, falecido, no baixo, a primeira selecção de músicos, residentes, do Restaurante Tambarino, em Luanda, formação que viria a dar corpo a actual Banda Maravilha. Na ausên- cia de Moreira Filho e Joãozinho Morgado, integrados num projecto de caridade no Brasil, entraram, em substituição, a guitarra de Botto Trindade e a bateria de Marito Furtado. Em Abril do mesmo ano, o grupo fez parte da equipa do programa “Gentes e Tons”, da Televisão Pública de Angola, apresentado por André Mingas, com Moreira Filho, baixo, Rufino Cipriano, teclas, Marito Furtado, bateria, e Joãzinho Morgado, tumbas. Daí foram as sucessivas temporadas nos Restaurantes “Tambarino”, “Morabeza”, sem Joãozinho Morgado, “Contencioso” e “Xavarotti”, importantes momentos que contribuíram para a coesão da Banda Maravilha, uma marca distintiva do grupo, ao longo da sua existência.
A Banda Maravilha participou em vários certames internacionais, com destaque para o Festival da Juventude (Líbia, 1983), Festival de Jazz na Finlândia, 1984, Festival Kizomba, 1987, Brasil, ExpoSevilha, 1992, e Expo-Lisboa, 1998.
Moreira Filho
Joaquim Augusto Moreira Filho nasceu no dia 2 de Julho de 1955, em Luanda, e começou a sua carreira musical, no princípio dos anos setenta, em Ndalatando, KwanzaNorte, no “My dreams” e “The pop kings”, duas formações pop-rok, denominados “conjuntos de música moderna”, como guitarrista. Em 1977, Moreira Filho integra os Negoleiros do Ritmo, como baterista, e, curiosamente, passa efectivamente a tocar baixo quando, numa certa ocasião, teve que substituir o baixista Caetano Neto, que então se ausentara. Desde esta data, nunca mais deixou a execução do baixo, sendo substituído, na execução da bateria, nos Negoleiros, por Juventino Arcanjo dos Kiezos.
Marito Furtado
Aberto às várias tendências e estilos da música internacional, Marito Furtado entende a música na sua constante evolução e mobilidade. Mário José Furtado Correia da Cruz nasceu no dia 3 de Abril de 1964, em Luanda, e está, por mérito próprio, na vanguarda dos
Fundada em 1993, é uma das herdeiras mais próximas do conjunto os “Merengues”, assumindo uma malha eclética de sonoridades onde ressoam a influência dos grupos de carnaval
bateristas angolanos. Marito pertence a uma dinastia familiar de bateristas, onde avultam nomes como Rui Furtado, seu irmão e antigo baterista do Semba Tropical, e Hélio Furtado, seu sobrinho, um nome incontornável da actual bateria angolana. Marito Furtado começou a sua peregrinação musical no “Nona Cadência”, (1985), passou, no mesmo ano, na Banda Zimbo, como percussionista, e amadureceu, como baterista, convidado pelo baixista Kinito Trindade, na “Banda Madizeza”(1987).
Miqueias Ramiro
Miqueias Tomé Ramiro nasceu no dia 2 de Agosto de 1976 e começou a sua carreira na “Banda Carinhosa”, 1995, formação que tinha como principal vocal o cantor e compositor,Dionísio Rocha. Fez parte da “Banda Fusão” (1997), e aprendeu piano na igreja, tendo como tutores o seu pai e um irmão mais velho, embora no início tacteava o teclado vendo, ouvindo e refazendo. Promissor, enquanto instrumentista, Miqueias tem vindo a consolidar uma notável carreira musical, facto que se depreende pela sua actual prestação na “Banda Maravilha”.
Isaú Baptista
Isaú Aires de Morais Baptista, o músico mais jovem da Banda Maravilha, nasceu no dia 8 de Julho de 1985, em Luanda, e passou a integrar a Banda Maravilha, por mérito próprio, em Janeiro de 2008. Músico aberto a inovações, começou com os The Power’s (2004), uma banda de reggae, como guitarrista solo, e participou no concurso Estrelas ao Palco (2205), ao lado do cantor lírico, Emanuel Mendes. Integrou, como free lancer, várias formaçõers musicais de duração efémera, com jovens com os quais se identificava musicalmente, um dos quais o cantor Kanda, com quem chegou a formar, em 2006, um Duo, referenciado, positivamente, pela crítica.Formado em violão clássico, pelo Instituto de Formação Artística (INFA), onde foi aluno do professor angolano, Faustino Kikakuisa, e do cubano, Dominique. Isaú Baptista trabalhou, em várias ocasiões, com o conceituado pianista angolano, Nino Jazz. Isaú Baptista veio reforçar secção das guitarras da Banda Maravilha, numa altura em que Pirica se ausentou, na sequência de um trágico, e incompreensível acidente.
Concerto
No concerto de homenagem, a Banda Maravilha interpretou os temas, “Nguitabulê” , “Catorze chuvas”, “Volta por cima”, “Banda maravilha”, “Mana Bessangana”, “Monami”, “Caim”, “Xicola”, “Viola”, “Soba, Soba”, “Rebita”, e “Kapopola”,com Moreira Filho, voz e viola baixo, Marito Furtado, bateria, Miqueias Ramiro, teclado, Isaú Baptista, viola solo, Divaldo Fica, percussão, e Djanira Mercedes na voz.