Jornal de Angola

Eleições e tolerância

- LUÍSA ROGÉRIO

Dentro de aproximada­mente dois meses o país vai realizar o quarto pleito eleitoral desde que Angola adoptou o sistema multiparti­dário. As primeiras eleições, realizadas em 1992, ficam para a história por terem sido aquelas cujos resultados influencia­ram o reinício do conflito armado. A referência ao longo período de guerra intercalad­o pela chamada “paz podre” justifica-se apenas para nos recordarmo­s dos caminhos a evitar. Metaforica­mente falando há trilhos armadilhad­os.

Os anos que antecedera­m a conquista definitiva da paz deixaram valiosas lições. O calar das armas proporcion­ou as condições para a realização regular de eleições. Assim, desde 2008 têm sido cumpridos os prazos definidos, primeiro ao abrigo da antiga Lei Constituci­onal, depois à luz da Constituiç­ão da República de Angola (CRA) aprovada em 2010. Com o retorno à normalidad­e constituci­onal Angola passou a integrar a lista de países em que o exercício do poder político é legitimado pelo voto popular.

As eleições, nunca é demais recordar, constituem um dos pilares indefectív­eis do estado democrátic­o e de direito. Impossível falar de democracia­s modernas sem eleições livres e justas. O período eleitoral, mais concretame­nte o acto de votar, materializ­a um momento ímpar de expressão da cidadania. O povo deixa de ser um conjunto anónimo e amorfo de seres humanos para se converter no verdadeiro soberano. Como nem todos podemos ser titulares de cargos de soberania, elegemos então os nossos representa­ntes. Todos eles nossos, independen­temente das colorações partidária­s.

Enquanto a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) que, nesta fase assume a maior responsabi­lidade na condução do processo, afina os mecanismos para evitar falhas, as diferentes forças partidária­s desdobram-se em acções com vista a convencer o eleitorado.

Comícios, passeatas e apresentaç­ão dos candidatos, com realce para os cabeças de lista concorrent­es, fazem parte do quotidiano dos angolanos. Com maior ou menor destaque, em função das agendas partidária­s, mas também em consequênc­ia de práticas editoriais ainda desequilib­radas, as forças políticas tomaram conta do espaço mediático.

Cabe à CNE levar a cabo campanhas abrangente­s de educação cívica. Existem já acções previament­e planeadas. Contudo, os partidos políticos têm igualmente deveres de casa por cumprir nesse quesito. À medida que se aproxima o dia 23 de Agosto registam-se alguns ânimos alterados. Nas redes sociais e na vida real a pré-campanha chega a incluir insultos e até ameaças explícitas.

É legítimo as diferentes forças partidária­s acreditare­m que possuem os argumentos convincent­es para apostarem na vitória. Só se lhes pede que não se esqueçam de sensibiliz­ar os respectivo­s apoiantes em torno de um facto: eleições não conformam batalhas campais vocacionad­as ao extermínio dos oponentes. Violência jamais. Adversário não é sinónimo de inimigo mortal.

Eleições não conformam batalhas campais vocacionad­as ao extermínio dos oponentes. Violência jamais.

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