Temer denunciado por corrupção
Sondagem revela que Lula da Silva é o favorito na corrida às presidenciais do próximo ano numa altura em que o Chefe de Estado brasileiro corre sérios riscos de ser retirado do cargo um ano depois de derrubar a sua antecessora Dilma Roussef
O procurador-geral do Brasil apresentou na noite de segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal uma denúncia contra o Presidente Michel Temer e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) pelo crime de corrupção passiva.
Michel Temer é o primeiro Presidente brasileiro no cargo a ser denunciado por um crime comum.
O processo só é instaurado se dois terços da Câmara dos Deputados (câmara baixa parlamentar), ou seja, 342 dos 513 parlamentares daquela casa, aceitarem a abertura do processo e a maioria dos onze juízes do Supremo Tribunal Federal votarem favoravelmente a denúncia.
A acusação enviada ao Supremo Tribunal Federal baseia-se em investigações iniciadas em Maio a partir das denúncias dos executivos da empresa JBS, que firmaram um acordo com os investigadores da Operação Lava Jato para denunciar crimes cometidos em nome da companhia em troca de perdão judicial. Na denúncia, o procurador diz que “entre os meses de Março a Abril de 2017, com vontade livre e consciente, o Presidente da República, Michel Miguel Temer Lulia, valendo-se da sua condição de chefe do poder executivo e liderança política nacional, recebeu para si, em unidade de desígnios e por intermédio de Rodrigo Santos Da Rocha Loures, vantagem indevida de 500 mil reais (135,6 mil euros)”. “[O suborno] foi feito por Joesley Mendonça Batista, presidente da sociedade empresária J&F Investimentos [holding que controla a JBS] e o pagamento foi realizado pelo executivo da J&F Ricardo Saud”, lê-se na denúncia.
Executivos da JBS que colaboram com a Justiça brasileira disseram em depoimento que o Presidente brasileiro e os seus principais aliados políticos receberam suborno da companhia em troca de favores junto a órgãos públicos. Michel Temer foi alegadamente gravado numa conversa comprometedora para entrega de subornos por um dos donos da JBS, o empresário Joesley Batista, na qual ele supostamente autoriza o pagamento para o antigo deputado Eduardo Cunha, político que está preso desde o ano passado por envolvimentos nos crimes de corrupção cometidos na estatal petrolífera Petrobras.
Já Rodrigo Rocha Loures foi gravado pela Polícia federal ao receber uma mala de dinheiro com os 500 mil reais citados na denúncia, que foram entregues pela JBS.
O político brasileiro perdeu o cargo de deputado, que ocupava na condição de interino, e actualmente está preso.
O Procurador-Geral da República do Brasil também destacou na acusação que o Presidente Michel Temer e o antigo deputado aceitaram, em “comunhão de esforços” e “unidade de desígnios, com vontade livre e consciente” promessa de “vantagem indevida no montante de 38 milhões de reais (10,3 milhões de euros)”.
O dinheiro foi prometido pelo empresário brasileiro Joesley Batista a Rodrigo Rocha Loures em troca de uma decisão favorável à sua empresa junto ao Conselho Administrativo de Defesa Económica (Cade) numa disputa contra a Petrobras sobre comercialização de gás.
Luta pela sobrevivência
Michel Temer sempre ocupou os bastidores do poder, até derrubar Dilma Rousseff da Presidência do Brasil há pouco mais de um ano. Desde então, nada saiu como esse estrategista veterano calculou, e sua luta pela sobrevivência política tem sido constante. O último revés a Michel Temer veio quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o denunciou formalmente por corrupção, deixando-o à beira do abismo.
O seu governo está na corda bamba desde que o jornal “O Globo” revelou, em 17 de Maio, uma comprometedora gravação de uma conversa com o empresário Joesley Batista em que parece dar seu aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Milhares de brasileiros têm saído às ruas para reivindicar sua saída enquanto cerca de vinte pedidos de impeachment se somam no Congresso.
O PSDB, crucial para que Temer consiga governar, já cogita o fim da aliança.
Temer conseguiu ganhar tempo e sobreviveu ao julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, que decidiu por uma apertada maioria não anular a sua candidatura nas eleições de 2014.
Entretanto, ainda há muitas frentes abertas. O antigo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida presidencial do Brasil em 2018 com 29 a 30 por cento da preferência dos eleitores, segundo uma pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Datafolha. A sondagem indica que a ambientalista Marina Silva,
Michel Temer sempre ocupou os bastidores do poder até derrubar Dilma Roussef da Presidência do Brasil. Desde então, nada saiu como calculou e a sua luta pela sobrevivência tem sido constante
juntamente com o deputado federal de extrema-direita Jair Bolsonaro, disputam o segundo lugar na preferência dos eleitores, oscilando entre 13 e 15 por cento nos cenários em que Lula da Silva é citado.
Outro nome que aparece na pesquisa é o do antigo presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que recolhe 10 a 11 por cento das preferências.
Se Lula da Silva não se candidatar para as presidenciais de 2018, Marina lidera o cenário, com 22 por cento. Bolsonaro aparece em seguida, com 16 por cento, antes de Joaquim Barbosa, com 12 ou 13 por cento.
Apesar de ter declarado publicamente que está pronto para concorrer, a participação de Lula da Silva no escrutínio não é certa porque ele é arguido em diversos processos da Lava Jacto, uma operação policial que investiga crimes de corrupção cometidos na Petrobras e noutros órgãos públicos do Brasil. Imprensa internacional A denúncia por corrupção passiva da Procuradoria Geral brasileira contra o Presidente brasileiro Michel Temer ganhou ontem destaque nos jornais internacionais.
O francês “Le Monde” destacou ontem que, horas antes da denúncia, “Michel Temer parecia falar à justiça” ao fazer um discurso em que afirmava que “nada nos destruirá.” Denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria Geral da República do Brasil contra o Presidente Michel Temer ganhou ontem destaque nos jornais internacionais
“Segunda-feira, 26 de junho, o Presidente entrou na história do Brasil como o primeiro Chefe de Estado em exercício a ser denunciado por um crime comum. Uma vergonha que pode causar a sua destituição menos de um ano depois da sua antecessora, a antiga Presidente Dilma Rousseff”, escreve o jornal.
O italiano “La Repubblica” destacou que o ‘peemedebista’ Michel Temer foi “formalmente acusado de corrupção.” “Absolvido há apenas duas semanas da acusação de receber contribuições ilegais durante a campanha eleitoral de 2014, quando se candidatou com Dilma Rousseff para guiar o país, ele foi formalmente acusado de corrupção passiva, com o agravante das suas funções de 'Presidente da República’.”
Já o jornal “The Guardian” explicou aos leitores britânicos o caso em que o presidente é acusado e a delação feita por Joesley Batista, dono da JBS, e afirmou que esse é um “duro golpe para um líder impopular e para a estabilidade política do maior país da América Latina”.