Jornal de Angola

BRASIL

Chefe de Estado brasileiro rejeita a acusação de corrupção apresentad­a pela PGR e afirma que a denúncia é “ficção”

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Presidente Temer considera ficção a denúncia de corrupção

O Presidente do Brasil, Michel Temer, rejeitou na terça-feira a possibilid­ade de deixar o cargo, apesar da denúncia de corrupção contra si, apresentad­a na segundafei­ra no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral, Rodrigo Janot.

Na primeira declaração ao país para reagir às acusações, Temer disse que a denúncia de corrupção contra si é “uma ficção” movida por interesses que pretendem “paralisar o país.”

“A denúncia é uma ficção. Volto a sustentar que devo estas explicaçõe­s e a dizer que tentaram imputar contra mim um acto criminoso, mas isto foi feito exactament­e por alguém que deveria estar na cadeia e está solto para voar à Nova Iorque ou Pequim”, disse o Chefe de Estado, numa referência a Joesley Batista, dono da empresa JBS, que o delatou à Justiça.

Na curta declaração no Palácio do Planalto, o presidente disse que vê as acusações atribuídas a ele como “uma infâmia de natureza política”, sem “fundamento jurídico.” “Querem parar o país, parar o congresso”, disse Temer. “Atingem a Presidênci­a da República. Não é uma coisa qualquer”, acrescento­u para concluir que não tem intenção de fugir das “batalhas e nem das guerras que tem pela frente.”

Temer tornou-se na segunda-feira o primeiro presidente em exercício da história do Brasil denunciado por um crime comum, numa nova etapa da crise política que há pouco mais de um ano levou o Senado a destituir a Presidente Dilma Rousseff, acusada de manipular contas públicas nas chamadas “pedaladas fiscais.” O procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, denunciou Temer por crime de corrupção passiva por ter recebido, por intermédio do ex-deputado e assessor Rodrigo da Rocha Loures, luvas no valor de 500 mil reais de Joesley Batista, um dos donos da gigante da proteína animal JBS.

Janot afirma que o dinheiro era destinado a Temer, mas este último diz que a denúncia se baseia em ilações para justificar um generoso acordo de delação premiada, que os donos da JBS assinaram com a Justiça para atenuar as suas penas.

“Onde estão as provas concretas de recebiment­o destes valores? Não existem. Examinando a denúncia, percebo que reinventar­am o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação”, reagiu o presidente no seu pronunciam­ento.

Denúncia pública

Após as declaraçõe­s de Temer, o Ministério Público emitiu um comunicado para esclarecer que a denúncia apresentad­a por Janot “é pública e baseada em elementos bastante de prova”, como relatórios da Polícia Federal, documentos, gravações e imagens “que não deixam dúvidas quanto ao material e à autoria do crime de corrupção passiva.” Para que a denúncia chegue a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dois terços dos deputados (342 dos 513) devem validá-la, algo que agora parece improvável devido à imensa maioria que o Governo tem, além das dezenas de deputados citados ou investigad­os em casos de corrupção.

O presidente conseguiu manter até agora do seu lado o seu principal aliado, o PSDB, mesmo depois de o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso (19952002) declarar na segundafei­ra que Temer realizaria um acto de grandeza se renunciass­e e convocasse eleições antecipada­s.

Se o caso for para o STF, Temer será suspenso do cargo por até 180 dias à espera da sentença dos juízes supremos. Se for declarado culpado, o congresso deverá eleger um novo presidente no prazo de 30 dias para completar o mandato até ao final de 2018.

Reformas e bolsa de valores

A classe empresaria­l brasileira e analistas reagiram sem surpresas à denúncia da Procurador­ia Geral contra o Chefe de Estado e defenderam reformas para os próximos tempos. “Era uma denúncia esperada. Outras provavelme­nte virão. É grave para o presidente e para a política, mas não muda o cenário de que Temer, ainda debilitado, possa obter na Câmara o número de votos suficiente­s para bloquear”, considerou o analista Ricardo Ribeiro, da MCM Consultore­s. Uma hora antes do encerramen­to, a Bolsa de São Paulo recuava 0,83 por cento e o dólar era negociado a 3,22 reais contra 3,302 na segunda-feira à noite.

Se o caso for para o STF, Temer poderá ser suspenso por até 180 dias à espera da sentença. Se for declarado culpado, o Congresso deverá eleger um novo Presidente no prazo de 30 dias.

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AFP/EVARISTO SA Presidente acusa o procurador geral da República de o tentar tirar do poder sem provas

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