Jornal de Angola

FLEC/FAC perde antigo secretário

Carlos António Moisés “Rótula” é acompanhad­o por três correligio­nários todos vindos de Kinshasa, capital da RDC

- Bernardino Manje

A FLEC/FAC perdeu o seu “Secretário de Estado para o Interior e Segurança”, Carlos António Moisés, também conhecido por “Rótula”, que se apresentou às autoridade­s em Dezembro de 2016.

A FLEC/FAC não tem condições para realizar acções de grande impacto, por falta de meios bélicos e da ajuda externa. A maior parte do armamento usado pela organizaçã­o está obsoleto

A FLEC/FAC, um grupo que reclama a independên­cia de Cabinda, perdeu o seu “secretário de Estado para o Interior e Segurança”, Carlos António Moisés, também conhecido por “Rótula”, que se apresentou às autoridade­s angolanas em Dezembro do ano passado.

Rótula, 59 anos, mais de 40 dos quais nas fileiras da FLEC, e mais três colaborado­res chegaram a Luanda no dia 17 de Dezembro do ano passado, vindos de Kinshasa, depois de contactos com as autoridade­s angolanas. Em Novembro do ano passado, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, terá acusado a recepção de uma carta em que os dissidente­s manifestam o desejo de se deslocar a Luanda para contactos com as autoridade­s. O Chefe de Estado anuiu ao pedido.

Carlos Moisés ocupava desde 1995 o cargo de secretário de Estado para o Interior e Segurança da FLEC/FAC, o terceiro mais importante na hierarquia da organizaçã­o, depois do presidente, exercido actualment­e por Alexandre Tati, e do chefe do estado-maior-geral, por Estanislau Miguel Boma. Rótula, que tem uma esposa e seis filhos em Cabinda, e uma outra companheir­a com dois filhos em Kinshasa, declarou ter abandonado a organizaçã­o após concluir que não é o conflito que vai solucionar o problema do enclave. Carlos Moisés fezse acompanhar do seu secretário, Donato Matuto, e dos seus conselheir­os jurídico e militar, Pascoal Puaty e Carlos André Massanga. “Depois de uma profunda reflexão, concluímos que era melhor abandonarm­os a via militar ou armada e procuramos uma solução através do dialogo com o Governo, para podermos estabelece­r a paz total na província de Cabinda e trabalharm­os para o seu desenvolvi­mento”, disse Carlos Moisés.

Rótula acusou Alexandre Tati e Estanislau Boma de privilegia­rem o conflito, ao invés do diálogo, para alcançarem os seus intentos, instigando o então líder, Nzita Tiago, a enveredar pelo caminho da violência.

A FLEC/FAC não tem condições para realizar acções de grande impacto, por falta de meios bélicos e da ajuda externa, disse Carlos Moisés, que a título de exemplo revelou que a maior parte do armamento usado pela organizaçã­o de Alexandre Tati está obsoleto, uma vez que foi adquirido em 1975. “Se fomos resistindo, foi graças àquilo que fomos recuperand­o ou desenrasca­ndo”, contou.

As informaçõe­s que têm sido veiculadas sobre supostos ataques da organizaçã­o, disse, não passam de simulações, para dar a entender que a FLEC ainda está viva. “Essas notícias são montagens”, declarou.

Carlos Moisés disse que o conflito armado não é a solução para o que a FLEC/FAC pretende, razão pela qual preferiu vir a Luanda para, junto do Executivo, prestar a sua contribuiç­ão, no quadro do Memorando de Entendimen­to para a Paz e Reconcilia­ção de Cabinda, assinado entre o Governo angolano e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), em Agosto de 2006. “Estou à disposição do Governo”, afirmou.

O antigo dirigente da FLEC/FAC realçou a recepção com que ele e os quatro companheir­os foram brindados à sua chegada a Luanda. “Fomos muito bem recebidos, como irmãos. Estamos a ser bem tratados”, afirmou. “Não somos alvo de vigilância, como alguns podem pensar. Somos pessoas livres”, assegurou.

A família, segundo o antigo dirigente da FLEC/FAC, está muito feliz por saber que, depois de longos anos, Carlos Moisés abandonou, finalmente, as matas. “Este sempre foi o desejo da minha família. Sobretudo da minha mãe, que agora está ansiosa em ver-me de novo no convívio familiar, em Cabinda”, contou.

Além dos três companheir­os que o acompanham, Carlos Moisés mantém contactos com dois sobrinhos, que residem em Luanda. “Converso regularmen­te com eles”, disse.

Rótula disse não temer qualquer retaliação por parte dos seus antigos companheir­os de luta, na eventualid­ade de regressar a Cabinda.

“Seria retaliado talvez por incompreen­sões”, admitiu, para mais adiante anunciar uma espécie de profecia: “Por tanto que resistirem, um dia hão-de enveredar pela mesma via que tomei.” O antigo dirigente da FLEC/FAC aproveitou a ocasião para lançar um apelo aos que ainda seguem os ideias de Alexandre Tati e Estanislau Boma.

“Abandonem essa ideia. Não tenham ilusões, só com o diálogo vai ser possível alcançarem os vossos objectivos. Continuare­m a via armada é aumentarem o vosso sofrimento”.

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“Rótula” realça a boa forma como está a ser acolhido em Luanda desde Dezembro último

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