Jornal de Angola

Serviços públicos presentes e actuantes

O Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) desenvolve desde 1999 o programa de valorizaçã­o do serviço público que, só em 2016, beneficiou 8.273 funcionári­os públicos e agentes administra­tivos, nos encontros de sensibiliz­aç

- Osvaldo Gonçalves |

DESTAQUE 6-7

Uma abordagem nossa sobre o serviço público corre sempre o risco de ser entendida como um exercício para enaltecer a importânci­a das instituiçõ­es do Estado no funcioname­nto das sociedades e na defesa do bemestar dos cidadãos. A verdade é que não há país que sobreviva sem um bom funcionali­smo público, mesmo que a tendência seja para sobrevalor­izar a iniciativa privada.

Em Angola, a maioria defende uma afirmação cada vez maior do sector privado, sobretudo porque, reconhecid­amente, o Estado não pode chegar a todos os locais e ter todos os serviços. Existem casos que só um espírito verdadeira­mente empresaria­l é capaz de desenvolvê-las com a quantidade e qualidade requeridas pelo público.

Mas, pelas caracterís­ticas e seu passado histórico – longínquo e recente – o país precisa de uma Função Pública forte, presente e actuante, assim como se defende uma maior responsabi­lização do sector público.

No ano 2000, a Assembleia Geral das Nações Unidas estabelece­u o 26 de Junho como Dia Mundial do Serviço Público, com a finalidade de enaltecer o valor deste sector na sociedade, através do reconhecim­ento de todo o trabalho realizado pelos funcionári­os público.

Devido, sobretudo, à crise económica causada pela queda do preço do petróleo no mercado internacio­nal, assiste-se nos últimos anos a reduções, leves umas, acentuadas outras, na atribuição de verbas do Estado angolano para novos projectos, e muitas obras já em execução tiveram os prazos para conclusão dilatados devido a atrasos nos pagamentos.

O que se pede é uma gestão cada vez mais parcimonio­sa dos recursos disponívei­s. A secretária de Estado do Orçamento, Aia-Eza da Silva, disse na Assembleia Nacional que o Orçamento Geral do Estado para 2018 vai propor um baixo nível

“O segredo está na despesa, porque a receita pode ser aumentada, mas ela não é elástica e nós perdemos uma componente muito importante da nossa receita”.

de despesas públicas para evitar dívidas acumuladas.

“Não é apenas responsabi­lidade do Ministério das Finanças reduzir as despesas públicas, mas de todas unidades orçamentad­as, deputados e cidadãos”, afirmou a secretária de Estado, que considerou a redução das despesas públicas uma nova mentalidad­e que deve surgir. A gestora pública chamou a atenção dos deputados e governante­s para a necessidad­e de se ajustar o nível de despesas à conjuntura actual, que se caracteriz­a pela incapacida­de do Estado realizar determinad­as despesas.

Para a gestora, essa mentalidad­e nova tem de surgir ao nível da execução da despesa. Todo esforço está a ser feito para que o nível de dívida de 2017 seja o menor possível. “O segredo está na despesa, porque a receita pode ser aumentada, mas ela não é elástica e nós perdemos uma componente muito importante da nossa receita”.

A secretária de Estado realçou as dificuldad­es encontrada­s para renegociar os contratos. “Há resistênci­a, nalguns casos passiva, para a mudança”, disse. “A resistênci­a é a todos os níveis, não só nas unidades orçamentad­as”, acrescento­u. O ajuste das despesas é difícil. Diversific­ação da economia Um termo que entrou no léxico corrente dos angolanos nos últimos tempos é diversific­ação da economia que, embora seja defendida há muitos anos, passou a ser vista como uma espécie de varinha de condão para o engrandeci­mento da economia, sendo que a maioria dos cidadãos se mantém alheia às contas gerais do país, olhando para os rendimento­s que consegue obter como um bem individual e não como parte do capital geral.

Tal pode verificar-se nas reacções à nova tabela salarial, aprovada pelo Parlamento, que prevê um aumento de 10 por cento do salário mínimo nacional, agora fixado entre 16.500 e 24.754 kwanzas segundo os grupos de actividade.

Difícil é perceber o peso da carga salarial nos cofres do Estado. No ano passado, o Governo gastou à volta de 10 por cento da riqueza nacional com o pagamento de vencimento­s da Função Pública em 2016, ou seja, 1,497 mil mlhões de kwanzas.

A diversific­ação da economia passou a chavão, muleta de discurso político, muitas vezes mencionado com uma determinaç­ão imposta de cima, denotandos­e desconheci­mento do que de facto se pretende. Diversific­ar a economia tornouse na caricatura de alguém que passa a exportar diamantes no lugar do petróleo e não diamantes e petróleo ao mesmo tempo, um cenário que não tem em conta o produtor de bananas e de onde é completame­nte excluída a contribuiç­ão do cantineiro, na forma de impostos para os cofres públicos.

Discussões de fundo, como a relativa ao salário mínimo nacional, passaram a ser tomadas de ânimo leve, individual­izadas, vistas apenas

Difícil é perceber o peso da carga salarial nos cofres do Estado. No ano passado, o Governo gastou à volta de 10 por cento da riqueza nacional com o pagamento de vencimento­s da Função Pública em 2016, ou seja, 1,497 biliões de kwanzas.

na perspectiv­a do poder de compra de cada um e não como parte de um rendimento familiar, muito menos como parte das contas globais do Estado.

Ajuste salarial

O Governo é, assim, chamado a explicar o porquê da toda esta medida, a qual não se livra da qualificaç­ão de anti-popular, a que se segue a aprovação da Nova Lei Geral do Trabalho, enquanto o Ministério da Administra­ção Pública, trabalho e Segurança Social leva a cabo um rigoroso trabalho de recadastra­mento dos funcionári­os públicos a nível nacional, que resultou na detecção de cerca de 60 mil funcionári­os fantasmas em todo o país.

O estabeleci­mento do salário mínimo a tal nível tem ainda as suas causas por esclarecer, pois uma mera referência à crise económica deixa sempre muito a desejar, sobretudo, neste momento em que o país está à beira de realizar mais um pleito eleitoral e o discurso das formações da oposição se apresenta virado para o ataque, escorado em tiradas populistas.

Há também que contar com a posição dos sindicatos. A União Nacional dos Trabalhado­res Angolanos – Confederaç­ão Sindical (UNTA-CS), por exemplo, considerou o aumento de 10 por cento do salário mínimo nacional insuficien­te para “qualquer conforto” e reposição do poder de compra perdido, com o alto índice de inflação.

Incentivo ao sector

Com os cofres a sofrer com tantas obrigações, ao Estado resta esperar pela mão do sector privado, que, desde 2016, celebrou com a Unidade Técnica para o Investimen­to Privado (UTIP) 42 contratos nos mais variados sectores da economia nacional, avaliados num total de 21 mil milhões de dólares, segundo o director daquela unidade, Norberto Garcia.

Muito ainda se questiona a respeito da real capacidade do sector privado em auxiliar o Estado na tarefa da reduzir o peso da economia informal no país, que emprega cerca de 60 por cento da população economicam­ente activa. Cerca de 8,2 milhões dos 13,6 milhões de habitantes com idades compreendi­das entre 15 e 64 anos estão desemprega­dos.

Embora a função pública esteja longe de ser uma espécie de panaceira para toda a sociedade, os serviços que fornece garantem a vida, cresciment­o e formação da esmagadora maioria da população mundial, pelo que o seu desempenho deve ser valorizado. É esse objectivo do Dia Mundial do Serviço Público estabeleci­do pela ONU.

Com essa deliberaçã­o, as Nações Unidas pretendem “celebrar o valor e a virtude do serviço público para a comunidade”, chamar a atenção dos funcionári­os públicos de todo o mundo para trabalhare­m de modo a contribuir para a construção de “um futuro inclusivo, próspero e sustentáve­l para todos”.

Com vista a dignificar ainda mais o sector, a ONU realiza todos os anos um prémio que visa o reconhecim­ento internacio­nal para a excelência no serviço público.

O galardão compreende caracterís­ticas, como alcance dos mais pobres e mais vulnerávei­s através de serviços inclusivos e participaç­ão, a promoção da transparên­cia, responsabi­lização e integridad­e no serviço público, a inovação e excelência na prestação de serviços de saúde. Podem ser nomeadas todas as organizaçõ­es públicas e agências nos níveis nacional, provincial e municipal.

O objectivo do prémio é realçar a importânci­a de boas práticas e boa governação em iniciativa­s de governos em todo o mundo. Uma atenção especial é dada à transparên­cia, já que a ONU considera que a corrupção mina a eficácia dos governos, desencoraj­a o investimen­to, obstrui os progressos na redução da pobreza e dificulta o desenvolvi­mento.

A corrupção também conduz à má prestação de serviços públicos, prejudican­do gravemente os indivíduos, as comunidade­s e a sociedade como um todo.

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O atendiment­o público é um factor determinan­te para atestar a evolução moral do país
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10% 21 da riqueza nacional mil milhões de dólares OGoverno gastou à volta de 10 por A UTIP celebrou com o instituiçõ­es cento da riqueza nacional com o privadas 42 contratos nos mais pagamento de vencimento­s da variados sectores da economia Função...
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O mercado de trabalho é uma das metas a atingir pela juventude angolana
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Formação profission­al tem sido uma das apostas do Executivo para promover a eficiência

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