Opinião e Espaço Público
Os media são um conjunto de meios de comunicação que facilitam que determinada mensagem, emitida a partir de um certo ponto, chegue a vários públicos ao mesmo tempo, mesmo que os receptores estejam em locais diferentes. Dito de outro modo, os meios de comunicação de massas permitem a divulgação de uma informação para grandes públicos, espalhados em distintos pontos de uma sociedade, país, continente e em simultâneo.E são esses media que são utilizados como os grandes palcos da propagação de ideias, de opiniões e de análises por aqueles que pretendem tornar os seus discursos, as suas ideias e os seus pontos de vista numa opinião pública. E esta opinião só se torna pública quando for distribuída para uma multiplicidade de indivíduos, com a intenção do seu autor torná-la numa opinião de consenso, de aprovação, que é levada ao conhecimento de uma grande maioria, para se tornar pública.
Como referimos, o uso de um medium (ou o jornal, ou a rádio ou a televisão) é o recurso mais apropriado por alguns actores sociais para passar a sua mensagem e torná-la pública, isto, por causa do grande impacto que os meios de imprensa têm sobre os leitores, ouvintes e telespectadores, ou seja, os seus públicos. Aliás, a opinião pública, na maioria dos casos, é resultante do recurso aos media. É comum, por exemplo, as pessoas aceitarem certas declarações proferidas por algumas entidades e, depois, de manipuladas (no sentido de terem sido reproduzidas) pela imprensa. E, os receptores, levam a peito tais publicações, imitando-as, inclusive. “Li no jornal. É mesmo verdade!”, acreditam.
E o filósofo e sociólogo francês Jean-Gabriel de Tarde, no seu livro “A Opinião e a Multidão”, publicado em 1901, encontra uma explicação para isso. Avança que a imitação é o princípio colectivo dos grupos humanos. Por isso, propôs uma diferenciação entre a multidão e o público, afirmando que a primeira actua de forma instável e súbita, estando subjugada pelas forças da natureza e reage por impulso e por paixão. Já o público, explica, é uma colectividade verdadeiramente espiritual, um grupo de indivíduos fisicamente separados, mas com uma coesão mental. Fruto disso, pode-se referir que o público é o conjunto de membros de uma sociedade com crenças e que partilham ao mesmo tempo um certo número de ideias. É esse público que dá origem à opinião.
Embora haja teorias contrárias a esta tese, a imprensa escrita, falada ou audiovisual, na sua maioria, favorece claramente a circulação de ideias e de opiniões, servindo de vínculo entre os membros de uma comunidade. Aqui, temos assistido a vários casos em que os meios de comunicação, principalmente os órgãos privados, ajudam a dar voz a manifestações desfavoráveis protagonizadas por pequenos grupos de jovens e de partidos políticos opositores às políticas que consideram erradas do partido no poder. Também são os media os instrumentos usados por igrejas e outros actores sociais para que as suas acções tenham eco. São, no fundo, os media que colaboram para esse êxito.
Como vimos, os meios de informação tradicionais e os mais modernos, com destaque para as ferramentas da Internet, costumam fazer a “Agenda Setting”, ou seja, propõem os assuntos do quotidiano dos cidadãos, proporcionam uma maior abrangência na discussão dos problemas da sociedade e multiplicam as opiniões.
É aqui, saliente-se, onde nasce a questão do espaço público, que é uma problemática que anda de mãos dadas à ideia de opinião pública. Ou melhor, quando se fala de opinião pública, em parte, fala-se de espaço público. É fundamental esclarecer que o espaço público pode ser apenas um lugar simbólico ou, então, material. Aqui, o indivíduo usa da sua liberdade para expressar a sua opinião, quer seja favorável, quer desfavorável a um facto. E os jornais, rádios, televisões, Internet são, actualmente, os espaços públicos mais usados para debaterem as grandes coisas do dia-a-dia.
Neste sentido, quem mais protagonismo tiver junto das comunidades, quer em termos de discursos, quer em termos de acções, maiores probabilidades terá de ocupar os grandes espaços públicos. No nosso caso, há os especialistas, os intelectuais e os políticos. Mas, os leigos também têm a sua palavra. Estes últimos, os leigos, por norma assaltam as ruas, para que a sua opinião se faça sentir. São raras vezes, em que se apoderam dos media. Os acesos debates nos campos desportivos e nos táxis, vulgo candongueiros, nos comboios e nos autocarros públicos são um exemplo disso.