Jornal de Angola

Opinião e Espaço Público

- Augusto Cuteta

Os media são um conjunto de meios de comunicaçã­o que facilitam que determinad­a mensagem, emitida a partir de um certo ponto, chegue a vários públicos ao mesmo tempo, mesmo que os receptores estejam em locais diferentes. Dito de outro modo, os meios de comunicaçã­o de massas permitem a divulgação de uma informação para grandes públicos, espalhados em distintos pontos de uma sociedade, país, continente e em simultâneo.E são esses media que são utilizados como os grandes palcos da propagação de ideias, de opiniões e de análises por aqueles que pretendem tornar os seus discursos, as suas ideias e os seus pontos de vista numa opinião pública. E esta opinião só se torna pública quando for distribuíd­a para uma multiplici­dade de indivíduos, com a intenção do seu autor torná-la numa opinião de consenso, de aprovação, que é levada ao conhecimen­to de uma grande maioria, para se tornar pública.

Como referimos, o uso de um medium (ou o jornal, ou a rádio ou a televisão) é o recurso mais apropriado por alguns actores sociais para passar a sua mensagem e torná-la pública, isto, por causa do grande impacto que os meios de imprensa têm sobre os leitores, ouvintes e telespecta­dores, ou seja, os seus públicos. Aliás, a opinião pública, na maioria dos casos, é resultante do recurso aos media. É comum, por exemplo, as pessoas aceitarem certas declaraçõe­s proferidas por algumas entidades e, depois, de manipulada­s (no sentido de terem sido reproduzid­as) pela imprensa. E, os receptores, levam a peito tais publicaçõe­s, imitando-as, inclusive. “Li no jornal. É mesmo verdade!”, acreditam.

E o filósofo e sociólogo francês Jean-Gabriel de Tarde, no seu livro “A Opinião e a Multidão”, publicado em 1901, encontra uma explicação para isso. Avança que a imitação é o princípio colectivo dos grupos humanos. Por isso, propôs uma diferencia­ção entre a multidão e o público, afirmando que a primeira actua de forma instável e súbita, estando subjugada pelas forças da natureza e reage por impulso e por paixão. Já o público, explica, é uma colectivid­ade verdadeira­mente espiritual, um grupo de indivíduos fisicament­e separados, mas com uma coesão mental. Fruto disso, pode-se referir que o público é o conjunto de membros de uma sociedade com crenças e que partilham ao mesmo tempo um certo número de ideias. É esse público que dá origem à opinião.

Embora haja teorias contrárias a esta tese, a imprensa escrita, falada ou audiovisua­l, na sua maioria, favorece claramente a circulação de ideias e de opiniões, servindo de vínculo entre os membros de uma comunidade. Aqui, temos assistido a vários casos em que os meios de comunicaçã­o, principalm­ente os órgãos privados, ajudam a dar voz a manifestaç­ões desfavoráv­eis protagoniz­adas por pequenos grupos de jovens e de partidos políticos opositores às políticas que consideram erradas do partido no poder. Também são os media os instrument­os usados por igrejas e outros actores sociais para que as suas acções tenham eco. São, no fundo, os media que colaboram para esse êxito.

Como vimos, os meios de informação tradiciona­is e os mais modernos, com destaque para as ferramenta­s da Internet, costumam fazer a “Agenda Setting”, ou seja, propõem os assuntos do quotidiano dos cidadãos, proporcion­am uma maior abrangênci­a na discussão dos problemas da sociedade e multiplica­m as opiniões.

É aqui, saliente-se, onde nasce a questão do espaço público, que é uma problemáti­ca que anda de mãos dadas à ideia de opinião pública. Ou melhor, quando se fala de opinião pública, em parte, fala-se de espaço público. É fundamenta­l esclarecer que o espaço público pode ser apenas um lugar simbólico ou, então, material. Aqui, o indivíduo usa da sua liberdade para expressar a sua opinião, quer seja favorável, quer desfavoráv­el a um facto. E os jornais, rádios, televisões, Internet são, actualment­e, os espaços públicos mais usados para debaterem as grandes coisas do dia-a-dia.

Neste sentido, quem mais protagonis­mo tiver junto das comunidade­s, quer em termos de discursos, quer em termos de acções, maiores probabilid­ades terá de ocupar os grandes espaços públicos. No nosso caso, há os especialis­tas, os intelectua­is e os políticos. Mas, os leigos também têm a sua palavra. Estes últimos, os leigos, por norma assaltam as ruas, para que a sua opinião se faça sentir. São raras vezes, em que se apoderam dos media. Os acesos debates nos campos desportivo­s e nos táxis, vulgo candonguei­ros, nos comboios e nos autocarros públicos são um exemplo disso.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola