Jornal de Angola

Hoje não há crónica

- Cândido Bessa

Hoje não há crónica. Não por falta de um tema, para este espaço. Até porque a semana foi fértil em assuntos sugestivos que dariam rios de linhas ou caracteres. O caso de um amigo, o Malembe, que quase apanhou um "a-ve-ssé" ao tentar inscrever-se, sem sucesso, para a compra de uma casa.

O tema até se enquadra bem nesta coluna. primeiro porque não me agrada nada a ideia de ter me inscrever para tudo. Inscrição para comprar casa, inscrição para o supermerca­do, inscrição para a creche, inscrição para estudar, para trabalhar, para viver, para morrer .... enfim é preciso estar inscrito, mesmo que seja apenas para manifestar um desejo. Apenas para isso: para manifestar um desejo é preciso estar inscrito, até que chegue alguém: "Lamentamos, mas terminou o prazo para manifestar­es o teu desejo. Espere a próxima inscrição". Volta e meia lá estás outra vez, noutra inscrição, talvez num banco, numa embaixada, na fila do autocarro, enfim.

Mas voltando à questão das casas (e não tomem isso como uma crónica, já que hoje não há crónica e, por isso, quero que o amigo leitor veja estes caracteres negros alinhados neste espaço como se cá não estivessem e que, por isso, a coluna se mantém branca, à espera da crónica semanal) dizia, o que mais me espantou na questão das casas foi a rapidez com que as inscrições terminaram.

Mesmo em tempos de crise, quando estamos todos (ou quase, já que aparenteme­nte estamos no mesmo barco) a fazer as contas à vida, até para comer. O meu espanto foi mais pelo tempo que durou as inscrições. Não me lembro, ao longo dos meus quarenta e poucos cacimbos, ter ouvido falar ou mesmo lido em algum lado (e o que mais gosto é ler, desde os jornais a revistas, passando pelos livros) sobre uma corrida tão veloz para a compra de uma casa. Bastaram apenas 2.400 segundos para que as inscrições fossem encerradas.

A verdade é que depois da conquista de Sayovo, nunca pensei que fossemos bater outro recorde mundial, este até digno de constar do Livro Guiness. Mas, como disse, hoje não há crónica e, por isso, este assunto fica apenas pela intenção.

Outro tema para a crónica de hoje, em homenagem ao meu Cazenga, podia falar aqui do grande Paulo Flores, a nossa bandeira, símbolo vivo do meu bairro e que não pára de conquistar troféus, como o Rei Midas, personagem da Mitologia Grega, a quem foi dado o dom de transforma­r tudo que tocava em ouro. Após ganhar mais um prémio, desta vez com o “Álbum do Ano”, no Angola Music Awards, para mim, o mais importante prémio da indústria musical angolana. Mas, como disse, hoje não há crónica. Quero apenas que o leitor saiba que não é por falta de assunto que as linhas deste espaço não são mais do que caracteres que, teimosamen­te, vão saindo de uma mente cansada, esgotada, para poisar no branco da coluna de jornal, mesmo sem sentido, e tentar chamar a atenção do amigo leitor neste sábado de cacimbo. Por isso, hoje não há crónica.

Podia aproveitar este espaço para homenagear este emblema do bairro da minha infância e “decretar” salvas para Paulo Flores

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola