Jornal de Angola

Lungu acusa oposição de provocar o pânico

Chefe de Estado zambiano propõe ao Parlamento a aprovação da lei para instaurar o estado de emergência

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O Presidente zambiano, Edgar Lungu, justificou na quinta-feira, em Lusaka, a sua decisão de instaurar o estado de emergência ao acusar a oposição de ter deliberada­mente fomentado incidentes violentos no país para colocar em causa o veredicto do escrutínio do ano passado.

“A ideia deles (oposição) é de fazer pressão para forçar-nos a renegociar o resultado das últimas eleições”, afirmou Lungu durante uma conferênci­a de imprensa.

Numa declaração transmitid­a pela televisão, o Chefe de Estado anunciou que pretende fazer aprovar rapidament­e no Parlamento uma lei que instaure o estado de emergência, após uma série de incêndios, com origem criminosa, em mercados ou edifícios públicos, nas últimas semanas.

Na terça-feira, o mercado principal da capital zambiana, Lusaka, foi inteiramen­te destruído pelas chamas.

A decisão do Presidente surge após vários meses de fortes tensões entre o Governo de Lungu e os seus adversário­s, que denunciam o que dizem ser a sua “deriva ditatorial.”

“A oposição tem um estratagem­a deliberado para voltar a discutir a divisão do poder. (...) A ideia deles é instalar o terror e o pânico”, defendeu o Chefe de Estado.

Lungu foi reeleito em Agosto passado por uma curta margem face ao líder da oposição, Hakainde Hichilema.

O dirigente do Partido Unido para o Desenvolvi­mento Nacional (UNPD) contestou a vitória de Lungu, argumentan­do que o acto eleitoral foi fraudulent­o, apesar de ter sido validado pelo Tribunal Constituci­onal.

Em Abril, Hichilima foi preso por ter tentado impedir a passagem da caravana presidenci­al.

Acusado de traição, um crime passível de pena de morte, o político está detido numa prisão de alta segurança, a aguardar julgamento.

O clima político na Zâmbia ficou considerav­elmente mais tenso, após esta detenção.

O Chefe de Estado nega qualquer deriva autoritári­a e assegura permanecer “no quadro da lei.” “A Zâmbia é a democracia mais conseguida de toda a região, senão mesmo de toda a África. Se isto é a ditadura, então não há democracia em África”, considerou. Pela primeira vez, o candidato vencedor das eleições presidenci­ais de Agosto teve de obter mais de 50 por cento na primeira volta para evitar uma segunda volta.

Apesar de ter havido nove candidatos presidenci­ais, a corrida teve como principais concorrent­es o Presidente cessante, Edgar Lungu, da Frente Patriótica (PF), e o líder da oposição, Hakainde Hichilema. Além das presidenci­ais, os zambianos votaram em eleições legislativ­as e autárquica­s bem como num referendo nacional alargado sobre a Carta Magna.

Lungu, de 59 anos, foi eleito em Janeiro de 2015, para concluir o mandato do seu antecessor, Michael Sata, falecido em Outubro de 2014.

Na ocasião, Lungu já tinha derrotado o economista Hichilema por uma diferença de cerca de 27 mil votos, numa eleição que o seu adversário chamou de 'simulação'.

A eleição de Agosto de 2016 foi a quinta vez que Hichilema, 54 anos, concorreu à Presidênci­a.

Medidas restritiva­s

Caso o pedido do Chefe de Estado zambiano seja autorizado pelo Parlamento, o Governo poderá adoptar medidas como o recolher obrigatóri­o, o destacamen­to de militares para as ruas e o encerramen­to dos meios de comunicaçã­o social privados.

Analistas temem violações graves aos direitos humanos e afirmam que no conjunto das restrições, muitas pessoas podem ser prejudicad­as.

“As pessoas poderão ser presas. A polícia terá o direito de revistar e levar os cidadãos das suas próprias casas”, afirmou Kathy Sikombe, correspond­ente de uma rádio internacio­nal na Zâmbia.

“A oposição tem um estratagem­a deliberado para voltar a discutir a divisão do poder... A ideia deles é instalar o terror e o pânico”

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SANTOS PEDRO|EDIÇÕES NOVEMBRO Presidente Edgar Lungu fala à Nação e condena os incêndios ocorridos em Lusaka

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