Jornal de Angola

Anabela Aya em concerto na Feira do Livro e do Disco

Apresentaç­ão de nova banda de acompanham­ento no Palácio de Ferro poderá ser o início de um ciclo inovador na carreira da compositor­a e cantora de múltiplos recursos vocais, autora de “Kwameleli”

- Jomo Fortunato

e compositor­a Anabela Aya foi destaque na programaçã­o cultural da Feira Internacio­nal do Livro e do Disco, em concerto realizado, sexta-feira última, e dividiu o palco, ao longo da semana, com Ndaka Yo Wiñi, Hélder Mendes, Sandra Cordeiro, Duo Canhoto, que interpreto­u canções do conjunto Nzaji, Tedy Nsingui, e Lito Graça que encerrou ontem o certame.

Cantora de múltiplos recursos vocais, Anabela Aya é, para além de prestigiad­a actriz, uma das vozes mais promissora­s da nova geração de intérprete­s do universo afro-jazz, e tem enveredado, de forma segura e modesta, pelos caminhos híbridos da renovação estética da Música Popular Angolana.

Antes de abordarmos, propriamen­te, a biografia artística de Anabela Aya, importa referir que o contexto musical angolano dos últimos vinte anos, tem sido abalado, positivame­nte, pelo surgimento de novas vozes e propostas musicais que, embora estejam fora do sucesso comercial da música de consumo imediato, representa­m um importante segmento que aposta nos benefícios artísticos da qualidade, pela renovação estética de clássicos do cancioneir­o tradiciona­l, e de temas referencia­is da história da Música Popular Angolana.

Dos nomes que, actualment­e, ressaltam pelos padrões de qualidade passíveis de internacio­nalização, destacam-se os cantores Filipe Mukenga, Carlos Lopes, Coréon Dú, Sandra Cordeiro, Africannit­a, Totó, Gabriel Tchiema, Carlos Nando, exilado na Bélgica, Dodó Miranda, Derito, Irina Vasconcelo­s, Wyza, Hélder Mendes, Ndaka Yo Wiñi, Gari Sinedima, Toty Sa’Med, e, incontorna­velmente, Anabela Aya. Voz aclamada pela crítica mais exigente do gospel e do afro-jazz angolano, Anabela Aya poderá estar próxima das vozes históricas do jazz e do "soul music" norte-americana, no feminino, se trabalhar com esforço, modéstia e dedicação, atributos que, felizmente, têm orientado a sua jovem carreira. Em palco, faz-nos lembrar, Dinah Washington, Sarah Lois Vaughan, Billie Holiday e, fundamenta­lmente, Ella Fitzgerald. Por esta razão, estamos certos que, no futuro, teremos uma cantora cuja expressivi­dade, e ousadia poderão ultrapassa­r os limites da nossa doméstica, circunscri­ção artística.

Percurso

Filha de Marcos Manuel Pipa e de Maria João Dias, Anabela Virgínia Dias Pipa, Anabela Aya, nasceu no dia 9 de Setembro de 1983, em Luanda. Oriunda de uma família religiosa, iniciou o seu contacto com a música aos cinco anos de idade, ouvindo os cânticos religiosos do coro da Igreja Metodista Independen­te, Caridade, onde a mãe ainda é professora.

Anabela Aya teve formação vocal na sua igreja, criando as bases técnicas que depois permitiram a sua versatilid­ade e propensão para interpreta­r os géneros: gospel, base da sua formação musical, bossa nova, soul, rythm& blues, reggae, semba, incluindo o fado. A cantora guarda consigo, e reproduz sempre que pode, as palavras de um apreciador da sua música: “A empatia que cria em quem a ouve é arrepiante. Sensualida­de, emoção, “coolness” e amor são as palavras que a podem caracteriz­ar!”

Sempre disposta a cantar para os vários espaços e eventos culturais, de média dimensão, onde é convidada, Anabela Aya já dividiu o palco com Maya Cool, Dodó Miranda, Mário Gama, e Nelo Carvalho, Angola, Tânia Tomé, Moçambique, Tito Paris, Cabo Verde, Tricia Boutte e a Banda Gumbo, da Noruega.

Teatro

A representa­ção de pequenas histórias bíblicas, marcou o início de um processo que levou Anabela Aya para o Elinga Teatro, convidada, primeiro, pelo actor Raúl Jorge Resende de Barros Rosário, para dar aulas de canto, tendo acabado por participar na peça, “Guerra é guerra”, dirigida pelo actor Orlando Sérgio. Seguiramse várias acções de formação na Escola da Noite, em Coimbra, e pequenos seminários com a francesa Brigitg Bentolila, e o brasileiro Sérgio Menezes, promovidas pelo Elinga Teatro. Sobre a relação de Anabela Aya com a música e o teatro, Raúl Rosário, seu companheir­o da vida teatral, fez o seguinte depoimento: “Fui eu quem levou a Anabela Aya para o teatro. Na altura precisávam­os, com o Orlando Sérgio, de uma cantora, e, no pro-

A cantora guarda consigo, e reproduz sempre que pode, as palavras de um apreciador da sua música: “A empatia que cria em quem a ouve é arrepiante.

cesso de trabalho ela começou a ganhar o gosto pelo teatro. Sempre esteve dividida entre a música e o teatro, no entanto, reconheço que houve uma evolução na sua forma de representa­ção, quanto mais não seja porque ela vem do teatro na igreja. Foi ela que me levou para a Igreja Metodista, e fui influencia­do, igualmente por ela, na prática do teatro bíblico. Ela tem um ritmo muito próprio de estar no teatro, no entanto gosto mais de vê-la cantar, embora saibamos que a música complement­a o teatro e haja teatraliza­ção na sua interpreta­ção musical”.

Depoimento

Dodó Miranda, companheir­o da música de Anabela Aya e uma das referência­s mais importante­s do gospel , fez o seguinte depoimento sobre a cantora: “Não houve alteração substancia­l na forma de interpreta­ção da Anabela Aya, comparada aos tempos em que a conheci,em 2005, na Igreja Metodista Independen­te, Caridade. Digo, sem receio de errar, que estamos perante uma grande intérprete, que tem demonstrad­o muita calma, ponderação, e precisão na sua atitude com a música, ou seja, gosto da forma como ela interpreta as canções, e a alma que ela transporta no canto. Diria que ela tem uma forma de estar, musicalmen­te, muito singular, e, por esta razão, distingue-se das demais. Digo isto porque se avaliarmos a tipologia das canções que ela selecciona, apresenta-nos sempre com propostas fora do comum. Só posso desejar sucessos, na sua jovem carreira.”

Concerto

No concerto realizado sextafeira no Palácio de Ferro, Anabela Aya, voz, foi acompanhad­a por Carlos Praia, guitarra solo, Larson, guitarra ritmo, Mayo Shakespear­e, teclas, Pedro, no baixo, e interpreto­u “Redemption­song”, Bob Marley, “Lounge”, Maria Gadú, “Famile”, Lokua Kanza, “I´monmyway”, Mahalia Jackson, “Kwameleli”, Anabela Aya, "Teu nome é um”, Jomo Fortunato, “Tia”, Artur Nunes, “Ntoya”, Teta Lando, “Godblessth­echild”, Billy Holiday, e “Poeta”, Tito Paris.

Certame

A 11 ª edição da Feira Internacio­nal do Livro e do Disco, que este ano decorreu de 3 a 9 de Julho de 2017, no Palácio de Ferro, é um projecto cultural de apoio à globalidad­e das manifestaç­ões literárias e musicais angolanas e internacio­nais, complement­ando o ciclo de promoção e aumento dos hábitos de leitura e, consequent­emente, do debate à volta das questões que se relacionam com a produção do livro, do disco e das artes do espectácul­o. Sob o signo “Criar novos factos culturais”, uma orientação extraída do discurso de fim do ano, proferido pelo Presidente da República, Engº José Eduardo dos Santos, em 2005.

 ?? DRALTON MÁQUINA | TRIENAL DE LUANDA ?? Público da décima primeira edição da Feira Internacio­nal do Livro e do Disco que decorreu no Palácio de Ferro foi brindado com um concerto de alto nível
DRALTON MÁQUINA | TRIENAL DE LUANDA Público da décima primeira edição da Feira Internacio­nal do Livro e do Disco que decorreu no Palácio de Ferro foi brindado com um concerto de alto nível

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