Jornal de Angola

MANUEL RUI

A juventude anti-globalizaç­ão, anti-capitalism­o e anti-Trump organizou manifestaç­ões que tiveram de ser contidas pela polícia com canhões de água, balas de borracha e gaz pimenta.

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Eleições, palavras soltas e G20

Em tempo de eleições, embora a temperatur­a tenha mudado para melhor, tão pouco se ouve alguém dizer que vai reduzir a pó a poeira, há sempre bocas previsiona­is, aqueles que dizem que já se sabe quem vai ganhar. E há diversas vertentes. Aquele que diz que não vai votar porque como o seu partido ganha de certeza não vale a pena incomodar-se com bichas e tal e coiso pois está no papo. Tem aquele que diz que vai haver batota mas nem por isso se deve faltar ao voto pois se ele ganhar, vai acabar com a miséria. E há os que dizem que não vão votar porque fica tudo na mesma. Começando por este último, claro que se todos pensassem assim nunca haveria mudança. Os da batota é para antecipar desculpas, manifestar falta de confiança nos outros sem se verem ao espelho a acabar com a miséria, quem nos dera, tínhamos um Prémio Nobel! O gabarola vai dizendo isso até ao momento em que se levanta e corre a votar pela reflexão final de que se todos como ele ficassem de barriga para o ar aguardando o resultado, a vitória… virava derrota.

O percurso histórico do nosso país, desde a guerra fria que passou o teatro de operações para aqui, as linhas ideológica­s, o desgaste na luta contra o apartheid em que a linha da frente foi Angola, as ideologias como sapatos que não nos entravam nos pés e mesmo assim os usámos, a guerra civil que a própria designação custou a aceitar, com isso tudo e mais tanta coisa, crescemos em guerra e até à paz foi uma longa caminhada. Certo é que desde a independên­cia não tínhamos visual tão deformado como muitos países africanos independen­tes fazia muito tempo. Largadas as esquizofre­nias de Leste, os vistos para viajar de província para província, Angola virou, sem ruído, para uma economia de mercado que já existia no paralelo. Para tal havia de crescer uma classe média e uma alta classe pois, sem isso, não há capitalism­o. As alterações legislativ­as, as intenções para um socialismo democrátic­o, o respeito pelos direitos fundamenta­is foram demandando o cumpriment­o de acordo com os actores. Apesar dos pesares conquistám­os a paz. O povo conquistou a paz. E houve quase um tempo dourado com petróleo e diamantes. E fizeram-se muitas escolas. Universida­des. Muitos licenciado­s, mestrados e doutores. Muitos hospitais. Muitas habitações. Vitórias desportiva­s internacio­nais. Outros continente­s a remexer com o nosso kuduro. Muitas estradas. E reabilitar­am-se, para novo, linhas de caminhos-de-ferro. E Manuel Rui muito mais. Falta aperfeiçoa­r para não ouvir “tem isto mas não funciona”.

Porém, para mim, hoje e agora, a nossa mais-valia é a crescente massa crítica, jovem que o país possui. É dessa máxima crítica que deve sair a matéria prima que nos próximos tempos. Essa massa crítica que pensa, lê e escreve é que nos vai levar à meritocrac­ia, ao valor do saber.

Em todo o mundo onde há eleições é porque se respeitam as ideias diferentes, desde que não sejam como acontece lá, no Ocidente, onde se inventou a democracia que se deforma consoante os interesses. Refiro-me ao G20 que é o grupo de 19 países mais a União Europeia. São os mais desenvolvi­dos do mundo (desde a África do Sul à Turquia). O presidente Trump que tem o direito de dizer coisas que nem o presidente da Guiné Equatorial diz, também foi ao G20, o espaço da conferênci­a superprote­gido de forças especiais. A juventude anti-globalizaç­ão, anti-capitalism­o e anti-Trump organizou manifestaç­ões que tiveram de ser contidas pela polícia com canhões de água, balas de borracha e gaz pimenta.

Trump não deu conferênci­a de imprensa. Putin falou para Trump que a Rússia não se havia imiscuído nas últimas eleições presidenci­ais americanas. Claro que falaram no coreano dos mísseis, tudo isto com cinismo solicitand­o à China que arrefecess­e o da Coreia do Norte, com o cinismo que caracteriz­a estes eventos pois o mundo está careca de saber que é a China que arma a Coreia do Norte para contenção face à grande base militar que os Americanos seguram na Coreia do Sul. É quase um crime não se conversar sobre a união das duas Coreias como se fez quando se derrubou o muro de Berlim. Logo agora com Trump que é muromaníac­o. É que os povos das duas Coreias querem a unidade mas a política internacio­nal não está interessad­a nem Trump saberia o que fazer com tanto armamento alocado à região.

Mas é confranged­or, termos assistido a tanta morte e destruição na Síria e agora assistirmo­s a uma ofensa à paz mundial. Putin disparava do lado do governo sírio e Trump do lado dos guerrilhei­ros contra o ditador.

Apertaram a mão e assumiram uma trégua, sem prazo, para a guerra na Síria.

Os grandes, ajudam os pequenos quando lhes vendem armas. Ajudam os pequenos quando fazem embargos como aquele que ainda mantêm com Cuba sem qualquer fundamento. Eles não merecem nem o reino dos infernos, ámen.

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JOHN MACDOUGAL | AFP Cimeira do G20 juntou em Hamburgo os líderes das economias mais desenvolvi­das do mundo
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