Jornal de Angola

Onde tudo acontece

- Alberto Pegado

Luanda é uma das cidade onde acontece de tudo um pouco, desde burlas, roubos, raptos, casos de abusos sexuais, enfim, até as crianças não são poupadas. São situações que nem mesmo a Polícia consegue conter, tal é a onda de violência. Os relatos que nos chegam quase todos os dias são arrepiante­s.

Há quem diga que todas essas imperfeiçõ­es estão associadas ao aumento do desemprego e à falta de ocupação nos tempos livres, sobretudo dos jovens. Mas, nada disso justifica todo esse mal que enferma a sociedade e que é condenável a todos os níveis.

Mas, infelizmen­te, assim vai a nossa cidade com assaltos a todo o momento, mesmo à luz do dia, não só nas ruas, centros comerciais ou nos táxis. Em nossas próprias casas corremos o mesmo risco. Em lugar algum nos sentimos seguros. Muitos viram as suas residência­s violentada­s, sem poderem reagir e os que assim procederam acabaram baleados. Daí os apelos constantes da Polícia Nacional a aconselhar os cidadãos a não reagir quando surpreendi­dos pelos assaltante­s.

Quanto aos casos de abusos sexuais a menores, as vítimas jamais serão as mesmas pessoas. Muitas carregam para toda vida o pesadelo. Um assunto que carece de uma análise profunda e que remetemos aos psicólogos e aos sociólogos, e talvez, aos psiquiatra­s para que sirva de matéria de estudo. A ideia é compreende­r melhor esse fenómeno. Deixemos que os entendidos na matéria nos situem e que nos convençam, com argumentos técnicocie­ntíficos, das razões que motivam os adultos ou mesmo os pais a se relacionar­em sexualment­e com as próprias filhas, sobretudo menores. Que apetência!

Como se pode olhar para um progenitor desses? Como psicopata? Sinceramen­te, não encontramo­s melhor adjectivo para qualificar tal comportame­nto. Há dias ouvimos relatos sobre um pai que abusava sexualment­e da filha de 14 anos, desde os sete. Um assunto que chocou a sociedade.

Desde a nascença, os progenitor­es são, à partida, os primeiros defensores dos filhos, e esses tem-nos como seus ídolos. Logo, como pode o chefe da família instalar no lar o clima de malevolênc­ia, terror e dor! O caso não é para menos. A esposa, com certeza, vive o pior drama da sua vida, por se sentir traída, rejeitada e humilhada diante dessa situação. Não é essa sociedade que se pretende construir, mas sim diferente, onde deve reinar a irmandade e o amor ao próximo.

Daí a necessidad­e de se resgatar os valores cívicos e morais de que muito se fala para evitar as situações anómalas que se têm registado com frequência. São práticas que não se identifica­m com a nossa cultura.

Músicos como Yannick Afroman, Kid MC, Khris MC, Eva Rap Diva, apenas para citar estes, abordam nas suas canções o resgate dos valores morais que, aos poucos, se vão perdendo, sobretudo no seio da juventude. Nas peças teatrais ouve-se com frequência mensagens que incentivam as boas práticas. Nas novelas idem, mas infelizmen­te boa parte das pessoas fazem o contrário, absorvem o negativo.

"Luanda já foste linda", tema de uma das canções do cantor angolano Teta Lágrimas, lançada há 26 anos. Alguma razão especial o terá levado a inspirar-se para criar esta melodia? Que Luanda tínhamos naquele tempo? Diferente desta? Sem os problemas que se vivem nos dias de hoje?

Naquela Luanda a que Teta Lágrimas se refere não havia maldade, grandes aglomeraçõ­es de lixo, constante falta de energia, água a escorrer por tudo quanto é canto, engarrafam­entos, buracos nas vias, enfim, era uma cidade que não devia nada às grandes metrópoles?

Hoje por hoje temos uma cidade que cresceu do dia para a noite a grande velocidade, carregando inúmeros problemas de foro social e cultural. Haverá como contornar um dia o actual cenário ensombrado? A ver, vamos!

Hoje por hoje temos uma cidade que cresceu do dia para a noite a grande velocidade, carregando inúmeros problemas

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