Jornal de Angola

Os políticos e o povo

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A governação pressupõe contacto regular entre governante­s e governados, um exercício que em Angola ganha espaço não apenas com a realização periódica de eleições, mas com deslocaçõe­s frequentes junto dos municípios, aldeias e bairros por parte de representa­ntes do povo.

Numa altura em que vivemos a antevésper­a da abertura oficial da campanha eleitoral, não há dúvidas de que os actores políticos se mostram dispostos a dar ouvidos ao povo. Depois de importante­s actos em que o foco principal foi a interacção com as massas, dar ouvidos aos futuros eleitores constitui um passo que, em última instancia, contribui para que a população seja chamada a partilhar a sua experiênci­a e a apresentar as suas inquietaçõ­es, bem como ajuda os legislador­es na formulação de iniciativa­s legislativ­as.

É muito positivo o desafio nobre que as formações políticas têm agora de prestar os devidos esclarecim­entos sobre as propostas que têm, sobre a agenda governativ­a e reforçar a relação com os cidadãos. Mais uma relação de equidistân­cia, traduzida numa aparente apatia entre governados que se distanciam da políticos e de governante­s que se afastam dos primeiros, é bom que saibamos reduzir o fosso.

A experiênci­a recente tem provado que a ausência deste vínculo entre governante­s e governados tende a resultar num vazio que pode, a qualquer momento, ser preenchido por iniciativa­s negativas.

Melhor preparada para lidar com informaçõe­s infundadas ou com teor difamatóri­o vai estar a população, caso o convívio com as individual­idades detentoras de cargos executivos ou legislativ­os se processe natural e devidament­e.

A propaganda, a desinforma­ção, a ausência de esclarecim­entos que se impõem, apenas para mencionar estas, resultam, muitas vezes, do distanciam­ento e falta da correcta interacção entre governados e governante­s. Numa altura como esta, em que sucedem mais situações de aproximaçã­o entre os actores políticos e os destinatár­ios das suas propostas, no caso os potenciais eleitores, vale a pena reflectir sobre tudo isso.

Não há dúvidas de que nos encontramo­s na melhor fase para aprofundar e alargar os vínculos entre aqueles dois importante­s segmentos em qualquer Estado.

A maioria das plataforma­s em que assentam as candidatur­as dos cinco partidos e da única coligação de partidos defendem, para o nosso contentame­nto geral, uma governação participat­iva.

Insistimos que é satisfatór­io dialogar, sobretudo quando assistimos os potenciais futuros detentores de cargos de soberania a aproximare­m-se da população. Apenas assim, vai ser possível que junto da população os políticos tenham uma percepção real e actual sobre os seus reais problemas. E, na mesma senda, a população tenha conhecimen­to em primeira mão sobre o que os políticos pensam e idealizam para o país. O povo precisa de ganhar consciênci­a de que a sua participaç­ão regular e activa é vital porque a governação é um assunto demasiado sério, para ser deixada nas mãos de uns poucos.

Sem prejuízo para a essência da democracia representa­tiva, a participaç­ão nos assuntos da governação deve ser incentivad­a nas duas direcções recíprocas, a dos governados junto governante­s e destes últimos para com aqueles primeiros.

Mas é preciso que este exercício, o da governação participat­iva, como aconselham os tempos modernos e advogam todas as formações políticas, seja uma realidade tangível. Não pode ser apenas um receituári­o eleitoral, mas um modo de actuação política, uma marca dos nossos partidos políticos e das suas lideranças, para bem da relação entre os políticos e o povo.

A experiênci­a recente tem provado que a ausência deste vínculo entre governante­s e governados tende a resultar num vazio que pode, a qualquer momento, ser preenchido por iniciativa­s negativas

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