As escolhas do eleitorado e as contas dos partidos
A campanha eleitoral ao pleito de 23 de Agosto próximo arranca amanhã em todo o país e ganhar as eleições é o lema das principais formações políticas concorrentes, ao passo que as menos cotadas pensam em conseguir um bom resultado. Ninguém quer perder, nem mesmo a feijões.
Até mesmo a menos expressiva das formações políticas - quer historicamente falando, tendo em conta a sua criação recente (2015), quer avaliando a sua projecção -, recusa-se a adoptar um discurso cauteloso. A Aliança Patriótica Nacional (APN), de Quintino Moreira, que surpreende tanto pela velocidade da sua criação, como pelas propostas políticas que apresenta, põe de parte a modéstia, prefere alinhar pelo optimismo e, nas suas contas, acha mesmo que pode alcançar 20 assentos no futuro Parlamento.
Mas só o eleitorado vai, no dia 23 de Agosto, como já o fez noutras ocasiões, determinar quem ganha as eleições e qual será o posicionamento de cada uma das formações no xadrez político angolano. É consabido que há o voto fiel, que é representado pela massa de militantes desta ou daquela formação política, e que há, também, uma franja significativa de eleitores sem filiação partidária, mas que nutre simpatia por esta ou aquela proposta eleitoral, pela dinâmica deste ou daquele partido. De facto, na campanha eleitoral que amanhã começa, as formações políticas visam mobilizar não apenas o voto fiel a ir às urnas, mas, essencialmente, focam as suas atenções no conjunto de votantes que são os eleitores indecisos, que podem contribuir para consolidar posições. Em 1992 dizia-se à boca pequena que o MPLA poderia experimentar dificuldades nas eleições. Falava-se na existência de uma sondagem que dava a vitória a Jonas Savimbi e à UNITA. Essa percepção era reforçada pela “febre do multipartidarismo”, consubstanciada no facto de, na maior parte dos países onde vigorava o sistema de partido único e se abriu a sociedade ao pluralismo, as formações políticas na oposição terem ganho com alguma facilidade as eleições.
Todavia, os 30 dias de campanha eleitoral trataram de desfazer o equívoco e de clarificar a situação. O tom belicista que Jonas Savimbi imprimiu à sua campanha não deixou dúvidas quanto as ameaças que pairavam sobre o processo de paz. A maioria do eleitorado, cansada da guerra, que ansiava que as eleições abrissem caminho a uma nova era de vivência política, de convivência em democracia, percebeu inequivocamente que o candidato José Eduardo dos Santos e o MPLA eram as únicas garantias de uma vida pacífica, moderna e de progresso social. Por isso, contrariando o vaticínio da sondagem atrás referida, o MPLA ganhou folgadamente as eleições legislativas (53,74% - 129 assentos no Parlamento, do total de 220) e o seu candidato presidencial ficou em posição confortável (49%) para, na segunda volta, derrotar sem apelo nem agravo o seu oponente (41%).
Em 2008 a maioria do eleitorado “premiou” o MPLA pelo esforço de guerra desenvolvido pelo Executivo por si dirigido e que conduziu à conquista da paz. A maioria qualificada obtida nas eleições, com 81,64% dos votos, elegendo para o Parlamento 191 deputados, traduziu-se numa forte penalização da UNITA por ter optado, nas primeiras eleições, pela via militar para contestar os resultados eleitorais. Dos 70 deputados conseguidos em 1992, obteve apenas 16, ou seja, perdeu 54 assentos.
Em 2012 o MPLA voltou a ter a maioria de votos (71,84% - 175 assentos), enquanto a UNITA duplicou o número de deputados (de 16 passou para 32), e a CASA-CE, ao conseguir 8 lugares no Parlamento, destronou o PRS da posição de terceira força política mais votada.
Para as eleições deste ano, os dados estão, a priori, já lançados. As campanhas vão trazer subsídios sobre o que de novo têm, os candidatos e as formações políticas concorrentes, a propor ao eleitorado. A inquestionável nota de realce é o facto de o MPLA apresentar-se ao pleito com um novo rosto. Mal foi anunciado como candidato a Presidente da República, João Lourenço tratou de percorrer o país e de dar a conhecer, com propostas concretas, que mudanças podem a sociedade e os angolanos esperar se o MPLA ganhar as eleições.