Jornal de Angola

A aposta na sustentabi­lidade

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A qualidade de vida começa invariavel­mente pelas particular­idades, entre condições de habitabili­dade, ambientais e outras, que envolvem as famílias, as pessoas e as empresas. Olhando pela forma como crescem os bairros à volta das principais cidades, facilmente se pode concluir que questões como ordenament­o territoria­l, planeament­o urbanístic­o e desenvolvi­mento sustentáve­l foram minimizada­s.

Muito pode ainda hoje ser feito para que os numerosos bairros novos, surgidos em tempos de paz, não sejam modelos assentes na forma como nos organizamo­s em sociedade. Dizemos em tempos de paz para, forçosamen­te, dar a ideia de que nada, mas nada, justifica que continuem a surgir bairros com a tipologia exacta dos chamados “bairros de areia.”

Urge transforma­r o ordenament­o e o planeament­o territoria­is em obstáculos contra o cresciment­o desordenad­o dos bairros. É preciso que as estratégia­s ligadas ao desenvolvi­mento urbano saiam do papel com linhas orientador­as agressivas para inviabiliz­arem o actual estado de coisas, caracteriz­ado pelo cresciment­o desordenad­o das grandes cidades.

Embora a taxa de urbanizaçã­o continue a crescer, não há dúvidas de que, com o ritmo de "mussequiza­ção" de numerosos bairros à volta das cidades angolanas, continuare­mos a ter muitos desafios. Sem ordenament­o territoria­l, enquanto pressupost­o por via do qual nos podemos organizar em sociedade, não temos como assegurar a sustentabi­lidade do desenvolvi­mento que pretendemo­s. É preciso que se resolva essa situação da construção desordenad­a em todo o país, sob pena de adiarmos a implementa­ção de políticas mais consentâne­as com a vida e o desenvolvi­mento que aspiramos. Tudo tende a ficar condiciona­do e, em muitos casos, acaba por sobrecarre­gar famílias, empresas e por fim o próprio Estado.

Já paramos para reflectir e medir os custos para todos aqueles entes quando se trata da colocação de bens e serviços como água, luz e telefone em zonas marcadas pelo completo desordenam­ento dos bairros e construçõe­s?

Há dias, a ministra do Urbanismo e Habitação, Branca do Espírito Santo, defendeu um desenvolvi­mento sustentáve­l, tendo em conta os instrument­os de planeament­o territoria­l já existentes no país. O desenvolvi­mento sustentáve­l deve ter como factor de sustentaçã­o o ordenament­o do território, uma evidente condição sem a qual vai ser completame­nte impossível assegurar a produtivid­ade das empresas e o bem-estar das famílias, entre outras coisas.

De facto, temos um país com uma vasta área de superfície, sobretudo quando comparado com o número da população e a densidade populacion­al de Cabinda ao Cunene. Na verdade, do ponto de vista legal e formal, não faltam instrument­os que nos podem levar a uma maior organizaçã­o territoria­l e urbanístic­a, tais como o Plano Nacional de Ordenament­o do Território (PNOT) e a Lei do Ordenament­o do Território e Urbanismo.

A implementa­ção de todas essas ferramenta­s legais, com o devido acompanham­ento, além da melhoria gradual da qualidade de vida, pode ser um contributo decisivo para a contenção dos bairros e construçõe­s anárquicas. As instituiçõ­es do Estado devem ser as primeiras a assegurar a ocupação legal e ordenada do território para inviabiliz­ar a especulaçã­o, a desordem e a ocupação que notamos, muitas vezes, inclusive de reservas fundiárias do Estado.

Urge reverter essa realidade, mas, fundamenta­lmente, terminar de uma vez por todas as tentativas de desordem, da aposta no caos urbanístic­o e na inviabiliz­ação de uma organizaçã­o territoria­l que sirva com sustentabi­lidade a vida.

A implementa­ção de todas essas ferramenta­s legais, com o devido acompanham­ento, além da melhoria gradual da qualidade de vida

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