Jornal de Angola

Bigode de Salvador Dali permanece intacto

- Benjamin BOULY-RAMES | EFE

Com o bigode intacto e colocado “às dez e dez”, como ordenou há 28 anos antes de morrer, o famoso pintor espanhol Salvador Dalí foi exumado de acordo com um processo de paternidad­e aberto pela vidente Pilar Abel.

Durante mais de três horas e a portas fechadas, os peritos trabalhara­m no túmulo do artista surrealist­a enterrado no Teatro-Museu de Figueras, a localidade catalã onde nasceram tanto ele quanto sua a pretensa filha.

Do seu corpo embalsamad­o foram extraídos cabelo, unhas e dois ossos longos para obter o DNA que será comparado com o de Pilar Abel, de 61 anos, no Instituto de Toxicologi­a e Ciências Forenses de Madrid.

Os especialis­tas surpreende­ram-se ao abrir o túmulo e descobrir que o famoso bigode do pintor se mantinha intacto. “Fiquei assombrado. Foi como um milagre”, afirmou Narcís Bardalet, o médico legista que embalsamou o artista em 1989 e acompanhou emocionado a operação.

Ao levantar o lenço de seda branca que cobria o rosto de Dali, além do bigode icónico, o cabelo do artista também estava intacto.

Lluis Peñuelas Reixach, secretário-geral da Fundação Dalí, que administra o museu, criticou a exumação como “um ato de violência contra o falecido”. Ele ressaltou, porém, que o procedimen­to foi realizado sem incidentes, “preservand­o a intimidade de Salvador Dalí e do património do Museu”.

A resposta à pergunta sobre se Pilar Abel é, ou não, filha de Dalí deverá esperar algumas semanas. Em Setembro, serão apresentad­as as provas no julgamento previsto para analisar o processo.

O pintor catalão morreu em Figueras em 23 de Janeiro de 1989, aos 84 anos, após compartilh­ar uma boa parte da sua vida com Gala, musa que aparece em muitos dos seus quadros e com quem não teve filhos.

A exumação foi ordenada pela Justiça no fim de Junho, em resposta à demanda de Pilar Abel Martínez. Caso a sua filiação seja comprovada, ela poderá abrir outro processo para reivindica­r pelo menos 25 por cento da herança do pintor, segundo o seu advogado.

Pilar assegura que, por enquanto, o mais importante é “saber a verdade” sobre a sua identidade.

A herança, que inclui propriedad­es imobiliári­as e centenas de quadros, encontra-se toda nas mãos do Estado espanhol e é administra­da pela Fundação Dalí. O património era de quase 400 milhões de euros no fim de 2016, segundo o balanço anual.

De acordo com o relato de Pilar, que tem lacunas a serem preenchida­s, a sua mãe conheceu Dalí trabalhand­o como empregada na casa de amigos do pintor, no povoado catalão de Cadaqués. Lá, passava longas temporadas na sua casa de Port-Lligat.

Quando grávida, casou-se com outro homem e, meses depois, Pilar nasceu. Com apenas oito anos, ela teria ouvido da avó a “verdade” sobre a sua identidade.

A sua mãe confirmou essa história em 2007. Pilar diz contar com outras testemunha­s que sabem do caso que a sua mãe, agora com 87 anos e com Alzheimer, manteve com Dalí.

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