Chegou a hora da verdade
Com o início, hoje, da campanha eleitoral para as eleições gerais de Agosto bem se pode dizer que chegou a hora da verdade, o tempo em que as diferentes formações políticas concorrentes começarão, oficialmente, a mostrar ao povo os argumentos que têm para merecer a ascensão ao poder.
Para trás ficaram cinco anos marcados por uma profunda crise económica internacional, com profundos reflexos em Angola, e que condicionou alguns dos principais projectos delineados para catapultar o país para os mais elevados patamares de desenvolvimento social. Mesmo assim a verdade é que, durante esses mesmos cinco anos, muito foi feito ao ponto de se poder dizer, sem ferir grandes susceptibilidades, que Angola é hoje um país substancialmente diferente (para melhor) do que era em 2012.
A partir de hoje e durante 30 dias, é o tempo para as seis formações concorrentes às eleições dizerem ao que vêm, apresentarem as suas propostas e prepararem-se para assumir aquilo que vier a ser a decisão popular saída das eleições. Este é, também, o momento que todos os políticos querem e gostam de viver e para o qual se prepararam nos últimos cinco anos, uns melhor que outros, mas todos inseridos num sistema democrático que têm agora a obrigação de consolidar.
Umsistemaquelhespermiteesgrimirargumentoseapresentar propostas de forma absolutamente livre, mas que também os obriga a terem o dever de aceitar com civismo a convivência interpartidárianomaiselementarrespeitoporopiniõesdiferenciadas. A maturidade do povo angolano é suficientemente forte para saber o que realmente quer e em que deve confiar o seu voto na hora das grandes decisões. Por isso, os diferentes protagonistas políticos têm agora a oportunidade de mostrar o que valem e o que aprenderam na convivência democrática. Este é também o tempo em que os partidos políticos devem concentrar-se mais sobre si mesmos e menos sobre outros protagonistas laterais do sistema democrático onde estão inseridos. Mesmo com a dose de demagogia que sempre se apodera das formações menos preparadas para chegar ao coração dos eleitores, seria bom que se evitassem pronunciamentos desajustados da realidade objectiva de Angola e, por isso, destinados a serem recebidos como se de brincadeiras se tratassem.
É igualmente importante que os cidadãos reforcem a sua consciência em relação à importância que têm na reafirmação do funcionamento do sistema democrático, usando o seu voto com a consciência inerente ao facto dele ser o “argumento” pessoal para expressar a sua posição em relação aos que os tentam conquistar. A importância de votar é de tal modo forte que o cidadão que não ofizerficadesdelogocomprometidocomasuaprópriaconsciência, uma vez que perde o direito moral de criticar quem não for capaz de cumprir as promessas que sempre são feitas em alturas como esta ao mesmo tempo que perde uma oportunidade única para poder dizer que contribui para eleger determinado partido e consequente Presidente da República.
Além de inalienável o direito ao voto, que foi duramente conquistado pelos angolanos que em 1975 se envolveram no processo que levou à proclamação da nossa Independência, deve ser agora honrado por todos nós e exercido com a responsabilidade própria de quem tem o destino do país nas suas próprias mãos. Nesta altura também seria bom que fosse reconhecida a importância que o Presidente José Eduardo dos Santos teve na pacificação, na reconstrução e na criação das bases para o desenvolvimento social e económico do país. Apesar de ser a altura de outros protagonistas terem um acesso mais directo aos holofotes mediáticos, a verdade é que a figura de José Eduardo dos Santos continua e continuará a ser, por justo merecimento, uma referência obrigatória sempre que estiver em jogo o futuro e o nome do país. O modo empenhado como soube tornear os obstáculos com que se deparou ao longo da sua governação e conduziu Angola pelo trilho da democracia, ainda carece de um reconhecimento mais profundo. O modo, também, como está a gerir este período de transição diz muito da sua estatura política.
Nesta hora da verdade, em que as hostilidades verbais se abrem perante o olhar de todos os eleitores, seria bom que todas as formações concorrentes dessem, também elas, um exemplo do seu comprometimento com a democracia fazendo do respeito e da tolerância o seu principal argumento para conquistar o voto.