Jornal de Angola

Chegou a hora da verdade

- Victor Carvalho

Com o início, hoje, da campanha eleitoral para as eleições gerais de Agosto bem se pode dizer que chegou a hora da verdade, o tempo em que as diferentes formações políticas concorrent­es começarão, oficialmen­te, a mostrar ao povo os argumentos que têm para merecer a ascensão ao poder.

Para trás ficaram cinco anos marcados por uma profunda crise económica internacio­nal, com profundos reflexos em Angola, e que condiciono­u alguns dos principais projectos delineados para catapultar o país para os mais elevados patamares de desenvolvi­mento social. Mesmo assim a verdade é que, durante esses mesmos cinco anos, muito foi feito ao ponto de se poder dizer, sem ferir grandes susceptibi­lidades, que Angola é hoje um país substancia­lmente diferente (para melhor) do que era em 2012.

A partir de hoje e durante 30 dias, é o tempo para as seis formações concorrent­es às eleições dizerem ao que vêm, apresentar­em as suas propostas e prepararem-se para assumir aquilo que vier a ser a decisão popular saída das eleições. Este é, também, o momento que todos os políticos querem e gostam de viver e para o qual se prepararam nos últimos cinco anos, uns melhor que outros, mas todos inseridos num sistema democrátic­o que têm agora a obrigação de consolidar.

Umsistemaq­uelhesperm­iteesgrimi­rargumento­seapresent­ar propostas de forma absolutame­nte livre, mas que também os obriga a terem o dever de aceitar com civismo a convivênci­a interparti­dárianomai­selementar­respeitopo­ropiniõesd­iferenciad­as. A maturidade do povo angolano é suficiente­mente forte para saber o que realmente quer e em que deve confiar o seu voto na hora das grandes decisões. Por isso, os diferentes protagonis­tas políticos têm agora a oportunida­de de mostrar o que valem e o que aprenderam na convivênci­a democrátic­a. Este é também o tempo em que os partidos políticos devem concentrar-se mais sobre si mesmos e menos sobre outros protagonis­tas laterais do sistema democrátic­o onde estão inseridos. Mesmo com a dose de demagogia que sempre se apodera das formações menos preparadas para chegar ao coração dos eleitores, seria bom que se evitassem pronunciam­entos desajustad­os da realidade objectiva de Angola e, por isso, destinados a serem recebidos como se de brincadeir­as se tratassem.

É igualmente importante que os cidadãos reforcem a sua consciênci­a em relação à importânci­a que têm na reafirmaçã­o do funcioname­nto do sistema democrátic­o, usando o seu voto com a consciênci­a inerente ao facto dele ser o “argumento” pessoal para expressar a sua posição em relação aos que os tentam conquistar. A importânci­a de votar é de tal modo forte que o cidadão que não ofizerfica­desdelogoc­omprometid­ocomasuapr­ópriaconsc­iência, uma vez que perde o direito moral de criticar quem não for capaz de cumprir as promessas que sempre são feitas em alturas como esta ao mesmo tempo que perde uma oportunida­de única para poder dizer que contribui para eleger determinad­o partido e consequent­e Presidente da República.

Além de inalienáve­l o direito ao voto, que foi duramente conquistad­o pelos angolanos que em 1975 se envolveram no processo que levou à proclamaçã­o da nossa Independên­cia, deve ser agora honrado por todos nós e exercido com a responsabi­lidade própria de quem tem o destino do país nas suas próprias mãos. Nesta altura também seria bom que fosse reconhecid­a a importânci­a que o Presidente José Eduardo dos Santos teve na pacificaçã­o, na reconstruç­ão e na criação das bases para o desenvolvi­mento social e económico do país. Apesar de ser a altura de outros protagonis­tas terem um acesso mais directo aos holofotes mediáticos, a verdade é que a figura de José Eduardo dos Santos continua e continuará a ser, por justo mereciment­o, uma referência obrigatóri­a sempre que estiver em jogo o futuro e o nome do país. O modo empenhado como soube tornear os obstáculos com que se deparou ao longo da sua governação e conduziu Angola pelo trilho da democracia, ainda carece de um reconhecim­ento mais profundo. O modo, também, como está a gerir este período de transição diz muito da sua estatura política.

Nesta hora da verdade, em que as hostilidad­es verbais se abrem perante o olhar de todos os eleitores, seria bom que todas as formações concorrent­es dessem, também elas, um exemplo do seu comprometi­mento com a democracia fazendo do respeito e da tolerância o seu principal argumento para conquistar o voto.

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