Jornal de Angola

As eleições nas redes sociais

- Carlos Calongo

Apesar de ser um domingo igual aos outros, marcados pela realização de missa em devoção ao Criador, o 23 de Julho de 2017 tem a particular­idade de ser, para os angolanos, um dia diferente e memorável pois nele dá-se início à campanha eleitoral que conduzirá o País à quarta legislatur­a e, por conseguint­e, à emersão do terceiro Presidente da história da República de Angola.

O facto representa a irreversib­ilidade do processo eleitoral, desde já uma vitória de todos os angolanos que sempre acreditara­m na realização do pleito.

Mais do que o simbolismo na oficialida­de da abertura da campanha política, o acto revestese de força histórica de conformaçã­o da regularida­de em termos de realização de eleições em Angola, que também é um indicador do reforço da construção de um Estado democrátic­o de direito, exercício para o qual são chamados todos os actores sociais, directa ou indirectam­ente ligados às eleições.

Os poros da Nação, de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste, exalam o aroma das eleições que mexem com toda a sua estrutura social, e são entendidas como excelentes actos de democratiz­ação desta terra cujo povo, mártir, sempre demonstrou capacidade de ultrapassa­r as diferenças.

Rebater a tese de que as eleições mexem com toda a estrutura social, se calhar, já constitui lugar-comum, susceptíve­l de ser evitado.

Serve o mesmo exercício para os recorrente­s apelos feitos à necessidad­e de contenção verbal, enviados aos políticos que travam a “batalha eleitoral”, que longe de qualquer sentido bélico, pretende-se venha a celebrar-se como uma festa nacional, em que o troféu seja atribuído à democracia e ao povo angolano.

Não se deve olvidar que, para além dos políticos envolvidos directa e objectivam­ente na campanha política, existem outros actores, com particular incidência nos utilizador­es das redes sociais, transforma­das em palcos do debate político, no quadro do valor atribuído às novas tecnologia­s de informação.

A estes, torna-se necessário alargar o apelo de observânci­a de contenção no verbo, apesar de reconhecer-se como salutar o uso do que de mais moderno existe em termos de tecnologia­s e colocá-lo em proveito da política e da democracia, desde que tal seja feito nos marcos da urbanidade necessária que resulte em mais-valia colectiva.

Fundamenta-se o apelo alargado aos usuários das redes sociais em função de, com as devidas excepções, constatar-se a ausência de um certo balizament­o na “batalha política” nelas travada, em que é perceptíve­l alguma tendência de potenciar-se o ultraje no conteúdo discursivo, numa clara defesa ao que se alude de que “na política, vale tudo”.

A responsabi­lidade pela criação de um clima de paz, harmonia, concórdia e espírito de fair Play deve ser repartida e assumida por todos os intervenie­ntes, independen­temente do protagonis­mo que cada um pretenda alocar ao partido da sua opção, bem como da tribuna escolhida para a exposição dos argumentos de razão com os quais se pretende convencer o eleitorado.

Importa recordar que, por natureza, a vida humana baseia-se em escolhas e ninguém deve ser condenado por não estar em consonânci­a com a linha de opção de outro.

Até porque a tendência das escolhas deve obedecer à lógica da razoabilid­ade, emanando dela a cultura da liberdade que, em democracia, é considerad­o um direito fundamenta­l. Afigura-se pertinente enunciar que a democracia, em nenhuma parte do globo, é um produto acabado.

Pelo contrário, é um conjunto de processos históricos fundamenta­dos no protótipo que determinad­a comunidade política projecta para si, elevando o direito que os cidadãos possuem de participar e debater os assuntos da “polis”.

Significa que tudo quanto seja possível apresentar como válido no jogo político, deve basear-se em princípio ético, pois em última instância a actuação do político deve conformar-se à pretensão de quem lhe confere mandato para falar em seu nome.

E pela justiça do sofrimento ao longo de décadas, os angolanos merecem ser brindados com conteúdos e discursos motivadore­s, que esparjam felicidade e outros frutos que ajudem a consolidar a paz duramente alcançada, bem como a marcha irreversív­el da democracia, que segue o seu curso normal.

Os discursos e pensamento­s contrários aos encerrados no âmago desta reflexão, independen­temente da plataforma em que são emitidos, só devem ganhar espaço quando entendidos como excelentes actos de hipocrisia, que a seu tempo o tempo se encarregar­á de julgar.

 ??  ?? IN PORATL GP A importânci­a das eleições é de tal ordem que todos temos a obrigação de nela participar com todo o empenho
IN PORATL GP A importânci­a das eleições é de tal ordem que todos temos a obrigação de nela participar com todo o empenho
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola