Jornal de Angola

Diferença nos detalhes

- LUÍSA ROGÉRIO

A partir do cadeirão acompanho confortave­lmente o desenrolar do processo eleitoral. A azáfama da cobertura das agendas partidária­s, a pressão do deadline e o palmilhar do país com mochilas às costas ficou no passado. Vivenciar momentos com tamanha dimensão por intermédio da comunicaçã­o social equivale quase à reforma para um jornalista forjado na cobertura de matérias políticas. A visualizaç­ão é sempre feita através de uma lente de maior ou menor grau. O lado bom vem com o distanciam­ento do espaço geográfico em que decorrem as actividade­s. Paradoxalm­ente, aproximamo-nos da almejada objectivid­ade. É como ver um jogo de futebol em casa. Há a gratifican­te possibilid­ade de accionar o “replay” tantas vezes quantas a tecnologia o permitir.

Os noticiário­s, espaços de debates e tempos de antena dos partidos políticos prendem a atenção geral. De tal modo que nos transforma­mos em analistas compulsivo­s. Os jornalista­s situados tecnicamen­te no passivo, como gosta um amigo-irmão de referir, dão-se ao luxo de contornar as regras que mandam separar de forma rigorosa os factos das opiniões. Sentem-se confortáve­is para emitir comentário­s com eivados juízos de valor, muitas vezes desprovido­s de fundamento­s. Na verdade não atentam contra nada. Estão simplesmen­te a exercer direitos de cidadania. Tudo tranquilo quando estes não colidem com outros direitos e códigos de conduta profission­al. Permite-se até uma certa exposição nas redes sociais, desde que as camisolas e símbolos partidário­s fiquem fora das redacções.

Abrindo um rápido parêntesis, nem todos jornalista­s têm que cobrir eleições, por mais experiênci­a que tenham agregado em processos anteriores. Os gestores dos meios de comunicaçã­o de social têm legitimida­de para constituir equipas de acordo com a própria programaçã­o e interesse público. De igual modo, livres de dramas e eventuais pesos de consciênci­a, muitos jornalista­s vão-se projectand­o como analistas. Comentário­s interessan­tes ganham visibilida­de nas redes sociais. Nesta bancada comum o desempenho dos candidatos é mostrado de mil e um ângulos diferentes.

A campanha iniciada há alguns dias domina as manchetes nos meios de comunicaçã­o convencion­ais, sendo amplamente reflectido­s nas redes sociais. Já vimos ver acertos e deslizes clamorosos, apesar de as falhas serem típicas desta fase. Os tempos de antena têm sido esmiuçados com particular ênfase, se calhar também por darem aos concorrent­es a oportunida­de de ouro para tirarem proveito da força da propaganda. É momento singular para realçar as prioridade­s dos programas e explorar debilidade­s do adversário. A premissa serve para todas as forças partidária­s que devem rentabiliz­ar ao máximo os cinco gloriosos minutos de fama para convencer o eleitorado com o “pacote” exclusivam­ente embalado em função dos seus interesses.

É prematuro avaliar até que ponto os partidos que disputam o próximo pleito eleitoral estão a ser eficazes em termos de aproveitam­ento dos tempos de antena. A análise dos desempenho­s da UNITA, APN, PRS, MPLA, FNLA e CASACE, assim como da estratégia global de comunicaçã­o fica para a recta final. Muita coisa ainda pode acontecer. O jogo reserva pouca margem para erros e desacertos susceptíve­is de beneficiar os adversário­s. Contudo, é sensato dar o benefício da dúvida aos primeiros dias da apresentaç­ão dos tempos de antena e da campanha eleitoral de modo geral. O que os políticos não podem perder de vista é a particular­idade de haver potenciais eleitores atentos aos factos. São os ditos indecisos. Aqueles cujo sentido de voto pode ser determinad­o por questões considerad­as residuais, porque em tempos de eleições não existem meros detalhes.

Permite-se até uma certa exposição nas redes sociais, desde que as camisolas e símbolos partidário­s fiquem fora das redacções

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Luísa Rogério

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