Diferença nos detalhes
A partir do cadeirão acompanho confortavelmente o desenrolar do processo eleitoral. A azáfama da cobertura das agendas partidárias, a pressão do deadline e o palmilhar do país com mochilas às costas ficou no passado. Vivenciar momentos com tamanha dimensão por intermédio da comunicação social equivale quase à reforma para um jornalista forjado na cobertura de matérias políticas. A visualização é sempre feita através de uma lente de maior ou menor grau. O lado bom vem com o distanciamento do espaço geográfico em que decorrem as actividades. Paradoxalmente, aproximamo-nos da almejada objectividade. É como ver um jogo de futebol em casa. Há a gratificante possibilidade de accionar o “replay” tantas vezes quantas a tecnologia o permitir.
Os noticiários, espaços de debates e tempos de antena dos partidos políticos prendem a atenção geral. De tal modo que nos transformamos em analistas compulsivos. Os jornalistas situados tecnicamente no passivo, como gosta um amigo-irmão de referir, dão-se ao luxo de contornar as regras que mandam separar de forma rigorosa os factos das opiniões. Sentem-se confortáveis para emitir comentários com eivados juízos de valor, muitas vezes desprovidos de fundamentos. Na verdade não atentam contra nada. Estão simplesmente a exercer direitos de cidadania. Tudo tranquilo quando estes não colidem com outros direitos e códigos de conduta profissional. Permite-se até uma certa exposição nas redes sociais, desde que as camisolas e símbolos partidários fiquem fora das redacções.
Abrindo um rápido parêntesis, nem todos jornalistas têm que cobrir eleições, por mais experiência que tenham agregado em processos anteriores. Os gestores dos meios de comunicação de social têm legitimidade para constituir equipas de acordo com a própria programação e interesse público. De igual modo, livres de dramas e eventuais pesos de consciência, muitos jornalistas vão-se projectando como analistas. Comentários interessantes ganham visibilidade nas redes sociais. Nesta bancada comum o desempenho dos candidatos é mostrado de mil e um ângulos diferentes.
A campanha iniciada há alguns dias domina as manchetes nos meios de comunicação convencionais, sendo amplamente reflectidos nas redes sociais. Já vimos ver acertos e deslizes clamorosos, apesar de as falhas serem típicas desta fase. Os tempos de antena têm sido esmiuçados com particular ênfase, se calhar também por darem aos concorrentes a oportunidade de ouro para tirarem proveito da força da propaganda. É momento singular para realçar as prioridades dos programas e explorar debilidades do adversário. A premissa serve para todas as forças partidárias que devem rentabilizar ao máximo os cinco gloriosos minutos de fama para convencer o eleitorado com o “pacote” exclusivamente embalado em função dos seus interesses.
É prematuro avaliar até que ponto os partidos que disputam o próximo pleito eleitoral estão a ser eficazes em termos de aproveitamento dos tempos de antena. A análise dos desempenhos da UNITA, APN, PRS, MPLA, FNLA e CASACE, assim como da estratégia global de comunicação fica para a recta final. Muita coisa ainda pode acontecer. O jogo reserva pouca margem para erros e desacertos susceptíveis de beneficiar os adversários. Contudo, é sensato dar o benefício da dúvida aos primeiros dias da apresentação dos tempos de antena e da campanha eleitoral de modo geral. O que os políticos não podem perder de vista é a particularidade de haver potenciais eleitores atentos aos factos. São os ditos indecisos. Aqueles cujo sentido de voto pode ser determinado por questões consideradas residuais, porque em tempos de eleições não existem meros detalhes.
Permite-se até uma certa exposição nas redes sociais, desde que as camisolas e símbolos partidários fiquem fora das redacções