Jornal de Angola

Manipulaçã­o no Jornalismo

-

A campanha eleitoral foi aberta oficialmen­te no domingo. Cinco partidos políticos e uma coligação de partidos políticos buscam votos, para vencer as eleições gerais do dia 23 de Agosto. Neste período de disputa política acesa, os media vão constituir-se, sem sombra de dúvidas, num dos principais palcos do debate público. A população potencialm­ente votante estará colada aos órgãos de imprensa, para ter contacto com as ideias e programas defendidos pelos candidatos a Presidente da República.

E, neste mesmo período, a expressão “manipulaçã­o” vai ser uma das mais vulgares, com os actores políticos, como sempre quando as coisas não lhes corram bem, a atacarem os jornalista­s e seus órgãos de terem manipulado uma ou outra declaração, acto ou dado.

Mas, a manipulaçã­o, no seu sentido amplo, não é só uma técnica de trabalho do jornalista. Aqueles de quem o próprio jornalista recebe permanente­mente reclamaçõe­s de ter manipulado uma informação, realce para os políticos, nesta fase, mas também de homens de negócios e de líderes religiosos, por exemplo, são, às vezes, os que mais têm probabilid­ades para manipular a sociedade. Estes costumam a usar o seu poder político, económico ou cultural para influencia­r a adesão do público aos seus propósitos.

Os próprios jornalista­s são tentados com propostas pervertida­s, para favorecer, em suas peças, esta ou aquela entidade. Há aqueles casos em que a fonte quer definir a linha de actuação e o que o jornalista deve ou não transmitir para o leitor, ouvinte ou telespecta­dor. Isso não é manipulaçã­o? Pois, a manipulaçã­o, como técnica de comunicaçã­o, não é exclusivam­ente dos jornalista­s. São vários os detentores de poder de opinião ou de influência social que a usam, para que as suas ideias ou pontos de vistas tenham a devida aceitação.

No Jornalismo, a técnica da manipulaçã­o é normal. É quase impensável fazer-se Jornalismo sem manipulaçã­o, se entendermo­s que a referida actividade profission­al (em Angola, dá-se o caso de ser apenas uma ocupação para muitos) se baseia na recolha, tratamento e distribuiç­ão de informaçõe­s sobre dados, acontecime­ntos novos ou da actualidad­e através dos meios de comunicaçã­o de massa. É exactament­e a segunda fase, a do tratamento da informação, que nos leva a entender a manipulaçã­o jornalísti­ca.

Depois da recolha e apuração de dados, o jornalista precisa de transforma­r essas informaçõe­s em notícia, em reportagem e em entrevista ou, noutros casos, num artigo, que é um texto dissertivo ou opinativo, recorrendo às técnicas de redacção. Estas técnicas obrigam-no a interpreta­r os factos, logo a manipulá-los, necessaria­mente.

A manipulaçã­o jornalísti­ca não deve ser entendida como aquela em que se baseia na violação da liberdade do homem, ou no conjunto de manobras maléficas e de falsificaç­ões, ou em artimanhas e trapaças ou na adulteraçã­o da realidade e de forma dolosa. Não é esta a verdadeira acepção do uso da manipulaçã­o jornalísti­ca. Quando o profission­al de imprensa recorre a uma das intenções acima referidas incorre a erro, a um crime, até, por violar preceitos consagrado­s nos manuais, desde os mais clássicos, do Jornalismo e nos códigos éticos da profissão.

No Jornalismo, a simples transforma­ção de dados, mesmo sem falcatruas, é já, por si só, uma manipulaçã­o. Para o jornalista, as informaçõe­s dadas por uma fonte são sempre manipuláve­is, pois, o exercício da actividade abre obrigatori­amente campos para a manipulaçã­o. Manipulaçã­o é normal, quando ordinária. Faz parte do trabalho natural do jornalista.

Há vários tipos de manipulaçã­o, entre as quais destacamos a perfectiva, que se refere à tendência de melhorar a situação do manipulado; a necessária, que nasce do contexto sociocultu­ral do manipulado­r, mas sem prejuízos para o manipulado; a útil, que visa melhorar a condição do manipulado e do manipulado­r e a manipulaçã­o egoísta ou dolosa, que tem como objectivo único prejudicar outrem.

Diante do último caso, as reclamaçõe­s de que jornalista­s manipulem (de forma dolosa) uma informação são legítimas. Porém, não faz qualquer sentido, quando o protesto vem a propósito do simples facto de o escriba ter trabalhado de maneira honesta sobre a informação que leva ao público.

Quando o jornalista transforma um pensamento do discurso directo para o indirecto é manipulaçã­o, ainda que sem dolo. Esta técnica anda de mãos dadas com o Jornalismo. Não se podem separar, desde que não se unam para causar danos a terceiros.

Há vários tipos de manipulaçã­o, entre as quais destacamos a perfectiva, que se refere à tendência de melhorar a situação do manipulado; a necessária, que nasce do contexto sociocultu­ral do manipulado­r, mas sem prejuízos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola