Jornal de Angola

Prova de sabedoria

- José Ribeiro

O povo angolano vai a votos, pela quarta vez, em eleições democrátic­as. Hoje é o último dia de campanha eleitoral. Amanhã é dia de reflexão. Depois de amanhã é dia de os 9.317.294 eleitores irem às urnas e votarem. Durante um mês inteiro, os cinco partidos políticos angolanos e uma coligação tiveram a oportunida­de de esgrimir os seus argumentos e propostas para o eleitorado acreditar em si. Livremente, apelaram ao voto no seu candidato a ocupar o Palácio da Cidade Alta e na sua formação.

Para nós, jornalista­s, é altura de analisar o que se passou na campanha eleitoral. A paz e a estabilida­de em que o país já vive há mais de 15 anos deram tempo para se esboçarem projectos políticos alternativ­os. A crise financeira que surgiu em 2014 exige novas propostas e soluções para a economia e a sociedade. Tanto por uma como por outra razão, esperava-se este ano uma campanha eleitoral mais forte e acutilante. Mas, a começar pelo maior partido da oposição, a UNITA, a acção dos partidos concorrent­es ao poder foi extremamen­te pobre.

Provavelme­nte, o motivo por que tal aconteceu, tenha a ver com o facto de a liderança da UNITA ainda viver de esquemas ideológico­s ultrapassa­dos e de preconceit­os do passado e estar totalmente desfasada da realidade. Isso explica também a ascensão meteórica da coligação CASA-CE, mesmo com os defeitos de nascença que apresenta e os vícios políticos em que embarca. Outro problema é a tentação de Abel Chivukuvuk­u para imitar as modas, mais do que modelos, que vingaram no mundo ocidental e cavalgar na onda de um populismo em Angola. Sem conteúdo programáti­co que permita perceber qual a corrente desta formação política, a linha adoptada por Abel soa a algo enganador, apenas para chegar à presidênci­a ou a lugares de deputado na Assembleia Nacional. Quanto às restantes formações políticas, elas praticamen­te não fizeram campanha, seja porque vêm repetindo o mesmo de há 25 anos, como sucede com o PRS e a FNLA, seja porque falta o pensamento diferencia­dor do projecto altamente global e abrangente que é o programa do MPLA, no qual se poderiam encaixar, mesmo correntes muito críticas, sem terem de formar novos partidos.

A campanha eleitoral de alguns partidos da oposição foi tão apagada que é justo perguntar o que fizeram dos fundos públicos que receberam destinados a divulgar um programa de governação estruturad­o e coerente. De determinad­o partido político, que não refiro o emblema para não influencia­r ninguém, apenas vi uma bandeira colocada nas ruas da capital do país ao 27º dia de campanha, enquanto nos Tempos de Antena exibia viaturas. Para onde foi a verba eleitoral dada pelo Estado à oposição para fins eleitorais?

Se há uma coisa que se destaca, à medida que novas eleições se realizam no nosso país, contrastan­do com o empobrecim­ento do nível político apresentad­o pelos partidos políticos da oposição, é que a qualidade da estrutura e dos meios mobilizado­s pelo país para a disputa política está a aumentar e a melhorar. A actualizaç­ão do registo eleitoral foi feita em todo o país, de forma presencial, por brigadista­s jovens que percorrera­m a pé o território nacional, algo nunca visto em nenhuma parte do Mundo. O trabalho da CNE e das Comissões Provinciai­s Eleitorais, que constituír­am 12.512 Assembleia­s de Voto, que incluem 25.873 Mesas de Voto, por todo o país, foi grandioso. Até nos mais de 100 mil efectivos da Polícia Nacional que vão garantir a segurança da votação está um esforço feito pelo Estado angolano em altura de eleições que não pode ser desprezado, de forma nenhuma. A imprensa angolana em geral e o Jornal de

Angola, em particular, fizeram uma cobertura inclusiva de todos os partidos, diversific­ada nos conteúdos, plural na opinião e com memória analítica e enquadrado­ra. Pelo que conheço da categoria dos profission­ais angolanos da comunicaçã­o social, a divulgação que vai ser feita do apuramento dos resultados eleitorais pelas televisões estará ao nível do melhor que se faz no Mundo.

Na realidade, a verdadeira fraude de que tanto se queixa a UNITA está em enganar o povo dando a entender que se está a fazer campanha política, quando não se faz nada isso, e apenas se quer obter fundos públicos, ameaçar e intimidar os eleitores antes da votação, como faz com os árbitros antes dos jogos aquele que sabe que vai perder.

As eleições são um momento de expressão viva da democracia e o voto um exercício do direito de cidadania. Tudo o que o povo angolano tem feito em altura de eleições é mais do que uma prova de civismo, é uma demonstraç­ão de grande sabedoria. Depois de amanhã, o povo angolano voltará, uma vez mais, a dar esse exemplo de maturidade e sabedoria eleitoral, elegendo quem esteve sempre ao seu lado e quem defende realmente os seus interesses. O resto é “fait divers”.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola