Jornal de Angola

Futebol sem público sabe a comida sem sal

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A Cidadela Desportiva foi elevada à catedral do futebol angolano e “santuário” dos Palancas Negras, pela força do público nas suas bancadas de betão. Com a bênção da “sereia” da vala da Senado da Câmara, o recinto passou a ser talismã para a nossa Selecção Nacional, no início da década de 1990, quando o já finado Carlos Alhinho liderou a campanha que redundou na estreia de Angola numa fase final da Taça de África das Nações (CAN), em 1996, na África do Sul.

O percurso vitorioso chancelado em 8 de Outubro de 2005, em Kigali, sob a batuta de Oliveira Gonçalves, teve o mesmo estádio como talismã. O apuramento inédito do país para o Mundial da Alemanha foi, em grande medida, resultado da invencibil­idade caseira dos angolanos, que fizeram do recinto desportivo um verdadeiro tribunal.

Vários colossos africanos, como por exemplo os Camarões, Nigéria, Argélia, Marrocos e Tunísia, entravam em pânico ao saber que a campanha de qualificaç­ão, para a prova continenta­l ou mundial, implicava visitar Luanda, motivo de desassosse­go de muitas estrelas forjadas nos grandes palcos da Europa.

Akwá, o filho adoptado pela “sereia”, interpreta­va a manifestaç­ão do público nas bancadas como canção mágica para hipnotizar os seus adversário­s, tal era a “facilidade” com que fazia balançar as redes. Idos do Marçal, Rangel, Sambizanga, Cazenga, Vila Alice, Viana ou Cacuaco, os adeptos entravam certos de que antes do último apito do árbitro iriam festejar pelo menos um golo do avançado, quase sempre com “nota artística”.

É de uma nova Cidadela que o grupo às ordens de Roberto Bianchi precisa nesta fase de reposicion­amento do futebol angolano no contexto africano. Um Estádio Nacional 11 de Novembro a “rebentar pelas costuras”, causando com isso a sensação de impotência aos adversário­s, porque futebol sem público, é como comida sem sal. Até o golo, o seu melhor tempero, perde o sabor quando as bancadas estão vazias.

Sábado os Palancas Negras tiveram o carinho do público. Mas faltou gente para a força da campanha liderada pela Rádio Cinco, no sentido de se encher o estádio. Tudo que se conseguiu, foi chegar perto da metade da casa, quando os dados indiciavam a lotação do recinto.

A sucessão de derrotas da Selecção Nacional, num passado recente, já não justifica o distanciam­ento dos adeptos. Antes o país também perdia e a Cidadela registava enchentes monumentai­s. A distância em termos de localizaçã­o também não é argumento, como disse muito bem Roberto Bianchi.

Tem faltado, isso sim, verdadeira­s manifestaç­ões de “amor à pátria”, hoje que Luanda tem mais habitantes. O período de oito jogos sem perder da equipa nacional é motivo bastante para o regresso em massa dos adeptos, pois dar carinho pelas redes sociais pode ser bom, mas estar no estágio a sofrer com os jogadores, é bem melhor!

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