A vez das lideranças
As teimosas vozes que clamam do meu interior ignoram os restantes mil e um aspectos destacáveis da actualidade global. Insistem no assunto do momento. Sensível, como quase todos os itens relacionados com a política doméstica, o incontornável tema boqueia o imaginário. Atiça a memória colectiva. Há alguns dias o tópico recorrente era eleições. A dinâmica do processo acrescentou “resultados provisórios”. Esse é o ponto! De discórdia, de acesas disputas nas redes sociais e de inimizades entre militantes de ânimos exaltados. É igualmente o ponto de partida para o entendimento da questão crucial. Os resultados eleitorais anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), através da sua portavoz, são mesmo provisórios, como o termo descreve.
O carácter provisório, porém, não anula a indicação de que o cabeça de lista do MPLA vai ser o novo presidente de Angola. De acordo com os resultados provisórios, João Manuel Gonçalves Lourenço é o virtual vencedor das eleições gerais. De modo a evitar derramar gasolina sobre focos inflamáveis e eventuais linchamentos morais, tão em voga nos dias correntes, reservo a análise sobre percursos vitoriosos e premissas não atingidas para depois da divulgação dos resultados oficiais que devem ser feitos pela CNE dentro dos prazos legais.
O facto é que o anúncio dos primeiros resultados desencadeou uma grande contestação entre os partidos políticos da oposição, principalmente a UNITA e a CASA-CE, que centraram as respectivas campanhas eleitorais na mudança legitimada pelo voto popular. Ambos acreditavam que seriam protagonistas da alternância no exercício do poder. O MPLA, por seu turno, também garantia o triunfo e, consequentemente, o mandato para continuar a conduzir os destinos do país ao mais alto nível. Todos os partidos têm legitimidade para acreditar na vitória. Aliás, ninguém disputa eleições a apostar na própria derrota, salvo em contendas entre correligionários de peso desproporcional conforme aconteceu no ano passado quando o candidato Kalupeteka prometeu entregar a presidência da CASA-CE a Abel Chivukuvuku, se merecesse a confiança dos militantes. O anedótico episódio foi a excepção que animou circunstancialmente os noticiários políticos.
Quanto às eleições do dia 23, evidentemente, só podem apurar um Presidente da República. Alguns analistas defendem que o MPLA terá sido pouco prudente ao equacionar os factores que o levaram a proclamar uma vitória por maioria qualificada antes da CNE anunciar os primeiros resultados provisórios. Outros consideraram demasiado vigorosa a primeira reacção da UNITA aos resultados provisórios. Ainda assim, no cômputo geral as principais forças partidárias pugnaram por uma postura de Estado ao apelar a militantes e simpatizantes para manterem a serenidade. Apesar da alegação de fraude feita por muitos cabos eleitorais e até pessoas não ligadas formalmente aos contestatários, apenas a posição dos seus líderes e mandatários os vincula directamente. Para efeitos legais vale o disposto pelos partidos através de documentos oficiais apresentados às devidas instituições.
As eleições correram de forma sublimar no que aos eleitores diz respeito. Os angolanos deram lições de cidadania e consciência cívica. Mas nem tudo correu sob feição. Há problemas resultantes de irregularidades de procedimentos que devem respeitar estritamente o preceituado na Constituição da República e na lei orgânica das eleições. A UNITA e a CASA-CE apontam falhas processuais que não podem ser ignoradas. É ponto assente que a contagem dos votos e a metodologia de divulgação deve obedecer aos trâmites legais. Enquanto não se justifica o espectro da fraude cabe aos líderes partidários cumprir o seu papel.
É ponto assente que a contagem dos votos e a metodologia de divulgação deve obedecer aos trâmites legais