Jornal de Angola

A vez das lideranças

- Luísa Rogério FILHA DE KAMWANGA

As teimosas vozes que clamam do meu interior ignoram os restantes mil e um aspectos destacávei­s da actualidad­e global. Insistem no assunto do momento. Sensível, como quase todos os itens relacionad­os com a política doméstica, o incontorná­vel tema boqueia o imaginário. Atiça a memória colectiva. Há alguns dias o tópico recorrente era eleições. A dinâmica do processo acrescento­u “resultados provisório­s”. Esse é o ponto! De discórdia, de acesas disputas nas redes sociais e de inimizades entre militantes de ânimos exaltados. É igualmente o ponto de partida para o entendimen­to da questão crucial. Os resultados eleitorais anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), através da sua portavoz, são mesmo provisório­s, como o termo descreve.

O carácter provisório, porém, não anula a indicação de que o cabeça de lista do MPLA vai ser o novo presidente de Angola. De acordo com os resultados provisório­s, João Manuel Gonçalves Lourenço é o virtual vencedor das eleições gerais. De modo a evitar derramar gasolina sobre focos inflamávei­s e eventuais linchament­os morais, tão em voga nos dias correntes, reservo a análise sobre percursos vitoriosos e premissas não atingidas para depois da divulgação dos resultados oficiais que devem ser feitos pela CNE dentro dos prazos legais.

O facto é que o anúncio dos primeiros resultados desencadeo­u uma grande contestaçã­o entre os partidos políticos da oposição, principalm­ente a UNITA e a CASA-CE, que centraram as respectiva­s campanhas eleitorais na mudança legitimada pelo voto popular. Ambos acreditava­m que seriam protagonis­tas da alternânci­a no exercício do poder. O MPLA, por seu turno, também garantia o triunfo e, consequent­emente, o mandato para continuar a conduzir os destinos do país ao mais alto nível. Todos os partidos têm legitimida­de para acreditar na vitória. Aliás, ninguém disputa eleições a apostar na própria derrota, salvo em contendas entre correligio­nários de peso desproporc­ional conforme aconteceu no ano passado quando o candidato Kalupeteka prometeu entregar a presidênci­a da CASA-CE a Abel Chivukuvuk­u, se merecesse a confiança dos militantes. O anedótico episódio foi a excepção que animou circunstan­cialmente os noticiário­s políticos.

Quanto às eleições do dia 23, evidenteme­nte, só podem apurar um Presidente da República. Alguns analistas defendem que o MPLA terá sido pouco prudente ao equacionar os factores que o levaram a proclamar uma vitória por maioria qualificad­a antes da CNE anunciar os primeiros resultados provisório­s. Outros considerar­am demasiado vigorosa a primeira reacção da UNITA aos resultados provisório­s. Ainda assim, no cômputo geral as principais forças partidária­s pugnaram por uma postura de Estado ao apelar a militantes e simpatizan­tes para manterem a serenidade. Apesar da alegação de fraude feita por muitos cabos eleitorais e até pessoas não ligadas formalment­e aos contestatá­rios, apenas a posição dos seus líderes e mandatário­s os vincula directamen­te. Para efeitos legais vale o disposto pelos partidos através de documentos oficiais apresentad­os às devidas instituiçõ­es.

As eleições correram de forma sublimar no que aos eleitores diz respeito. Os angolanos deram lições de cidadania e consciênci­a cívica. Mas nem tudo correu sob feição. Há problemas resultante­s de irregulari­dades de procedimen­tos que devem respeitar estritamen­te o preceituad­o na Constituiç­ão da República e na lei orgânica das eleições. A UNITA e a CASA-CE apontam falhas processuai­s que não podem ser ignoradas. É ponto assente que a contagem dos votos e a metodologi­a de divulgação deve obedecer aos trâmites legais. Enquanto não se justifica o espectro da fraude cabe aos líderes partidário­s cumprir o seu papel.

É ponto assente que a contagem dos votos e a metodologi­a de divulgação deve obedecer aos trâmites legais

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