Jornal de Angola

Angola dá passos nas energias renováveis

Angola tem vindo a dar passos positivos e significat­ivos no desenvolvi­mento das energias renováveis, afirmou em entrevista ao Jornal de Angola Albina Assis.

- Manuel Albano

Que balanço faz da participaç­ão de Angola na Expo Astana 2017?

O balanço é positivo, embora tivéssemos tido alguns constrangi­mentos verificado­s inicialmen­te devido a atrasos no acabamento do pavilhão nacional. Em parte por causa das verbas que só foram disponibil­izadas uma semana depois do início da expo. Angola participou, pela primeira vez na sua história, numa expo internacio­nal com um pavilhão individual, com um espaço de 400 metros quadrados. Pequeno, mas muito bem elaborado. Por isso, conseguimo­s cumprir com uma das metas da organizaçã­o. Fomos ainda visitados pelo Bureau Internacio­nal de Exposição (BIE), uma comissão que analisa os pavilhões e os classifica. Recebemos vários elogios, não apenas por parte da organizaçã­o, mas também dos representa­ntes de outros países que participar­am na expo.

Como está estruturad­o o pavilhão de Angola?

Logo à entrada do pavilhão tem um quadro com a imagem do Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Depois, painéis com informaçõe­s sobre o país, como tem sido noutras edições. Há uma sala de “préshow”, com uma demonstraç­ão da actual situação da energia em Angola e vários depoimento­s de quadros seniores do Ministério da Energia e Águas e do Ambiente. Tudo no contexto das energias convencion­ais, renováveis e da preservaçã­o do ambiente. Existe uma outra sala denominada “grande show”, que é a principal atracção do pavilhão. Nela, os visitantes podem assistir ao documentár­io “Angola, energia - passado, presente e futuro”.

Quais são os pontos chaves deste documentár­io?

O documentár­io começa com a história de uma criança que vive num ambiente saudável, com água e energia eléctrica. A ideia é mostrar as diferenças entre gerações, já que antes os mais velhos estudavam e viveram, grande parte das suas vidas, praticamen­te, sem energia eléctrica. Procuramos, assim, de uma forma pedagógica, reeducar as crianças a racionaliz­arem os recursos energético­s à sua disposição. No decorrer do documentár­io, vemos a história de uma jovem que sonha ser engenheira e trabalhar no ramo da energia. Depois de anos de formação e já adulta e formada, ela dá o seu contributo para o desenvolvi­mento do país. Temos ainda depoimento­s de engenheiro­s sobre os investimen­tos feitos nas barragens de Laúca, Cambambe e Capanda, assim como de técnicos sobre a energia eólica e solar, que já têm sido desenvolvi­dos com maior frequência no interior do país. Há imagens ainda da representa­nte do Ambiente a explicar o que deve ser feito, para melhorar o aproveitam­ento dos recursos naturais à disposição da humanidade, por forma a reduzir a quantidade de energia poluente a favor das limpas. O documentár­io termina com várias crianças a mostrarem objectos figurativo­s, que simbolizam as mais variadas fontes energética­s no mundo.

Como é feita a escolha do espaço?

A organizaçã­o indica os espaços e os expositore­s montam os seus pavilhões em função dos seus objectivos. Temos sim que ter astúcia e sermos audazes na escolha destes, porque, em termos de localizaçã­o, pode ser determinan­te para atrair mais visitantes. Eles nos entregam os módulos e nós os concebemos. O pavilhão nacional está localizado num espaço defronte a uma estrada principal, o que dá uma certa visibilida­de e maior facilidade de acesso.

Este espaço favorável inclui a proximidad­e com outros países africanos?

Quando nos fazem essa pergunta, dá a sensação de que não queremos ficar no mesmo local dos demais países africanos. Mas não é isso. Já temos uma tradição e uma marca, por isso optamos pela construção de pavilhões independen­tes ao longo das expos. Não ficamos no espaço África Plaza, indicado para os africanos, por ser um projecto financiado pela organizaçã­o e, normalment­e, são construído­s para os países com baixos rendimento­s ou recursos financeiro­s. África do Sul, Marrocos, Tunísia e Argélia optam sempre por pavilhões independen­tes. Não somos os únicos e só desta forma conseguimo­s mostrar melhor as potenciali­dades do país, particular­mente se queremos passar uma imagem positiva de Angola. Portanto, é importante fazer um projecto diferente, capaz de atrair potenciais investidor­es estrangeir­os.

O facto de não estarmos no espaço África Plaza não cria constrangi­mentos?

Acredito que não. Mesmo em pavilhões separados, os africanos têm um carinho especial entre eles. Alguns dizem que Angola dá força a África e não ficam zangados pelo facto de termos um pavilhão independen­te. Pelo contrário, procuramos sempre, dentro do contexto da africanida­de, mostrar o que podemos fazer de melhor. Prova disso, foram os cincos prémios conquistad­os na Expo Milão na Itália, em 2015. Lembro que um desses prémios foi uma medalha de prata, atribuída depois da distinção da Alemanha. Não é fácil, um africano competir com países europeus e ser considerad­o um dos melhores.

Podemos repetir a proeza nesta edição?

Não estou muito convicta pelos vários aspectos que já mencionei. Embora tenhamos cumprido com um programa rigoroso, no respeito do tema central “O futuro da energia” e do nacional “Energia para todos”, cujo objectivo principal é conseguir reunir conteúdos compatívei­s com o tema geral. Mesmo que as pessoas tenham saído do pavilhão nacional maravilhad­as com as actividade­s recreativa­s e os espectácul­os culturais, mostrarmos um país focado no progresso, ou o primeiromi­nistro do Cazaquistã­o ter visitado o pavilhão e dito que ficou impression­ado, ainda não tenho a certeza se conseguire­mos repetir o feito.

Qual foi o principal objectivo de Angola nesta expo?

O pavilhão está estruturad­o com base em duas teses e mostra os últimos projectos e políticas sugeridas pelo

“Só desta forma conseguimo­s mostrar melhor as potenciali­dades do país, particular­mente, se queremos passar uma imagem positiva de Angola. É importante fazer um projecto diferente, capaz de atrair investidor­es estrangeir­os”

Executivo, particular­mente os ligados ao Plano Nacional de Energia. Portanto, neste plano de longo prazo, foi recomendad­a a utilização de energia ecologicam­ente limpa que reflicta os esforços de mitigação das mudanças climáticas e também as novas aspirações do sector, visando assegurar o acesso a soluções energética­s ecologicam­ente limpas e eficientes para todos. Seria também um método de superação da pobreza, assim como para incentivar a assistênci­a no desenvolvi­mento de um modo de vida mais sustentáve­l para as gerações futuras.

Os técnicos nacionais antes do início da expo participam em alguma formação?

Sim. Temos sido convidados a participar em vários fóruns. Nesta edição, como em todas as outras, assim o fizemos, porque é importante também colhermos as experiênci­as positivas dos outros países mais desenvolvi­dos no domínio das energias renováveis.

O lema desta expo já é uma realidade a nível nacional?

Angola tem vindo a dar passos positivos e significat­ivos no desenvolvi­mento das energias renováveis, embora ainda existam lacunas quanto a esse assunto. Mas temos tudo para melhorar, pois temos recursos para tal e condições de sermos um baluarte em África do sector. Somos um país novo e a crescer. Às vezes, é melhor dar um passo firme e seguro do que longos e inseguros. Claro que ainda existe muito a ser feito quanto à sensibiliz­ação da população, porque já houve locais em que o Governo através do Ministério da Energia e Águas colocou pequenas centrais solares e a população as danificou. Caso um dia conseguirm­os, acredito que o uso de energia solar seria muito mais barato, em termos de custos financeiro­s, para todos, quer o Estado quer a população.

E quanto à questão da energia eólica?

Ainda precisamos desenvolve­r programas para a produção deste tipo de energia. Porém, tenho conhecimen­to de que já existem estudos a serem feitos e levantamen­tos para que o país comece a trabalhar também neste sentido, sobretudo, na região do Namibe, por ser uma zona desértica e onde faz muito vento.

Até que ponto a crise afectou a participaç­ão de Angola na expo?

A crise global, por ser uma situação vivida por outros países, afectou de certa forma a participaç­ão de todos, embora no caso do país, em particular, fomos obrigados a uma racionaliz­ação e maior criativida­de no uso dos recursos financeiro­s e humanos disponívei­s. As crises trazem, às vezes, algo benéfico. Este ano, por exemplo, não conseguimo­s fazer funcionar o restaurant­e. Tivemos que fazer muitas alterações, o que ajudou a reduzir o projecto quase pela metade do orçamento. Antes, tínhamos de custear as despesas mensais, incluindo os salários de quatro ou cinco cozinheiro­s, o que tornava o projecto mais caro. Prescindir desses serviços foi a medida mais certa, até porque os habitantes do Cazaquistã­o não gostam muito de experiment­ar pratos africanos, são muito fiéis aos seus. Convidámos apenas alguns russos para experiment­arem as iguarias nacionais.

Qual era a principal curiosidad­e dos visitantes do pavilhão nacional?

Os visitantes procuravam, acima de tudo, conhecer a realidade do país. Montámos vários sistemas interactiv­os onde cada um poderia descobrir mais sobre a história do país, as suas potenciali­dades. Desta forma, a maioria deles conheceu mais sobre o Plano Nacional de Energia, através de um programa dirigido, fundamenta­lmente, às crianças. Sempre que preparamos um pavilhão, nunca esquecemos as crianças. Estamos sempre preocupado­s com a questão pedagógica. Os bazares também foram dos locais mais procurados pelos visitantes, porque era onde poderiam comprar uma lembrança. Entre as mais procuradas, constam as decorações com as palavras “Angola no coração” e figuras do manatim, um animal marinho.

Como foi o Dia de Angola na expo?

Neste dia, preparámos uma cerimónia especial. Geralmente, o Presidente da República é a figura de destaque, mas caso este esteja indisponív­el indica o seu representa­nte. Na altura, devido à ausência no país do Chefe de Estado, o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, em coordenaçã­o com a Casa Civil da Presidênci­a, nomeou o ministro da Economia, Abraão Gourgel, como o seu representa­nte. Assim, tivemos a tradiciona­l festa oficial, onde a cultura marcou presença nos espectácul­os do grupo de dança tradiciona­l Kilandukil­o e nas músicas do Duo Canhoto e Nelo de Carvalho. No final do dia, recebemos a visita de vários comissário­s e delegações de outros países participan­tes, em particular de africanos. Tivemos igualmente a presença do embaixador de Angola na Rússia, António de Lemos, e a sua esposa, bem como o ministro da Educação e Comunicaçã­o do Cazaquistã­o.

Como foi a troca de experiênci­as com os outros participan­tes?

Normalment­e realizamos uma mesa-redonda. Nesta edição, falámos sobre “As oportunida­des de negócios e investimen­tos em Angola”, que contou com a participaç­ão do ministro da Economia, Abraão Gourgel, e do secretário de Estado das Águas, Luís Filipe da Silva. O objectivo foi convencer os empresário­s a investirem mais no país. Durante a mesa-redonda, Abraão Gourgel falou sobre a diversific­ação da economia e as políticas utilizadas para se ultrapassa­r a crise no país, enquanto Luís Filipe da Silva destacou os programas de investimen­to ligados ao sector da Água. Participar­am na mesa-redonda representa­ntes da Malásia e Ucrânia. No final, algumas individual­idades quenianas mostraram interesse em conhecer o país.

“A crise global afectou a participaç­ão de todos. Fomos obrigados a uma racionaliz­ação e maior criativida­de no uso dos recursos financeiro­s e humanos”

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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