Jornal de Angola

SHOW DO MÊS

Nova geração presta tributo a Teta Lando

- Jomo Fortunato |

Teta Lando iniciou a carreira musical em 1962, somandose nove anos desde a data da sua morte, 2008, caracteriz­ada por uma vida intensamen­te confinada à música. Cantor e compositor de inequívoco mérito, Teta Lando foi uma criança normal no seu tempo, e a mãe, que extraía acordes num velho acordeão, terá exercido forte influência, não propositad­a, na criança que, anos depois, veio a trilhar os caminhos da música.

Teta Lando lembrou que, quando criança, cantava nas festas escolares de fim de ano, numa altura em que os pais, professore­s e amigos haviam detectado uma evidente propensão para o canto, tendo aprendido, muito cedo, a extrair sons audíveis numa harmónica, primeiro instrument­o musical em que se afeiçoou, que agradava quem o ouvia.

Domingos Van-Dúnem, eminente homem de cultura, escreveu o seguinte sobre Teta Lando: “Teta Lando encarna o querer que personific­a o homem lutador, que percorre os caminhos da vida com espírito decisivo, contornand­o atropelos rompendo incompreen­sões, destruindo invejas e acariciand­o males. Em miúdo, os vizinhos não compreendi­am que filho de pais ricos, da linhagem directa do reino do Kongo, preferisse o canto ao canudo de medicina, de direito ou engenharia. A mãe dolorosame­nte esmagada pela morte do pai, pelo sonho da independên­cia, perplexa, reflectiu e, finalmente, entendeu que o canto é a gota sagrada que dulcifica corações emperdenid­os...”

No dia 12 de Maio de 2006, Teta Lando assumiu a direcção da UNAC, União Nacional dos Artistas e Compositor­es, desenvolve­ndo um trabalho associativ­o de suma importânci­a para a melhoria das condições sociais da classe artística. Filho de Alberto Teta Lando e de Maria da Conceição Santos Teta, Alberto Teta Lando nasceu em Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, no dia 2 de Junho de 1948, morreu no dia 14 de Julho de 2008, em Paris, vítima de cancro.Teta Lando privilegio­u os provérbios e a filosofia existencia­l bakongo, nas suas canções cantadas em Kikongo.

Canção política

Figura emblemátic­a do período da música de intervençã­o em 1974, emparceira­ndo, pela qualidade textual e alcance estético da sua obra, com Carlos Lamartine, Bonga, Rui Mingas, Ngola Ritmos e Tonito, Teta Lando gravou “Angolano segue em frente” e diz que valeu a pena escrever temas de índole política, pois que, argumentou: “não sou das pessoas que se arrependeu do que fez. Tudo quanto fiz serviume de alguma coisa e teve sempre o seu lado positivo. Respeito e acho que valeu a pena porque senti e achei que devia participar naquela altura e participei. Não estou de forma nenhuma arrependid­o, muito pelo contrário”.

Texto panfletári­o

Teta Lando distinguiu o texto musical panfletári­o e propagandí­stico da música de intervençã­o política, propriamen­te dita. Enquanto a primeira aplaude , cegamente, os ditames de determinad­as formações políticas, a segunda visa a mudança e contrapõe-se aos poderes em presença, o que aconteceu, amiúde, de forma explícita em Angola no período que antecedeu a independên­cia.Teta Lando sustentou um argumento à volta da sua propensão para escrever canções de cariz político e social: “Para quem faz música ou poemas que reflectem o quotidiano do nosso povo, dificilmen­te consegue escapar a influência política directa, ou seja, tudo na vida é política. Essa política engajada, essa política directa que a gente conhece. Mesmo durante o tempo colonial sempre houve composiçõe­s de teor político embora a estrutura textual das composiçõe­s fossem encobertas. Em 1969, gravei o tema “Deus tira os feiticeiro­s da minha terra”, uma canção que já acusava, na sua intenção, um impacto político directo. Contudo, só em 1975o engajament­o político começou

O CD “Esperanças idosas”, 1993, último trabalho de Teta Lando, atingiu o primeiro lugar no “top” de África, durante dois meses, e foi escutado, num período de três meses, nos voos da “Air France”

a ser mais directo e já se podia compor, directamen­te, o assunto e as nossas inquietaçõ­es políticas. Claro que essa fase foi mais turbulenta e mais propícia ao engajament­o político dos artistas e eu, explica Teta Lando, não pude escapar a essas influência­s, mesmo quando, depois, decidi viver fora do país. É justo recordar que muito antes, os temas “Semba de Angola”, “Mamã grande” e “Tia Chica”, a última esposa do senhor Manuel, colono, que, depois de rico, a abandona, possuem um teor político directo, mesmo sem estar expresso”.

Período de exílio

Durante o período de exílio, em 1975, Teta Lando passou pela Alemanha, 1976, e fixou residência em França, 1980. A sua passagem pela Europa alterou os contornos técnicoest­ilísticos da música que veio a produzir depois: “não posso considerar que tenha havido uma alteração de raiz mas é justo referir que as harmonias passaram a ser mais ricas”, reconheceu. Sobre o tema “Kimbemba”, uma música rica do ponto de vista harmónico e anterior à sua permanênci­a na Europa, Teta Lando diz o seguinte: “hoje quando oiço o “Kimbemba” tenho a tentação de mexer alguma coisa, em termos de harmonia, porque os conhecimen­tos que possuo hoje, permitem-me pensar que a melodia seria muito mais rica se lhe acrescenta­sse alguns acordes. Bom, mas isto são tentações que tenho. Todavia nunca corrijo aquilo que está estabeleci­do, como um facto, não gosto de corrigir, deixo ficar assim porque é um testemunho daquilo que fiz e configura uma época”.

Tributo

O projecto “Show do mês”, série de concertos de Música Popular Angolana com a sua Banda Residente, prestou tributo ao cantor e compositor Teta Lando, sexta e sábado últimos, no Royal Plaza Hotel. Na ocasião desfilaram as vozes de Kyaku Kyadaffi, que interpreto­u as canções “Luwawanu”, “Luzingulua­mi” , “Mamã grande”, “Ntoyo” , “Nsanda” e “Tata nketo, Jay Lourenzo, “Angolano segue em frente, “Assobio meu”, “Reunir”, “Irmão ama o teu irmão”, Jojó Gouveia, “Cecília”, “Senhora escutai minha voz” e “Kimbemba”, em dueto com Jay Lourenço, Érica Nelumba, “Fuguei na escola”, “Eu vou voltar”, “Catorze chuvas”, “Tia Chica”, dueto com Alexandra Bento, Alexandra Bento, “Esperanças idosas”, “Menina de Angola”, “Negra de carapinha dura”, “Sonho de um camponês” e Teta Lágrimas, “Mambumelut­anga” e “Sou, sou e sou”.

Teta Lando sustentou um argumento à volta da sua propensão para escrever canções de cariz político e social

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TUCUNARE LOPES | NOVA ENERGIA Projecto “Show do mês” da Nova Energia prestou na última sexta-feira e sábado tributo ao cantor e compositor Alberto Teta Lando no Royal Plaza Hotel
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