Jornal de Angola

Bom exemplo de cidadania no calor da festa do futebol

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Afinal, o capítulo 74 do clássico dos clássicos do futebol angolano, escrito domingo no Estádio Nacional 11 de Novembro, foi apenas um pretexto encontrado pelos adeptos do 1º de Agosto e Petro de Luanda, sem esquecer os “sem camisola” nesta disputa que se renova no tempo, para a grande lição de cidadania, num jogo com maquilhage­m de final, disputado sob o signo do respeito pelas diferenças e observânci­a do “fair play”.

Enquanto os petrolífer­os tentavam esconder a quebra física resultante do cortejo de jogos, num curto período, os militares assumiam a fome de vitória, com o acampament­o montado no terço defensivo do adversário. E Buá foi o malabarist­a de serviço, que, de forma “circense”, fez o cruzamento finalizado por Bobó, também em “nota artística”.

Mas o “homem do jogo”, na vitória que devolveu o comando do Girabola Zap ao 1º de Agosto, foi o público presente em grande número, num estádio aparenteme­nte fadado para imagens pálidas do futebol nacional, desde a goleada transforma­da em empate (4-4) de tão triste e profunda memória.

Quem gosta de arte sabe que não existe recompensa maior, para um criador, que o aplauso ou a aprovação de quem aprecia a obra. Sendo o futebol “bem jogado” uma forma de manifestaç­ão artística, a pintura humana das bancadas do estádio foi o grande catalisado­r da “revienga” do médio ofensivo militar.

Tudo começou na chegada ao recinto. Adeptos com as cores e adereços dos dois clubes, cerca de 40 mil, entravam pacificame­nte para tomar assento na bancada. Como na Cidadela, o “Angola Avante”, cantado a uma só voz, recebeu ovação com a dignidade do grito de um golo encravado na garganta.

No fim, chegado o momento de regressar para casa, quem teve olhos de repórter viu o lance mais bonito de uma tarde e noite para recordar daqui a muitos anos. 1º de Agosto e Petro de Luanda, os dois maiores emblemas do desporto nacional, por instantes deixaram de existir. Deram lugar a um mar de gente pintado de preto, vermelho, azul e amarelo.

De mãos dadas, adeptos dos dois clubes caminharam sem qualquer ressentime­nto, certos de que a única vitória tinha sido a da cidadania publicitad­a pelo povo, acabado de sair das urnas. Viva Angola!

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