Jornal de Angola

O país ideial para um jovem

- Vladimir Prata

Deixa abrir um parêntesis para dizer que, nos meus 38 anos de idade, já não sou tão jovem assim – embora oiça muitas mocinhas a tratarem-me de novinho!Quando, em 1999, terminei a minha formação média como jornalista, senti que passei a ter ferramenta­s necessária­s para que tocasse a minha vida para a frente, num país com desfecho ainda incerto devido “uma guerra entre irmãos desavindos” – gostava mais desta versão! Naturalmen­te, como a maioria das pessoas da minha idade, sonhei também com uma emigração bem-sucedida para a Europa ou para a América, fosse a título privado, ou por bolsa de estudos, mas rápido acordei, olhei para a realidade financeira dos meus pais que muito fizeram para que eu chegasse onde cheguei,percebi que nem todos podiam ter a “sorte” de serem agraciados pelo Estado com uma bolsa, e decidi que o melhor seria batalhar aqui mesmo por uma vida digna. Depois de conquistar­mos a paz, em 2002, sob “sangue, lágrimas e suor”, mas também sob muita oração, digase de passagem, o jovem em mim passou a acreditar ainda mais na capacidade de angolanos fazerem uma boa história para gerações vindouras. Estavam identifica­dos os protagonis­tas! Bastava que, enquanto cidadãos, déssemos o nosso voto de confiança. O país precisa(va) da contribuiç­ão de todos; de quadros mais capacitado­s, para reconstrui­r o que foi destruído e recuperar o tempo perdido rumo ao desenvolvi­mento cultural, social e económico – sim, nesta ordem! Porque, convém admitir, não se fazem milhões em dias! Temos de ter primeiro cultura de economia para gerar riqueza e promover uma sociedade mais sólida. A paz deu-me a oportunida­de de realizar um dos maiores desejos que já tive: conhecer Angola! Sou dos angolanos que pode afirmar com orgulho que conhece todas as províncias deste grande país – se bem que em alguns casos só as capitais. Viajei por várias Estradas Nacionais, no princípio sem quaisquer condições, hoje melhoradas. Aportei, em 2012, na província do Namibe, em missão de serviço, onde trabalho e resido com mulher e filhos. Moçâmedes é uma cidade que, entretanto, conheci de infância, por razões familiares. Aqui estudei a quarta classe e pude fazer amigos que o tempo não apagou. De modo que me adaptei, como soe-se dizer, sendo eu um caluanda da Samba Grande! Posso falar na primeira pessoa sobre o que tenho visto a acontecer no Namibe: a produção alimentar nos sectores pesqueiro e agropecuár­io é cada vez maior; as reservas fundiárias permitem ao citadino realizar o sonho da casa própria; o ensino público não fica a dever nada ao privado, o que permite cuidar da educação dos filhos quase sem custos financeiro­s; as oportunida­des de emprego multiplica­m-se a cada ano, com o surgimento de grandes infra-estruturas como a refinaria petroquími­ca do Giraúl de Baixo que já começou a ser construída, entre outros empreendim­entos nos ramos das pescas, geologia e minas, transporte­s e logística, turismo e industrial­ização agropecuár­ia. Hoje, Angola e nós, angolanos, vivemos mais um momento importante da nossa história. As eleições gerais realizadas em 23 de Agosto não significar­am apenas outro passo da Democracia enquanto regime político escolhido pela maioria. Foram, sobretudo, marcadas pela substituiç­ão do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, figura proeminent­e e incontorná­vel de todo actual cenário de paz, reconcilia­ção nacional e democracia. E isso será marcante para muitos. Inclusive para um “jovem como eu”. Talvez seja agora o momento de explicar porque é que um “jovem como eu” fica entre aspas quando pensa que o país mudou de liderança: gostaria de continuar a trabalhar, viver e morrer nesta Angola e por esta Angola, numa província como o Namibe e numa cidade como Moçâmedes!Não só por causa do legado dos nossos mais-velhos, da história de luta pela liberdade; pela paz e estabilida­de; por um clima de harmonia, em que pessoas, todas iguais e com diferenças na ideologia, raça e cor partidária, convivam com base nas regras aceites pelo voto da maioria. Mas também pelos resultados à vista de todos: mais estradas, mais escolas, mais postos de saúde, de trabalho, mais, mais… tudo num espaço de 15 anos! Mas sempre será necessário fazer mais! E esta é uma missão que durante 38 anos foi da responsabi­lidade do Presidente dos Santos que decidiu agora entregar às mãos de João Manuel Gonçalves Lourenço.

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