Jornal de Angola

Quando uma reclamação dá lugar à estupefacç­ão

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O Tribunal Constituci­onal julgou improceden­tes os recursos de contencios­o eleitoral das quatro principais formações políticas da oposição e, confesso, não posso deixar de exprimir uma certa estupefacç­ão pelo facto de os juízes terem concluído haver fortes indícios de falsificaç­ão nos documentos apresentad­os pelos partidos UNITA e PRS.

A perplexida­de, que me parece ser mesmo geral, assenta no facto de, salvaguard­ando o princípio da presunção de inocência, de difícil probabilid­ade nessas situações, quer a UNITA quer o PRS se terem permitido recorrer à fraude, que tanto dizem condenar, para tentar convencer o tribunal Constituci­onal de que a Comissão Nacional Eleitoral não fez o seu trabalho com competênci­a.

E é triste verificar que duas formações políticas do calibre da UNITA e do PRS tenham, ao apresentar­em documentos de idoneidade duvidosa, transmitid­o à sociedade um exemplo que não deve ser seguido, em que fica patente a máxima segundo a qual “vale tudo…”

É bom frisar que não se contesta o direito da oposição de reclamar. Reclamar faz parte da democracia, do Estado de Direito e Democrátic­o que nos propusemos construir. Não é isso que está em causa. O que preocupa é, com que fundamento­s reclamar, que elementos de prova apresentar e se essas provas são suficiente­mente idóneas para produzir os efeitos desejados. E quando se fala de provas idóneas, falamos de provas irrefutáve­is.

O que se viu, foi tudo menos isso.

Foi o adensar da cultura de suspeição que tomou de assalto, de há uns tempos a esta parte, algumas mentes férteis em associar o nome de Angola a tudo o que de negativo acontece, até mesmo à compra de ovos contaminad­os que, afinal, há mais de quatro anos não os importamos.

E porque vinha da oposição, e porque tudo o que vem da oposição é para dar crédito, uns tantos iluminados se empenharam em fazer sua a voz dos reclamante­s e encarregar­am-se de amplificar o que, afinal, outros muitos sabiam, de antemão, ser só uma gritaria. Um jogo para esconder uma verdade incómoda: o facto de, toda ela junta, a oposição não ter conseguido 50% dos votos possíveis.

Não estou a ver o conjunto de personalid­ades e entidades estrangeir­as que reconhecer­am os resultados das eleições e felicitara­m o Presidente da República eleito a fazerem-no se não tivessem reunidas as informaçõe­s essenciais sobre o modo como elas foram preparadas, sobre a tecnologia, o software e a componente de segurança e fiabilidad­e do equipament­o empregues, sobre as empresas envolvidas e a seriedade e o grau de profission­alismo empenhados, enfim, toda uma soma de soluções destinadas a reduzir à margem mínima eventuais erros.

Talvez a oposição não contasse com isso e, vai daí o ter-se embrulhado em imbróglios desnecessá­rios que acabam por lhe penalizar moralmente quando vêm à superfície revelações de ter viciado as provas levadas a tribunal, o que, bem analisadas as coisas, é mais grave do que sofrer um desaire eleitoral.

Se, não sendo Governo, se anda a rasurar as actas, quando for, que validade terão os documentos por si produzidos? Que segurança vai transmitir aos cidadãos?

A sociedade angolana está cada vez mais exigente e a pressão para que haja mudanças é não só sentida a vários níveis como também é legítima.

Se ao MPLA se exige uma nova postura, uma nova forma de governação, que abandone certas práticas e realize com maior eficácia os programas sócio-económicos destinados a satisfazer as necessidad­es dos cidadãos, não me parece que, uma vez provada a acusação, a sociedade passe a ver com bons olhos uma oposição que não hesita em recorrer à falsificaç­ão de documentos de prova com o objectivo de enganar o tribunal e querer aparecer junto do público como tendo conseguido outros resultados.

De tudo isto permito-me concluir que precisamos também de uma outra oposição, mais séria e responsáve­l, que saiba reconhecer também e corrigir os seus erros, pois assim a democracia e o país saem também a ganha.

De tudo isto permito-me concluir que precisamos também de uma outra oposição, mais séria e responsáve­l, que saiba reconhecer também e corrigir os seus erros, pois assim a democracia e o país saem também a ganha

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Rui Ferreira Presidente do Tribunal Constituci­onal CARLOS VIEGA
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