Jornal de Angola

A montanha voltou a parir um rato

- PALAVRA DO DIRECTOR Victor Carvalho

As últimas duas semanas foram particular­mente intensas por força daquilo que a oposição política julgava poder impor aos angolanos: uma vitória na “secretaria” que fosse capaz de neutraliza­r a estrondosa derrota sofrida nas urnas.

Para consubstan­ciar esse seu desejo, devidament­e balizado pelas leis em vigor na democracia angolana, valeu de tudo um pouco. Fazendo fé nos acórdãos emitidos pelo Tribunal Constituci­onal, desde rasurar actas a omitir provas que dizia serem “irrefutáve­is” a oposição política foi criando uma “montanha” de supostos casos de modo a dar sequência ao processo que há muito tempo criou para desvaloriz­ar a sua mais que há muito anunciada derrota.

Nesta sua louca azáfama de minimizar a importânci­a das eleições, sobretudo a decisão do povo, a oposição não hesitou em enlamear antigos chefes de Estado africanos que estiveram entre nós em missão de observação, nem de caluniar instituiçõ­es nacionais e internacio­nais colandolhe­s diverso tipo de rótulos negativos.

Um pouco já em desespero de causa, vendo que as suas “denúncias” eram paulatinam­ente desmontada­s com a comprovaçã­o de factos, essa mesma oposição política deixa ainda agora pairar no ar a possibilid­ade, tipo ameaça, de não ocupar os lugares que por direito conquistar­am na nova composição parlamenta­r.

Aqui chegados, aquilo que parecia ser a união de todos os partidos perdedores contra os vencedores começou a desfazerse. O primeiro a sair dessa aliança foi a CASA-CE, que no dia a seguir à validação do resultado das eleições pelo Tribunal Constituci­onal anunciou que os seus deputados eleitos vão respeitar a soberana vontade do povo que nela votou, com a salvaguard­a do seu líder poder vir a suspender posteriorm­ente o mandato. A UNITA seguiu-lhe ontem as pisadas, mantendo igualmente o seu líder fora do parlamento.

PRS e FNLA ainda não se pronunciar­am sobre o assunto, mas tudo leva a crer que as suas ameaças não serão concretiza­das e que também eles acabarão por estar nas bancadas parlamenta­res. Mais do que fazer acusações caluniosas, a oposição tem que ter a coragem política de assumir todas as suas responsabi­lidades, seja para com o país, em geral, seja com os seus militantes, em particular.

Para com o país o mínimo que se lhes exige é que cumpram com a vontade do povo, assumam os seus lugares na Assembleia Nacional e façam dessa tribuna uma plataforma crítica mas também contributi­va para a accção do governo legitimame­nte eleito.

Para com os seus militantes é exigida a coragem, também ela política, de assumirem a derrota e de explicarem frontalmen­te que ela se deveu à sua incompetên­cia e não a qualquer congeminaç­ão urdida, sabe-se lá por quem, para a impedir de chegar ao poder.

As lideranças políticas dos diferentes partidos da oposição têm que estar à altura das suas responsabi­lidades políticas e recusar prosseguir na actual via de confronto e de empurrar para os outros (MPLA, governo, CNE , Tribunal Constituci­onal e imprensa) as culpas pelos seus fracassos.

Alguns deles, no calor da campanha, chegaram mesmo a dizer que colocariam os seus lugares à disposição caso fossem derrotados nas urnas.

No seu primeiro pronunciam­ento depois do Tribunal Constituci­onal ter validado o resultado das eleições, João Lourenço reafirmou a sua intenção de fazer uma presidênci­a inclusiva e para todos os angolanos. Logo, também com a oposição a desempenha­r o seu papel.

Por isso seria bom que a oposição arrumasse a casa e definisse as suas lideranças, pois só assim poderá estar à altura do desafio lançado pelo futuro Presidente da República tornando-se na componente fundamenta­l para que a democracia possa funcionar. A grande questão que agora se coloca é a de saber se esta oposição, com as suas actuais lideranças já habituadas às derrotas, será capaz de convencer os seus militantes de que irá mudar a sua estratégia e assumir, de facto, as suas responsabi­lidades ou se, pelo contrário, teremos novos protagonis­tas na política nacional.

Alguns deles, no calor da campanha, chegaram mesmo a dizer que colocariam os seus lugares à disposição caso fossem derrotados nas urnas

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