Jornal de Angola

Uma derrota anunciada

- Paulo Pinha

A indústria do cinema dos Estados Unidos da América (EUA) tem demonstrad­o ao longo dos anos uma percepção quase infalível das tendências do público.

No meio de alguns “flops”, uma palavra inglesa que significa fracassos, filmes de acção, comédia e dramas comoventes fazem “disparar” as receitas de bilheteira, traduzidas em números redondos, gordos e astronómic­os.

Os resultados de bilheteira são publicados semanalmen­te na imprensa norte-americana, depois de aferidos e recontados por uma instituiçã­o idónea e independen­te dos estúdios de cinema. As preferênci­as do público aparecem “espelhadas” nos algarismos que máquina alguma, até agora, conseguiu manipular, nem sequer na imaginação de um cineasta de créditos firmados.

Histórias de bandidos, políticos e polícias corruptos, traficante­s e terrorista­s são alguns exemplos de como a ficção não está longe da realidade, mesmo que esta nem sempre “salte” para os écrans, como se fosse impulsiona­da por uma máquina, ou ganhasse vida própria.

Cenas de pancadaria, tiros, acidentes de viação ou aéreos, quedas de cavalo e envenename­ntos preenchem os argumentos dos filmes mais populares. Para isso, e como em tudo na vida, há uma explicação. Um psicólogo dirá que a violência excita pessoas com uma mente perturbada. Um polícia de investigaç­ão forense, provavelme­nte, encolhe os ombros diante de uma cena de crime, porque está habituado a ver cenas horrorosas.

Pois é. A banalizaçã­o da criminalid­ade nos écrans pode induzir a alguns

comportame­ntos anormais e levar, em situações limites, certas pessoas a incitar à violência, porque o clube de sua “eleição” perdeu no final do tempo regulament­ar, sem interferên­cia do quarteto de árbitros.

Em alguns campos pelados de Angola já ocorreram “batalhas campais” por uma entrada “musculada” de um jogador, rapidament­e controlada­s pelos agentes da autoridade presentes no recinto desportivo, mas nada comparado com desmandos de maior gravidade noutros países.

Tais actos levaram as instituiçõ­es que superinten­dem o desporto, em colaboraçã­o com as autoridade­s de defesa e segurança, a tomar as medidas apropriada­s. O mesmo aconteceu noutros “palcos” desportivo­s, quando as autoridade­s desportiva­s internacio­nais disseram “basta!” à violência nos estádios de futebol.

Os resultados tardaram a aparecer, mas as acções empreendid­as deram resultado,depois da introdução de campanhas de sensibiliz­ação e de medidas persuasiva­s.

Hoje em dia, em alguns países onde essas práticas foram implementa­das, os adeptos assistem a jogos com tranquilid­ade, na companhia de familiares e amigos, alguns dos quais vestem a camisola de outro clube.

Pois é, custa a acreditar. No entanto, todo o esforço conjugado de clubes, instituiçõ­es desportiva­s e autoridade­s surtiu o efeito desejado.

Actualment­e, os estádios do Reino Unido são frequentad­os por adeptos de emblemas rivais num ambiente pacífico, porque interioriz­aram que o amigo, o vizinho ou, mesmo um parente, simpatizan­te de outro clube, é a mesma pessoa, antes, durante e depois de assistir a um desafio.

Dentro das quatro linhas, há 22 jogadores a defenderem os clubes respectivo­s. Outros ficam no banco dos suplentes à espera de uma oportunida­de para pisar a relva. Independen­temente do salário que auferem e do estatuto dentro do plantel, respeitam-se dentro e fora do estádio. Como iguais, ainda que saiam do balneário, equipados de modo diferente.

Histórias de bandidos, políticos e polícias corruptos, traficante­s e terrorista­s são alguns exemplos de como a ficção não está longe da realidade, mesmo que esta nem sempre “salte” para os écrans, como se fosse impulsiona­da por uma máquina, ou ganhasse vida própria

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