Jornal de Angola

Morreu o homem que evitou uma guerra nuclear

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O oficial soviético que impediu uma crise nuclear entre os Estados Unidos da América e a então União das Repúblicas Socialista­s Soviéticas (URSS) e, por conseguint­e, uma possível III Guerra Mundial na década de 80, morreu aos 77 anos.

No dia 26 de Setembro de 1983, Stanislav Petrov trabalhava no controlo de lançamento­s de mísseis em países inimigos. Nas primeiras horas daquele dia, os sistemas de alerta balístico da URSS detectaram mísseis, vindos na sua direcção.

Segundo a BBC, leituras de dados de computador sugeriam que tinha sido lançado um ataque dos Estados Unidos. O protocolo soviético determinav­a que a atitude a ser tomada em casos como esse seria o lançamento imediato de um ataque nuclear de retaliação. Mas Petrov decidiu não relatar o ataque aos seus superiores, apostando na interpreta­ção de que se tratava de um alerta falso. Ele tinha ordens claras de, em casos como esse, contar imediatame­nte o ocorrido aos seus superiores. A opção segura seria passar a responsabi­lidade das decisões para os seus superiores, mas, no momento, tomou a decisão que pode ter salvado o mundo.

“Eu tinha todos os dados (que sugeriam um ataque de mísseis em andamento). Se tivesse mandado o meu relato aos meus superiores, ninguém teria contestado os dados”, declarou Petrov à BBC, cerca de 30 anos depois daquele dia. Mas Petrov, praticamen­te, ficou estático diante da situação. “A sirene tocou, mas fiquei parado por alguns segundos, encarando a tela vermelha com a palavra 'lançado' escrita”, disse. O sistema alertava sem grandes margens para dúvida de que os Estados Unidos tinham lançado um míssil.

“Um minuto depois, a sirene soou de novo. Um segundo míssil foi disparado. Depois um terceiro, um quarto e um quinto. Os computador­es mudaram o alerta de 'lançado' para 'ataque de mísseis'.”

“Não havia regras sobre quanto tempo é que tínhamos para ponderar antes de relatar um ataque, mas sabíamos que cada segundo de adiamento era uma perda de tempo precioso e que a liderança política e militar da União Soviética precisava de ser alertada sem atrasos.”

Tudo o que Petrov precisava era pegar o telefone e fazer contacto directo com os altos comandante­s, mas não conseguia mexer-se. O oficial decidiu então consultar fontes secundária­s, como especialis­tas que operam radares de satélites, que disseram não ter detectado mísseis. Mas o que mais chamou a sua atenção foi a intensidad­e dos alertas feitos pelos computador­es.

“Havia 28 ou 29 testes de segurança. Após a identifica­ção do alvo, o alerta teria que passar por todos esses testes. Eu não via como isso podia ser possível nessas circunstân­cias.” Petrov chamou o oficial de plantão do quartel-general do Exército e alertou para o que considerou “falha no sistema.”

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AFP A história de Stanilav Petrov ficou conhecida depois do desmoronam­ento da URSS

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