Ensinando cidadania
Em definitivo, o advento da Internet mudou o mundo. Nunca os seres humanos estiveram tão perto e tão distanciados uns dos outros. Fazemos parte da vida alheia. A magia da tecnologia, que coloca grande parte da humanidade na comum aldeia global, transporta as suas desvantagens. Mas a balança pende para o lado favorável.
Os jovens, principalmente aqueles que fazem do espaço virtual o seu verdadeiro mundo, acham impossível conceber a vida longe da internet. Os nascidos e criados na era da tecnologia analógica interrogam-se como foi possível sobreviver tanto tempo sem a Internet nossa de todos os dias.
Se estivesse a escrever uma redacção ao estilo do primórdio ensino primário começaria pela clássica frase “eu gosto muito”. Da internet, pois claro! Para não ser redundante nem exaustiva contorno o milhão e meio de razões para me concentrar no motivo de tanto regozijo pela rede que transformou o planeta. Numa busca aleatória cruzei-me com matérias sobre a campanha eleitoral com vista à eleição dos novos corpos sociais da Associação de Estudantes da Universidade Católica de Angola. Algo normal em democracia.
Qual a relevância da eleição num circuito universitário no país que acabou de acolher eleições gerais? Encontrei respostas redentoras para a pertinente pergunta no Ucanbook, página da universidade no Facebook.
Três listas integradas por estudantes das distintas faculdades concorrem à liderança da Associação a ser eleita hoje. Tomás das Neves, Ciozandro Panzo e Garrido Martins são os líderes, respectivamente, das equipas União e Vitória, NÓS e Valor. Designações fortes. Cada uma tão sugestiva quanto a outra. Apreciei as diferentes propostas. Comparei-as inadvertidamente. Primeira ilação: todos os concorrentes estão preocupados em contribuir para melhorar a gestão e transparência da instituição que os forma do ponto de vista académico como é sua missão, mas que contribui igualmente para estruturar seres humanos melhores.
Engajados e participativos os estudantes aspiram ao estatuto de parceiros sociais da direcção e, fundamentalmente, interlocutores dos estudantes. Questões díspares como o pagamento de propinas, a investigação científica feita pelos estudantes, sem descurar a melhoria de condições favoráveis à absorção de conhecimentos dominam as agendas. Os projectos de trabalho das listas concorrentes são tão auspiciosos que se destacariam no perfil de qualquer estabelecimento vocacionado para o ensino. No fundo, seja qual for a equipa, o que os estudantes reflectem sobre os seus anseios. Exteriorizam expectativas. Afinal, quando se matriculam numa universidade não o fazem no âmbito de mera troca de serviços.
De repente dei por mim a acompanhar via internet o debate que colocou frente a frente os líderes concorrentes. Como é da praxe, cada candidato expôs o seu programa, tendo todos beneficiado de vinte minutos para responder às perguntas da interactiva plateia. Com um entusiasmo quase juvenil, típico da época em que não conseguia fazer destrinça entre causas sociais e vida pessoal, vivenciei o desempenho dos estudantes. Importa pouco saber quem vai vencer porque vitoriosos são todos os jovens que contribuem para o fomento da cultura do associativismo.
Na verdade ao engajarem-se em comuns actividades inerentes ao associativismo os estudantes dão soberbas lições de socialização. Partilham princípios imprescindíveis à construção de cidadania que ganham especial relevo num contexto em que gente com curriculum enriquecido por canudos e cargos não faz a menor ideia de que cidadania se materializa no ponto que equilibra direitos e deveres. Os estudantes dão a quem tem cadeiras em atraso a oportunidade ímpar de se matricular.
Nunca os seres humanos estiveram tão perto e tão distanciados uns dos outros