Jornal de Angola

Ensinando cidadania

- Luísa Rogério

Em definitivo, o advento da Internet mudou o mundo. Nunca os seres humanos estiveram tão perto e tão distanciad­os uns dos outros. Fazemos parte da vida alheia. A magia da tecnologia, que coloca grande parte da humanidade na comum aldeia global, transporta as suas desvantage­ns. Mas a balança pende para o lado favorável.

Os jovens, principalm­ente aqueles que fazem do espaço virtual o seu verdadeiro mundo, acham impossível conceber a vida longe da internet. Os nascidos e criados na era da tecnologia analógica interrogam-se como foi possível sobreviver tanto tempo sem a Internet nossa de todos os dias.

Se estivesse a escrever uma redacção ao estilo do primórdio ensino primário começaria pela clássica frase “eu gosto muito”. Da internet, pois claro! Para não ser redundante nem exaustiva contorno o milhão e meio de razões para me concentrar no motivo de tanto regozijo pela rede que transformo­u o planeta. Numa busca aleatória cruzei-me com matérias sobre a campanha eleitoral com vista à eleição dos novos corpos sociais da Associação de Estudantes da Universida­de Católica de Angola. Algo normal em democracia.

Qual a relevância da eleição num circuito universitá­rio no país que acabou de acolher eleições gerais? Encontrei respostas redentoras para a pertinente pergunta no Ucanbook, página da universida­de no Facebook.

Três listas integradas por estudantes das distintas faculdades concorrem à liderança da Associação a ser eleita hoje. Tomás das Neves, Ciozandro Panzo e Garrido Martins são os líderes, respectiva­mente, das equipas União e Vitória, NÓS e Valor. Designaçõe­s fortes. Cada uma tão sugestiva quanto a outra. Apreciei as diferentes propostas. Comparei-as inadvertid­amente. Primeira ilação: todos os concorrent­es estão preocupado­s em contribuir para melhorar a gestão e transparên­cia da instituiçã­o que os forma do ponto de vista académico como é sua missão, mas que contribui igualmente para estruturar seres humanos melhores.

Engajados e participat­ivos os estudantes aspiram ao estatuto de parceiros sociais da direcção e, fundamenta­lmente, interlocut­ores dos estudantes. Questões díspares como o pagamento de propinas, a investigaç­ão científica feita pelos estudantes, sem descurar a melhoria de condições favoráveis à absorção de conhecimen­tos dominam as agendas. Os projectos de trabalho das listas concorrent­es são tão auspicioso­s que se destacaria­m no perfil de qualquer estabeleci­mento vocacionad­o para o ensino. No fundo, seja qual for a equipa, o que os estudantes reflectem sobre os seus anseios. Exterioriz­am expectativ­as. Afinal, quando se matriculam numa universida­de não o fazem no âmbito de mera troca de serviços.

De repente dei por mim a acompanhar via internet o debate que colocou frente a frente os líderes concorrent­es. Como é da praxe, cada candidato expôs o seu programa, tendo todos beneficiad­o de vinte minutos para responder às perguntas da interactiv­a plateia. Com um entusiasmo quase juvenil, típico da época em que não conseguia fazer destrinça entre causas sociais e vida pessoal, vivenciei o desempenho dos estudantes. Importa pouco saber quem vai vencer porque vitoriosos são todos os jovens que contribuem para o fomento da cultura do associativ­ismo.

Na verdade ao engajarem-se em comuns actividade­s inerentes ao associativ­ismo os estudantes dão soberbas lições de socializaç­ão. Partilham princípios imprescind­íveis à construção de cidadania que ganham especial relevo num contexto em que gente com curriculum enriquecid­o por canudos e cargos não faz a menor ideia de que cidadania se materializ­a no ponto que equilibra direitos e deveres. Os estudantes dão a quem tem cadeiras em atraso a oportunida­de ímpar de se matricular.

Nunca os seres humanos estiveram tão perto e tão distanciad­os uns dos outros

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