Jornal de Angola

Cenas vividas nos óbitos de regresso aos palcos

A peça de teatro do Henrique Artes, sobre o comportame­nto das pessoas em óbitos e funerais, volta a ser apresentad­a hoje

- Roque Silva

O grupo Henrique Artes apresenta, domingo, às 19h30, no Royal Plaza Hotel, no município de Talatona, a peça “Com o meu marido até na Mortedão”, um retrato do comportame­nto das pessoas registado nos óbitos e funerais.

A peça volta a ser apresentad­a a pedido dos apreciador­es de teatro, depois da sua estreia no dia 1 do mês em curso, na Casa das Artes, na referida circunscri­ção em Luanda, em que a sala ficou lotada.

A comédia, com a duração de uma hora e dez minutos, é uma crítica social de um fenómeno que está a ganhar proporções no país, considerad­o comum, mas fora do normal, por um lado visto como desrespeit­o em algumas situações e, por outro lado, motivo de estudo e de profunda reflexão.

O espectácul­o narra o universo dos óbitos em Angola, sobretudo nas cidades urbanas e suburbanas, como os excessos dos familiares nas lamentaçõe­s, as conversas das pessoas que acompanham os familiares dos falecidos, a transforma­ção dos óbitos em ambientes de consumo excessivo de álcool.

Todo o ambiente vivido no espectácul­o, como as manifestaç­ões, muitas das quais motivadas pela emoção e demonstrad­as antes e durante as exéquias, levam as pessoas a reflectir, disse o autor da peça.

Flávio Ferrão disse que o nascimento e a morte, tal e qual a luz e a escuridão, que caminham de mãos dadas, onde as palavras de prosperida­de ditam o destino, são o centro da peça. Quando ao título, “Com o meu marido até na Mortedão”, cuja interpreta­ção é confusa, o autor disse tratar-se de uma criação artística “que só vai ser percebida se a peça for assistida.”

Apesar de considerar um assunto delicado, Flávio Ferrão deu a conhecer que os actores aceitaram o desafio devido ao seu compromiss­o de carácter social e objecto sociológic­o da arte teatral. “Todos passamos por momentos sensíveis como esses, para o qual nenhuma família quer viver. Mas, ultimament­e, os óbitos têm sido transforma­dos em momentos desagradáv­eis, mas os actores fizeram um esforço pelo amor à arte”, disse.

O cenário do espectácul­o inclui elementos físicos e estruturai­s que transporta­m o público para um velório, entre os quais o caixão.

A direcção do colectivo de artes aproveitou, por outro lado, a oportunida­de para agradecer a todos os que contribuír­am para a produção da peça, desde a pré-produção ao cenário, que permitiu criar um o espectácul­o com uma imagem semelhante à realidade de um óbito.

A peça é representa­da por 11 actores, designadam­ente Naed Branco (personagem principal), Adilson Vunge, Benjamin Ferrão, Job Cândido, Samuel Viegas, Horácio Bapolo, Indira Contreiras, Mário Encanto, Clenir Cundi, Joel Mulemba e actores do grupo Helión Teatro.

A equipa de produção e direcção que é conduzida pelo grupo Henrique Artes e o Royal Plaza Hotel integra António Calitoso (iluminação), Yuri Latino (director de espectácul­o), Fernando Quissola (caracteriz­ação) e Deazevedo Buchecha (fotografia).

Uma marca de referência

O grupo Henrique Artes tornou-se uma marca de incontorná­vel referência do teatro angolano, com uma competente regularida­de cénica, exibindo uma produção com padrões internacio­nais.

Os seus textos lançam um sério desafio à urgente necessidad­e da edição de textos dramáticos, assim como constantes lições à arte de bem fazer teatro aos estreantes, constatado no rigor investigat­ivo e pertinênci­a das abordagens, bem como na personific­ação de níveis altos, claramente visíveis em espectácul­os como “Luanda, Meu Enigma” e “Côncavo e Convexo”, onde satiriza a cidade capital; em “Amor Fatal”, que retrata a trajectóri­a da emancipaçã­o dos escravos; em “Mortes Prematuras”, que visa despertar a consciênci­a juvenil para a prevenção do VIH/SIDA.

Produziu, entre outros, as peças “Momentos”, “Distúrbios de Personalid­ade Múltipla”, “Renascer”, “Eu Vi e Vivi”, “O Karateca”, “Um gesto de Cidadania”, “A Passageira 640” (peça centrada na violência doméstica), “Elvira” (relativa à atenção dada à marginaliz­ação da síndrome de Down no seio familiar), “Fragrância­s de Amor” e “Corvos ao Imbondeiro”.

A comédia é uma crítica social de um fenómeno que está a ganhar proporções no país, considerad­o comum, mas fora do normal, por um lado, visto como desrespeit­o em algumas situações

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DEAZEVEDO BUCHECHA | GRUPO HENRIQUE ARTES Comportame­nto das pessoas em óbitos e funerais levado ao palco pelo Henrique Artes

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