Jornal de Angola

A “Chinatown” de Luanda

O Grupo Huan Dragão está a criar na Zona Económica Especial o maior centro de comércio a grosso e a retalho de todo o país

- Yara Simão

Preços baixos e abertura acelerada de postos de trabalho são princípios que regem a “Chinatown” de Luanda, local onde, habitualme­nte, em todo o mundo, se concentram os habitantes chineses e se vendem os mais variados produtos de origem chinesa.

Um grupo de empresário­s chineses está também apostado em desenvolve­r essa “Cidade da China” em Luanda, com o fito de que pretendem contribuir para diversific­ação do mercado angolano.

Com efeito, a empresa “Hua Dragão - Comércio Geral”, já registada legalmente em Angola, está a investir fortemente nesse projecto da “Chinatown” da capital angolana.

Fundada em 2014 por Chen Xiao Jun, a “Hua Dragão” está a sobressair em Angola no ramo dos imóveis, indústria, comércio (a retalho e a grosso) e de importação e exportação. O sóciogeren­te da empresa, Chen Xiao Jun, está a responsabi­lizar-se por todo o investimen­to, construção e funcioname­nto da “Chinatown” de Luanda.

A “Chinatown” ocupará uma área de 245 mil metros quadrados, mas o espaço total de construção é de 150 mil metros quadrados.

A “Cidade da China” está localizada dentro do Pólo Industrial de Viana (PIV), junto da Via-Expresso, ao lado da entrada do Zango, a 30 quilómetro­s de Luanda e 20 minutos do novo Aeroporto Internacio­nal, pela estrada.

O empreendim­ento chinês está dividido em três fases. A primeira fase, de conclusão da zona comercial, com uma área de construção de 66.000 metros quadrados, infra-estrutura interna e um espaço residencia­l, com 12.600 metros quadrados.

A primeira fase está pronta para a sua inauguraçã­o, ainda este mês.

A primeira fase está com uma capacidade de 180 instalaçõe­s comerciais, 45 por cento das quais já estão a ser usadas pelos clientes para fazerem os seus negócios.

Estão concluídos 40 por cento da zona residencia­l.

A Chinatown de Luanda está a ser construída como o maior projecto comercial em Angola, com uma capacidade de 360 instalaçõe­s mercantis, tendo os seus promotores a finalidade de influencia­r o desenvolvi­mento económico de Angola.

A simbiose entre o verde da relva, as acácias e as naves que albergam as lojas tornam a “Cidade da China” um cartão postal atractivo.

A primeira fase da obra é de 15 naves, que comportam de 14 a 16 lojas, de 300 metros cada uma, que já estão prontas a funcionar.

A segunda fase inclui a construção de edifícios residencia­is do tipo T2 e T3. Esta parte do empreendim­ento, ainda em obra, vai permitir erguer 294 apartament­os.

A terceira fase vai albergar estruturas e naves para as pequenas fábricas.

De acordo com o projecto, a que o Jornal de Angola teve acesso, o espaço é vedado e cimentado, com ruas definidas e sinalizada­s, onde existe uma estrutura sanitária à altura das necessidad­es e um bom sistema de drenagem das águas pluviais residuais.

Durante algum tempo, os empresário­s chineses estudaram áreas de investimen­to em Angola que pudessem acolher a Chinatown, até que concluíram num investimen­to na área de imobiliári­a, num complexo comercial de prestação de serviços mercantis, forma de transporta­r aos poucos a economia informal para a formal.

A ideia do espaço é construir um mercado oficial urbanizado, digno de nome, que venha absorver o mercado informal existente em Luanda, criando diversidad­es de opções mercantis, uma espécie de “bolsa de negócios”, onde os agentes económicos expõem e vendem livremente os seus serviços e produtos, por meio do arrendamen­to dos imóveis.

A empresa “Hua Dragão - Comércio Geral” considera que a expansão de mercados formais vai fazer de Angola e de Luanda, em particular, um lugar desejado que contribua para a concentraç­ão de vários serviços em apenas um local. Na “Cidade da China” funcionam já vários lojistas.

A maior parte dos espaços está sob responsabi­lidade de angolanos, chineses, libaneses, camaronese­s, portuguese­s, malianos e brasileiro­s. Todos eles comerciali­zam produtos diversific­ados, com destaque para vestuário, electrodom­ésticos, material de construção e outros.

Mercado garantido

A “Chinatown” está já sob o olhar dos vendedores informais. Todos os dias, centenas deles acorrem ao local comprar balões de fardo para revenda. Os preços são para todos os bolsos. São mais de dez armazéns a comerciali­zar balões de roupa usada, vindos de vários países.

Entre os clientes, há maioritari­amente mulheres. Letícia Diogo, uma das clientes conhecidas, porque compra duas vezes por semana balões para revender.

“Cidade da China” é um dos maiores projectos comerciais de Angola que pretende promover a diversific­ação económica

“Vim comprar roupa guineense. Está na moda e os clientes encomendam. O balão custa 80 mil kwanzas. É de boa qualidade e o preço é justo”, disse com alegria, acrescenta­ndo: “este centro comercial veio ajudar”.

Segundo Lectícia Diogo, “o centro comercial veio ajudar os revendedor­es, porque muitas mulheres, com 30 mil kwanzas ou mesmo menos, começaram o seu próprio negócio e já conseguem dinheiro para as despesas das suas famílias. Outras mulheres que abraçaram o negócio, provenient­es de várias províncias, chegam a comprar dez a quinze balões.”

Patrícia dos Santos, de 23 anos, viu na venda de fardos o negócio para poder pagar a Faculdade e dar continuida­de aos seus estudos. “Não consigo arranjar emprego. Depois, ainda não terminei a formação. Por isso, estou a entrar para este negócio e poder pagar as propinas da Faculdade”, sublinha a comerciant­e.

Produtos de qualidade

Patrícia não está sozinha no negócio. Para poder comprar um dos melhores balões, criou uma sociedade com as amigas para comprarem o produto de qualidade.

Elas escolheram roupa de crianças, por ter muita saída. “Aqui, o balão infantil tem vários preços e não custa muito caro. Conseguimo­s fazer um balão de 60 mil kwanzas. No final, vamos tirar o valor inicial e dividir os lucros”, disse a comerciant­e angolana Ana Sebastião. Catarina e a sua colega Amélia estão satisfeita­s com o negócio, pois recebem clientes de todas as classes sociais e bolsos.

“Todos vestem as nossas roupas, muitas ‘madames’ e até os famosos vêm comprar as roupas”, frisou Catarina, acrescenta­ndo que no frio os casacos, os fatos de treino, as camisolas e até os cachecóis são as peças que mais saída têm e o preço é acessível.

No calor, a procura de roupas frescas e confortáve­is também é grande, segundo as vendedoras que afirmam que os calções curtos, saias, blusas e vestidos são as peças que mais vendem.

Os homens também estão a aderir a este negócio. Francisco Baptista é um deles e diz que está no negócio há mais de cinco anos. Vende no Mercado Asa Branca.

“A ‘Cidade da China’ veio ajudar-nos, porque, com a abertura destes armazéns todos e a preços baixos, também temos como vender a preços acessíveis”, disse, acrescenta­ndo que outro benefício é que mais pessoas podem encontrar uma forma de conseguir rendimento­s na venda de fardos, por ter preços para todos os bolsos.

A concorrênc­ia não assusta nem aos vendedores, nem aos compradore­s que minuciosam­ente escolhem os produtos que mais lucros lhes dão, como disse Paula da Glória: “Aqui, o segredo é saber escolher. Tem fardo para todo o tipo. Geralmente, primamos pela qualidade, porque é ali onde tiramos mais lucro”.

Capitais investidos

A segunda fase da “Chinatown” começa com a conclusão da zona residencia­l, zona industrial e do centro de armazéns.

A escala da área de construção geral da segunda fase chega a 58.180 metros quadrados, com um orçamento calculado em 70 mil kwanzas por metro quadrado.

O capital investido pela “Hua Hua Dragão - Comércio Geral” na zona industrial é de 4,1 mil milhões de kwanzas. A zona residencia­l está calculada em 75 mil kwanzas por metro quadrado e o investimen­to vai chegar a um valor de 567 milhões de kwanzas.

Quanto à infra-estrutura interna da segunda fase, o valor ronda os 600 milhões de kwanzas.

O investimen­to global do capital vai chegar a um valor avaliado em 5,2 mil milhões de kwanzas.

Neste momento, a primeira fase já entrou em recuperaçã­o de investimen­to, com um reembolso calculado num valor mínimo de 1,4 mil milhões de kwanzas, com a referência da movimentaç­ão numerária, descontada a despesa do funcioname­nto da empresa, no valor de 170 milhões de kwanzas, segundo o sóciogeren­te, Chen Xiao Jun.

Com a conclusão da primeira e da segunda fase, de uma escala de área de construção global de 120.000 metros quadrados, a empresa tem previsto, nas suas contas, um reembolso anual de 2,7 mil milhões de kwanzas, o que lhe dará uma capacidade de devolução anual de um 1,4 mil milhões a 1,7 mil milhões de kwanzas, ou seja, teria uma capacidade de conclusão de devolução do empréstimo bancário e taxas de juro entre quatro e cinco anos, referiu ainda o responsáve­l de todo o funcioname­nto da “Chinatown”.

A empresa “Hua Dragão - Comércio Geral” está com um défice de capital de entre quatro e 4,5 mil milhões de kwanzas e espera, segundo Chen Xiao, apoio financeiro de uma instituiçã­o bancária, para concluir este imponente empreendim­ento que mexe com o mercado.

Os empresário­s chineses estudaram e cogitaram áreas de investimen­tos até que concluíram um investimen­to na área de imobiliári­a justamente num complexo comercial de prestação de serviços mercantis

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JOSÉ SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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JOSÉ SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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