O início de um novo ciclo político
A cerimónia de investidura de João Lourenço como novo Presidente da República de Angola tem, além de tudo o mais, a virtude de marcar a primeira transição de liderança política no mais alto cargo de governação em Angola e assinala, também, o início da III República no país.
Curiosamente, esta cerimónia acontece cinco anos depois de, no mesmo dia do mês, no mesmo local e à mesma hora ter ocorrido, também com o mesmo mestre de cerimónias e o mesmo presidente do Tribunal Constitucional, José Eduardo dos Santos ter tomado posse para aquele que seria o seu derradeiro mandato como Presidente da República.
Todas estas coincidências servem para ilustrar o enorme simbolismo do acto que ontem foi testemunhado por mais de 40 mil pessoas na Praça da República, local onde repousam os restos mortais do Fundador da Nação e primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto.
A sublinhar a importância de todo este simbolismo está o facto da investidura de João Lourenço marcar de modo indelével o início de um novo ciclo político na democracia angolana, com tudo o que de isso representa em termos de criação de expectativas para se ver até que ponto as promessas eleitorais têm uma efectiva correspondência prática.
Mas seria profundamente injusto não sublinhar o transcendente papel de José Eduardo dos Santos, que justifica amplamente que seja agora compensado com a tranquilidade que poucas vezes teve durante os seus 38 anos de uma presidência, onde deu o melhor de si em defesa dos superiores interesses de Angola e do seu povo, mesmo com o sacrifício da sua saúde e da sua vida familiar.
O tempo que agora corre é de mudança e as expectativas são grandes. No seu discurso de tomada de posse, o Presidente João Lourenço não hesitou em abordar todos os temas que se relacionam com a sociedade angolana, pormenorizando aquilo que entende ser a melhor forma para melhorar o que está bem e corrigir o que está mal.
João Lourenço, tal como sempre sucedeu com José Eduardo dos Santos, tem também a seu favor o facto de ter sido investido do poder democrático de uma forma legal e directa, porque chega a Presidente da República sufragado pelo voto do povo.
Isto não significa que ao novo Presidente da República se tenha que exigir, tal como alguns analistas parecem querer, aquilo que ele ainda não pode dar, uma vez que acaba agora de tomar posse e necessita de tempo e espaço para que possa começar, efectivamente, a começar a trabalhar para melhorar o que está bem e corrigir o que está mal.
Para já, foi bastante positivo ouvi-lo reafirmar muitas das promessas que fez em tempo de campanha, sendo especialmente significativa a insistência na intenção de desenvolver uma governação inclusiva, assumindo-se como o Presidente de todos os angolanos.
Foi também clara a sua intenção de não cortar a via do diálogo com a sociedade civil, para que essa governação inclusiva possa de facto continuar a ocorrer e consolidar-se. Nos ouvidos de muitos ainda deve ecoar a advertência que fez para que todos os angolanos coloquem os interesses nacionais no topo das suas decisões.
Pena é que se tenham confirmado os receios existentes em relação ao posicionamento da oposição parlamentar, que se auto-excluiu de mais um grande momento da Nação e confirmou não estar à altura dos desafios lançados pelo Presidente da República para o desenvolvimento de uma governação inclusiva.
Não participar na cerimónia de investidura de João Lourenço foi apenas mais uma prova de que, infelizmente, os partidos da oposição ainda não estão preparados para participar no jogo democrático. Não é enterrando a cabeça na areia que a oposição se legitima e muito menos ganha força moral para criticar um processo de transição política ao qual vira propositadamente as costas.
Não é enterrando a cabeça na areia que a oposição se legitima e muito menos ganha força moral para criticar