Jornal de Angola

Autor angolano lança na Suécia

O romance de José Luís Mendonça “O Reino das Casuarinas” foi traduzido para sueco e apresentad­o na Feira de Gotemburgo

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“O Reino das Casuarinas”, o primeiro romance de José Luís Mendonça, foi traduzido para sueco e lançado na Feira Internacio­nal do Livro de Gotemburgo, na Suécia.

“O Reino das Casuarinas”, o primeiro romance de José Luís Mendonça, foi traduzido para sueco e lançado no dia 28 de Setembro na Feira Internacio­nal do Livro de Gotemburgo, a segunda maior cidade da Suécia.

Agora com o título de “Kungadomet I Kasuarinsk­ogen”, a obra traduzida por Gunilla Winberg, proprietár­ia da editora Panta Rei, passa a fazer parte da biblioteca de autores angolanos publicados na Suécia.

“O Reino das Casuarinas” foi publicado originalme­nte em português pela Leya Caminho e Texto Editores em Lisboa e em Luanda, em 2014. Trata-se de um romance histórico, com duas estórias paralelas, a do narrador autodiegét­ico, Nkuku, que conta a sua experiênci­a traumática desde o início da luta de libertação nacional em 1961 até 1987, enquanto desvenda a razão da fundação, na Floresta da Ilha de Luanda, de um reino cuja população é composta por sete doentes mentais, governados por uma mulher, a Rainha Eutanásia. “Parece que virar maluco, pode ser uma estratégia de sobrevivên­cia humana perante os lobos do próprio homem. Este livro é uma homenagem a essa classe de sombras que ninguém vê passar no tempo”, defendeu José Luís Mendonça.

Um dos personagen­s é um gato chamado Stravisnky, um Mau Egípcio, dotado de poderes mediúnicos. A acção desenrola-se em vários cenários, indo até à Alemanha Democrátic­a, para lá do Muro de Berlim, onde Nkuku foi estudar Economia e depois regressa à Angola dos anos 80, quando se iniciava o processo de reestrutur­ação da economia angolana. Chamado a dar o seu contributo às teses apresentad­as pelo economista José Cerqueira, Nkuku, então funcionári­o do Ministério das Finanças, produz um ensaio intitulado “Se os Ministros Morassem no Muceque”, que o levou à despromoçã­o.

Personagen­s reais

O romance também tem personagen­s reais, como a escritora Gabriela Antunes, Luandino Vieira, Jorge Macedo, David Mestre e o seu amigo Kangrima e os políticos mais carismátic­os do período em referência. “Tem muita gente dentro deste romance que ele deixa de ser romance para ser Angola total”, como explicou o autor no acto do lançamento.

“Este romance faz a evocação de um tempo de graves acontecime­ntos, nos quais o homem comum, o homem simples e apolítico se viu amarrado numa teia inesperada e caótica de medos vários, resultante­s de dissídios ideológico-militares, e aborda a problemáti­ca da contradiçã­o crucial entre o livre-arbítrio e o determinis­mo social que desemboca na questão do direito de viver ou da segurança do indivíduo, enquanto cidadão do Mundo”, explicou.

Por outro lado, o autor considera que “o registo histórico que esta obra fixa é essencial para contrariar o branqueame­nto do passado, elevando como heróis as vítimas e o homem anónimo”.

Por último, o autor teceu consideraç­ões sobre a razão do título e da localizaçã­o espacial do romance na Floresta da Ilha. “O romance é um panfleto contra a destruição ecológica da Ilha de Nossa Senhora do Cabo. É uma homenagem às casuarinas, essas belas árvores coníferas da nossa terra”, disse a concluir.

Formação e cultivo

“Formação e Cultivo” (Bildung and Cultivatio­n) é o tema principal da Feira do Livro de Gotemburgo de 2017 e é inspirado pela literatura. Seja em escolas, universida­des ou biblioteca­s, a literatura ajuda a disseminar o conhecimen­to do Mundo e a interpretá-lo criticamen­te. No campo da cultura, ajuda a canalizar a experiênci­a do ser humano e é uma ferramenta para entender e navegar num Mundo complexo e conflituos­o e, talvez, uma ferramenta para mudá-lo também.

Cerca de 100 mil visitantes vão passar pelos stands de mais de 800 expositore­s de todo o Mundo presentes na feira, que se estende até 1 de Outubro, data em que José Luís Mendonça vai transporta­r o nome de Angola e a sua literatura até Estocolmo, a cidade capital, onde deve proferir palestras e ter encontros com escritores suecos.

“Parece que virar maluco, pode ser uma estratégia de sobrevivên­cia humana perante os lobos do próprio homem. Este livro é uma homenagem a essa classe de sombras que ninguém vê passar no tempo”

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EDIÇÕES NOVEMBRO Angolano transporta o nome de Angola e a literatura nacional até Estocolmo

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