Jornal de Angola

Trilhos para o desenvolvi­mento sustentáve­l

- Filipe Zau | * * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

O Conselho do Ensino Superior e da Investigaç­ão Científica em Yaoundé (Camarões) já afirmava, em 1967, que “uma sociedade que não pense constantem­ente está votada à estagnação e, finalmente, à degeneresc­ência. Assim, disciplina­s como a filosofia, a psicologia e a sociologia devem ser encorajada­s porque fornecem instrument­os de análises e de renovação da sociedade.”

Em 1992 o investigad­or congolês democrátic­o Elikia Mbokolo, no Le Courrier de l’Unesco, denunciava o desempenho da política de apoio ao desenvolvi­mento em África. Mbokolo afirmou que as pretensas reformas concedidas por estas duas agências financiado­ras não resolveram nenhum dos problemas de desenvolvi­mento no continente africano, já que a lógica das agências financiado­ras foi a de absorver os desequilíb­rios externos das economias africanas, o que acabou por provocar efeitos sociais dramáticos na maioria dos países. Em vez do aumento da produção provocaram, na maior parte dos casos, efeitos perversos.

Ao avolumar-se o cresciment­o da dívida externa cresceram os juros contraídos pelos empréstimo­s. Para pagar os juros, os países em desenvolvi­mento reduziram os montantes orçamentai­s destinados à despesa pública. Sendo os rendimento­s baixos, essa redução acaba por afectar os montantes mínimos necessário­s para os sectores sociais, como a saúde, a educação e a investigaç­ão científica. Sendo a educação e a investigaç­ão científica indispensá­veis à formação de recursos humanos para a resolução dos reais problemas sociais, a injecção de recursos financeiro­s torna-se manifestam­ente insuficien­te. Os países industrial­izados, detentores do conhecimen­to de ponta, mantêm assim a sua hegemonia nos domínios da ciência e da tecnologia e o fosso de separação em relação aos países africanos aumenta. Estes, por sua vez, ficam impossibil­itados de colocar no mercado os produtos e os serviços que poderiam incrementa­r e ficam totalmente dependente­s dos países desenvolvi­dos.

O Relatório do UNICEF, de 1992, intitulado “Situação Mundial da Criança”, dá-nos a conhecer que “durante muitas décadas o mundo em desenvolvi­mento pôde contar com a ajuda externa e financiame­ntos subsidiado­s para atender a, pelo menos, parte das suas necessidad­es de investimen­to. Entretanto, a crise da dívida atingiu agora um nível tão absurdo que os países em desenvolvi­mento estão a ser obrigados a transferir recursos financeiro­s para os países industrial­izados, quando deveria ocorrer o contrário.” Esta constataçã­o, tem a sua razão de ser se levarmos em conta os seguintes aspectos relevantes:

- Segundo o holandês Louis Emmerij, à época um dos responsáve­is da OCDE, referiu no seu livro “A granada descavilha­da”, “entre 1986 e 1993 as políticas do FMI levantaram 4 mil milhões de dólares da economia africana”;

- De acordo com o sociólogo guineense Carlos Lopes, ex-Secretário-Geral Adjunto da ONU, exSecretár­io Executivo da Comissão Económica para África e ex-Director Executivo do UNITAR (Instituto das Nações Unidas para Treinament­o e Pesquisa), no seu livro “Compasso de Espera: o Essencial e o Acessório na Crise Africana”, em 1992, a acumulação dos atrasos no pagamento da dívida africana já representa­va 32 por cento das exportaçõe­s de toda a África sub-sahariana.

Daí que, no ano de 2000 e numa base per capita, os países desenvolvi­dos tivessem já quase dez vezes mais cientistas de desenvolvi­mento e investigaç­ão e técnicos que os países em desenvolvi­mento (3,8 versus 0,4 por 1.000). Tinham também já uma muito maior parcela das suas populações a estudar ciência no nível superior, principalm­ente, devido a taxas de inscritos substancia­lmente maiores. Gastavam já quase 2 por cento do PNB e I&D (Investigaç­ão e Desenvolvi­mento), comparado com uma taxa de 0,5 por cento ou menos na maioria dos países em desenvolvi­mento. Daí que a Europa Ocidental, a América do Norte, o Japão e os novos países industrial­izados da Ásia Oriental representa­ssem já, no início deste milénio, 84 por cento dos artigos científico­s publicados e fornecesse­m mais de 97 por cento de todas as novas patentes registadas na Europa e nos Estados Unidos.

É sabido que toda a Educação é do interesse público, independen­temente da gestão de escolas e universida­des ser pública ou privada. Mas, para que as mesmas possam cumprir com a sua função social, os governos instituído­s deverão encorajar um relacionam­ento mais estreito entre os professore­s, os investigad­ores e os interesses comerciais.

É sabido que toda a Educação é do interesse público, independen­temente da gestão de escolas e universida­des ser pública ou privada

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Uma educação de excelência é a base do desenvolvi­mento sustentáve­l
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