Trilhos para o desenvolvimento sustentável
O Conselho do Ensino Superior e da Investigação Científica em Yaoundé (Camarões) já afirmava, em 1967, que “uma sociedade que não pense constantemente está votada à estagnação e, finalmente, à degenerescência. Assim, disciplinas como a filosofia, a psicologia e a sociologia devem ser encorajadas porque fornecem instrumentos de análises e de renovação da sociedade.”
Em 1992 o investigador congolês democrático Elikia Mbokolo, no Le Courrier de l’Unesco, denunciava o desempenho da política de apoio ao desenvolvimento em África. Mbokolo afirmou que as pretensas reformas concedidas por estas duas agências financiadoras não resolveram nenhum dos problemas de desenvolvimento no continente africano, já que a lógica das agências financiadoras foi a de absorver os desequilíbrios externos das economias africanas, o que acabou por provocar efeitos sociais dramáticos na maioria dos países. Em vez do aumento da produção provocaram, na maior parte dos casos, efeitos perversos.
Ao avolumar-se o crescimento da dívida externa cresceram os juros contraídos pelos empréstimos. Para pagar os juros, os países em desenvolvimento reduziram os montantes orçamentais destinados à despesa pública. Sendo os rendimentos baixos, essa redução acaba por afectar os montantes mínimos necessários para os sectores sociais, como a saúde, a educação e a investigação científica. Sendo a educação e a investigação científica indispensáveis à formação de recursos humanos para a resolução dos reais problemas sociais, a injecção de recursos financeiros torna-se manifestamente insuficiente. Os países industrializados, detentores do conhecimento de ponta, mantêm assim a sua hegemonia nos domínios da ciência e da tecnologia e o fosso de separação em relação aos países africanos aumenta. Estes, por sua vez, ficam impossibilitados de colocar no mercado os produtos e os serviços que poderiam incrementar e ficam totalmente dependentes dos países desenvolvidos.
O Relatório do UNICEF, de 1992, intitulado “Situação Mundial da Criança”, dá-nos a conhecer que “durante muitas décadas o mundo em desenvolvimento pôde contar com a ajuda externa e financiamentos subsidiados para atender a, pelo menos, parte das suas necessidades de investimento. Entretanto, a crise da dívida atingiu agora um nível tão absurdo que os países em desenvolvimento estão a ser obrigados a transferir recursos financeiros para os países industrializados, quando deveria ocorrer o contrário.” Esta constatação, tem a sua razão de ser se levarmos em conta os seguintes aspectos relevantes:
- Segundo o holandês Louis Emmerij, à época um dos responsáveis da OCDE, referiu no seu livro “A granada descavilhada”, “entre 1986 e 1993 as políticas do FMI levantaram 4 mil milhões de dólares da economia africana”;
- De acordo com o sociólogo guineense Carlos Lopes, ex-Secretário-Geral Adjunto da ONU, exSecretário Executivo da Comissão Económica para África e ex-Director Executivo do UNITAR (Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa), no seu livro “Compasso de Espera: o Essencial e o Acessório na Crise Africana”, em 1992, a acumulação dos atrasos no pagamento da dívida africana já representava 32 por cento das exportações de toda a África sub-sahariana.
Daí que, no ano de 2000 e numa base per capita, os países desenvolvidos tivessem já quase dez vezes mais cientistas de desenvolvimento e investigação e técnicos que os países em desenvolvimento (3,8 versus 0,4 por 1.000). Tinham também já uma muito maior parcela das suas populações a estudar ciência no nível superior, principalmente, devido a taxas de inscritos substancialmente maiores. Gastavam já quase 2 por cento do PNB e I&D (Investigação e Desenvolvimento), comparado com uma taxa de 0,5 por cento ou menos na maioria dos países em desenvolvimento. Daí que a Europa Ocidental, a América do Norte, o Japão e os novos países industrializados da Ásia Oriental representassem já, no início deste milénio, 84 por cento dos artigos científicos publicados e fornecessem mais de 97 por cento de todas as novas patentes registadas na Europa e nos Estados Unidos.
É sabido que toda a Educação é do interesse público, independentemente da gestão de escolas e universidades ser pública ou privada. Mas, para que as mesmas possam cumprir com a sua função social, os governos instituídos deverão encorajar um relacionamento mais estreito entre os professores, os investigadores e os interesses comerciais.
É sabido que toda a Educação é do interesse público, independentemente da gestão de escolas e universidades ser pública ou privada