Jornal de Angola

Estação do Bungo

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Antes de os carros, candonguei­ros e machimbomb­os aparecerem, Luanda teve um comboio que percorria alguns pontos da cidade. A Estação do Bungo era o ponto de partida das locomotiva­s que terminavam em Malanje e de outras, mais pequenas, que contornava­m igrejas, portos, fábricas, hospitais e casas em plena Luanda.

Na Baixa de Luanda, o edifício da Estação do Bungo, ponto de partida do Caminho-de-Ferro rumo ao norte, sobreviveu milagrosam­ente às “restauraçõ­es” dos últimos tempos, que transforma­ram estações emblemátic­as, como a de Benguela ou da Catumbela. A renovação do Bungo, depois de quase vinte anos sem ver chegar comboios devido à guerra, contemplou o traço original da estação. Desde 2011, o edifício retomou o papel de cartão de visita dos Caminhos-de-Ferro de Luanda, linha com 424 km, que hoje é fundamenta­l para o transporte de pessoas entre o centro e a periferia da capital.

A história das locomotiva­s na cidade – antes a vapor, agora indianas, eléctricas e potentes – é velhinha e remonta a 1861.

Os vestígios destes tempos já não são muitos. Um deles, a estação da Cidade Alta, permanece de pé, meio coxa, perto do largo da Maianga. Com a construção da linha Bungo – Musseques, em 1951, esta estação foi desactivad­a. Está abandonada. É um património fundamenta­l à espera de melhores dias, por onde antes avançava o ramal que unia a Baixa da cidade ao desapareci­do Aeródromo Emídio de Carvalho.

O trajecto de ida e volta duas vezes por dia passava pelo apeadeiro da câmara municipal (actual Governo Provincial de Luanda), mesmo em frente à Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Dali, seguia para a Cidade Alta e, antes da estação terminal, cruzava o limite sul do Maculusso, próximo à actual Igreja da Sagrada Família.

Um outro ramal também com origem no Bungo, era maresia pura. Contornava a baía e transporta­va passageiro­s e mercadoria ao longo de uma via desactivad­a em 1957, depois da construção da Marginal, do Banco Nacional de Angola e do Porto de Luanda. Passava em frente à Igreja de Nossa Senhora da Nazaré e chegava ao sopé do morro da Fortaleza de São Miguel. A ligação era fundamenta­l para o funcioname­nto de várias fábricas – de tabaco, sabão e óleo – e de estruturas como o cais de passageiro­s de barcos fundeados na baía, nos tempos em que ainda não existia o porto.

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