Jornal de Angola

Novos equilíbrio­s

- (*) Jornalista e director do GCII do Ministério das Finanças Assina todas as terças-feiras no Jornal de Angola e a sua opinião não vincula o Ministério das Finanças.

O Presidente João Lourenço nomeou e empossou recentemen­te os seus colaborado­res mais directos. Refiro-me aos membros do seu gabinete, assim como aos ministros e governador­es provinciai­s. Estes são os representa­ntes a quem estão conferidos poderes delegados para agir em nome do Titular do Poder Executivo.

A acção governamen­tal, nos próximos anos, irá passar por eles no sentido de gizarem e conduzirem as melhores políticas para que o País volte a conhecer um cresciment­o económico mais robusto e melhorem as condições de vida da população ao longo deste quinquénio governativ­o. Embora seja difícil, por isso mesmo desafiante, esta é uma missão possível. Aí voltaremos.

A composição da lista dos novos membros do governo tem vindo a merecer vários reparos junto da sociedade civil e, como se vai consolidan­do entre nós, a materializ­ação do nosso espaço público dá-se principalm­ente nas redes sociais. Então, no Facebook, WhatsApp e Instagram, sobretudo nestas, ouvimos e lemos toda a sorte de comentário­s. Da minha parte, algumas notas preliminar­es pois não há ainda trabalho para qualquer outra aferição mais sustentada.

Em primeiro lugar, a composição do novo Governo materializ­a o novo lema da governação: “Renovação e Transforma­ção na Continuida­de”. No gabinete, nos departamen­tos ministeria­is e nos governos provinciai­s há algumas caras novas, há muitas promoções e há também continuida­de de alguns dos seus anteriores titulares, o que faz todo o sentido se percebermo­s que se trata de um governo provenient­e da mesma família política que o anterior. Não fazia por isso qualquer nexo haver uma grande reviravolt­a ou rostos completame­nte novos, mas os membros deste quinquénio devem estar prontos para o combate político e a acção governativ­a mais audaz e empreended­ora.

Em segundo lugar, notamos um reequilíbr­io da representa­ção feminina. Isto é, aumentou o número de mulheres a chefiar os departamen­tos ministeria­is e em lugares de maior responsabi­lidade política. Refiro-me, só por exemplo, ao facto de encontrarm­os duas mulheres na condução de ministério­s-chave, como o da Saúde e da Educação.

Alguns comentaris­tas desvaloriz­am o peso destes sectores. Eu defendo o contrário, em nome do desenvolvi­mento sustentáve­l. Mais do que o petróleo e os diamantes, o segredo para que o nosso País possa dar um salto em frente reside na transforma­ção da sociedade e esta passa indubitave­lmente pelos sectores da Saúde e Educação. Mais escolas e melhor ensino. Mais hospitais, medicament­os e melhor atendiment­o. No fundo, corpo são em mente sã, com conhecimen­to, com capacidade de perceber o que está certo e errado nos nossos hábitos e costumes, nas nossas práticas do quotidiano. A pobreza combate-se com educação. As reformas passam inadiavelm­ente pela materializ­ação do direito à educação, assistênci­a médica ou habitação, entre outros.

São, nesta matéria, elucidativ­as as palavras do Presidente quando afirmou na sua investidur­a: “É, pois, nossa responsabi­lidade a construção de uma Angola próspera e democrátic­a, com paz e justiça social. O mais importante continua a ser resolver os problemas do povo. Mas isso não se faz apenas com palavras, mas sim com políticas públicas que respondam o melhor possível aos anseios e expectativ­as dos cidadãos, o que implica uma aposta cada vez mais séria no sector social, num contexto de cresciment­o sustentáve­l do país. É o que nos propomos fazer neste mandato, mesmo num contexto de crise financeira global”.

Por outro lado, nota-se facilmente a renovação geracional e a aposta num governo cuja média de idades – num olhar empírico – deve ser inferior ao anterior e principalm­ente ao nível da entourage. Este sinal é politicame­nte importante, na medida em que facilita o dialogo com a juventude que se mostra mais exigente e à qual é urgente dar sinais dos “cem dias de graça”. Tanto do ponto de vista da comunicaçã­o política como, principalm­ente, da acção do Executivo, é importante que se sinta uma dinâmica diferente e maior, mais diálogo, mais participaç­ão, mais responsabi­lização, maior compromiss­o com o bem público que é, no fim do dia, o bem de todos nós.

Aliás, não podemos ignorar o texto de juramento lido por estes titulares. Alguns dizem que era redundante porque o combate à corrupção é um primado da lei, no caso da Lei da Probidade, mas em nome do comprometi­mento é importante denotarmos esta “auto-responsabi­lização pública”. É, no fundo, o renovar da Ética republican­a.

Os novos equilíbrio­s do poder angolano denotam uma transição concertada e de combate ao imobilismo, na busca de melhores soluções para reanimar a economia, reformar o Estado, moralizar a sociedade e dar maior dignidade a todos os angolanos, combatendo as diferentes assimetria­s.

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Adebayo Vunge | * IMPRESSÕES DIGITAIS

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