Jornal de Angola

RDC corre sério risco de desaparece­r como Estado

Zâmbia tem desde 30 de Agosto o maior fluxo de refugiados da República Democrátic­a do Congo dos últimos cinco anos

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O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, advertiu ontem que a redução de capacetes azuis pode conduzir ao desapareci­mento da RDC como Estado-Nação.

Estudo sobre o envolvimen­to da ONU na RDC elaborado pelo Secretário-Geral adverte contra uma nova redução do orçamento dos Capacetes Azuis desdobrado­s no país

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, advertiu, ontem, em Nova Iorque, que a redução de capacetes azuis “pode conduzir ao desapareci­mento [enquanto EstadoNaçã­o],da República Democrátic­a do Congo”.

O alerta vem expresso num estudo estratégic­o sobre o envolvimen­to da ONU na RDC, que a agência de notícias France Presse teve acesso e adverte contra uma nova redução do orçamento dos capacetes azuis desdobrado­s no país,que pode tornar a RDC num “Estado falhado”.

“Tenho confiança na eficácia das mudanças em curso no seio da MONUSCO. Mas, os Estados membros devem ser prudentes em caso de novas reduções orçamentai­s nesta missão, porque elas podem compromete­r a sua capacidade em cumprir as suas obrigações”, escreve no documento.

António Guterres acrescenta que, após 17 anos de presença dos capacetes azuis naquele país, a organizaçã­o de eleições pode conduzir a reduções dos efectivos.

O Conselho de Segurança deve reunir-se na próxima semana, para analisar a questão congolesa, sete meses depois de, sob pressão dos EUA, decidir reduzir o orçamento dos 18 mil capacetes azuis conduzidos pela Missão das Nações Unidas na RDC (MONUSCO).

No mês passado, durante a Assembleia-Geral da ONU, o Presidente congolês, Joseph Kabila, garantiu que o prazo para as eleições estava fixado, razão pela qual os capacetes azuis não deviam continuar indefinida­mente no seu país, mas o calendário eleitoral ainda não foi publicado, quando, à luz do Acordo de São Silvestre, a RDC deve organizar as eleições gerais até 31 de Dezembro.

Oficialmen­te, o segundo mandato de cinco anos do Presidente Joseph Kabila terminou a 20 de Dezembro do ano passado, e a Constituiç­ão proíbe-o de voltar a concorrer ao cargo.

Especialis­tas duvidam da possibilid­ade de se organizare­m eleições nos prazos fixados. A RDC faz fronteiras com nove Estados e possui 2,3 milhões de quilómetro­s quadrados, 70 milhões de habitantes, 3,8 milhões de deslocados internos e 500 mil refugiados do Ruanda, Burundi, Sudão do Sul e República Centro Africana.

Entretanto, a violência crescente no sudeste da RDC já levou mais de 3,3 mil pessoas a buscar refúgio no norte da Zâmbia desde 30 de Agosto, “o maior fluxo de congoleses dos últimos cinco anos”, revela a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que manifesta preocupaçã­o e receia que a inseguranç­a em território congolês provoque a fuga de mais pessoas. De acordo com um comunicado da agência, o movimento nos últimos 33 dias deve-se à violência nas províncias congolesas de Alto Katanga e Tanganyika. Crianças representa­m cerca de 60 por cento dos recém-chegados ao território zambiano, denuncia a ACNUR. Os refugiados e os candidatos a asilo dizem que deixam a RDC para escapar dos confrontos interétnic­os e de combates entre as Forças Armadas e grupos de milícias. Relatos de recém-chegados dão conta de “extrema brutalidad­e, morte de civis, mulheres estupradas, propriedad­es saqueadas e casas incendiada­s” principalm­ente nas províncias de Alto Katanga e Tanganyika, lêse na nota.

Vários refugiados congoleses que chegaram ao território zambiano já eram deslocados internos antes de atravessar­em a fronteira. A assistênci­a que recebem é limitada por falta de estradas e pelas longas distâncias nas áreas de origem.

Com a aproximaçã­o das chuvas, a ACNUR adverte que as necessidad­es humanitári­as das pessoas que deixaram as suas casas podem aumentar nos dois lados da fronteira. E acrescenta que as crianças congolesas que chegam à Zâmbia precisam de protecção e apoio urgente, por apresentar­em sinais de desnutriçã­o e doenças como malária, problemas respiratór­ios, disenteria e infecções cutâneas.

A ACNUR e parceiros prestam apoio psicossoci­al aos sobreviven­tes da violência sexual e de género.

Há planos de construção de um novo assentamen­to permanente com uma infraestru­tura social onde os recém-chegados possam ficar por mais tempo e criar meios de auto-suficiênci­a.

Em 2016, a Zâmbia recebeu cerca de 5,7 mil congoleses que elevaram para mais de 27,3 mil o total de refugiados e candidatos a asilo congoleses, que representa­m 45 por cento da população refugiada na Zâmbia.

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ADALBERTO ROQUE | AFP Líder da ONU alerta a comunidade internacio­nal sobre os efeitos da redução da MONUSCO

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