Jornal de Angola

Procurador-geral contra vaidade desmedida de alguns magistrado­s

João Maria de Sousa afirma que o “caso Manuel Vicente” ainda não foi recebido pelas autoridade­s angolanas

- Adelina Inácio

O procurador-geral da República, João Maria de Sousa, reconheceu ontem ser ainda insuficien­te a quantidade de procurador­es ao serviço do Ministério Público no país.

João Maria de Sousa, que falou na tomada de posse de 25 novos procurador­es, afirmou que o país tem um grande défice de procurador­es e “todos quantos forem entregues pelo Instituto Nacional de Estudo Judiciário­s para o exercício de funções é sempre melhor”, disse, salientand­o que a PGR contava com 420 magistrado­s e neste momento tem 445 procurador­es.

Os 25 novos procurador­es fazem parte de um grupo de 50 auditores de justiça que terminaram o estágio para o Ministério Público. João Maria de Sousa explicou que os outros 25 que não foram empossados continuarã­o a aguardar por nova oportunida­de, até que seja disponibil­izada a quota orçamental que cabimente os respectivo­s salários. Os empossados foram distribuíd­os em várias provinciai­s do país.

O procurador-geral da República encorajou os empossados, adiantando, que o país não se restringe à província de Luanda, uma vez que Angola tem 19 províncias judiciária­s. Luanda foi a única província que não foi contemplad­a com magistrado­s por falta de vagas.

João Maria de Sousa reconheceu que no país existem muitos municípios onde não se faz sentir a presença de um procurador da República em tempo integral. Aos novos empossados, João Maria de Sousa recomendou sentido de responsabi­lidade, disciplina e atenção especial à ética e deontologi­a profission­al, qualidades que distinguem os magistrado­s dos demais servidores públicos.

João Maria de Sousa lembrou que a Lei Orgânica da PGR e do Ministério Público define o perfil e os deveres dos magistrado­s e defende valores como a legalidade, objectivid­ade, competênci­a, prossecuçã­o do interesse público, probidade pública, parcimónia, responsabi­lidade, humanismo e lealdade.

“O perfil do magistrado não se compadece com comportame­ntos que se assiste no dia-a-dia, com manifestaç­ões de vaidade desmedida, de desprezo pelo cidadão que a si recorre sedento de justiça, com desprezo ao cidadão em conflito com a lei”, disse, adiantando que esses comportame­ntos são contrários aos fins da justiça e de quem nela participa e administra.

O país, adiantou, iniciou uma nova República com novos desafios e espera que espera receber meios essenciais para um desempenho normal. João Maria de Sousa disse que a PGR enfrenta dificuldad­es que passam pela necessidad­e de aumento do número de magistrado­s e funcionári­os, falta de instalaçõe­s para a acomodação adequada dos serviços, falta de transporte­s, de fundos operativos de suporte às investigaç­ões e actos de instrução processual e de meios financeiro­s de apoio ao funcioname­nto da instituiçã­o.

Caso Manuel Vicente

Questionad­o sobre o posicionam­ento do Ministério Público no “caso Manuel Vicente”, cujo julgamento está marcado para o mês de Janeiro, em Portugal, o procurador-geral da República disse que o Ministério Público angolano não tem nenhum posicionam­ento relativame­nte ao assunto uma vez que o processo não está a decorrer no país. “O processo não está a decorrer no país. Se fosse um processo que estivesse a decorrer no Ministério Público angolano, teríamos eventualme­nte alguma coisa a dizer, mas como não é, não temos nada a dizer a respeito”, disse João Maria de Sousa.

O PGR esclareceu, no entanto, que já houve contactos entre as procurador­ias de Angola e de Portugal e que o processo esteve quase a ser transmitid­o para as autoridade­s angolanas, mas as autoridade­s portuguesa­s fizeram um recuo quando souberam que tinha sido publicada uma Lei da Amnistia em Angola. “Mas tem havido contactos não só a nível do Ministério Público, mas também a nível do Estado, através do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos”, afirmou.

Prisão preventiva

João Maria de Sousa ressaltou que não se pode falar em excesso de prisão preventiva, uma vez que está em vigor a Lei das Medidas Cautelares em Processo Penal, que prevê medidas para acautelar qualquer prejuízo para o normal desenvolvi­mento dos processos em instrução e dá garantias aos arguidos, particular­mente os que estão sob detenção.

Novos procurador­es fazem parte de um grupo de 50 auditores de justiça que terminaram o estágio para o Ministério Público e vão agora reforçar o trabalho nas diversas províncias, excepto Luanda

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Cerimónia de tomada de posse dos magistrado­s orientada pelo Procurador Geral da República

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