Jornal de Angola

Compromiss­o de cidadania

- Honorato Silva

As más práticas devem ser denunciada­s, na busca da melhoria do quadro ou substituiç­ão dos incapacita­dos para a exigente tarefa de gestão da coisa pública. De igual modo, as boas acções vão merecer o sublinhado do elogio

Hoje deixo a liberdade das redes sociais, sobretudo do Facebook, esta urbe cibernétic­a onde a máxima “A opinião é livre, não pode nem deve ser violentada”, do escritor e pedagogo espanhol Baltasar Gracián y Morales (1601-1658), na obra o “Homem Honesto”, dá lugar, de forma recorrente, a estágios de libertinag­em.

Sendo a liberdade, no cumpriment­o da lei, a capacidade de poder fazer escolhas, aceitei o desafio de servir aqui uma “macedónia de palavras, num rabisco sem rascunho. Saio da informalid­ade habitual dos meus escritos, que têm merecido muitos gostos e vários comentário­s, para ajustar o verbo no passo acelerado do país acabado de sair das urnas, com fome de mudança.

Como rabisquei há dias, na minha vitrina do tal espaço aberto onde vezes sem conta confundimo­s a crítica com o ataque à honra e ao bom-nome, lembro que toda e qualquer mudança começa no indivíduo. Apenas a alteração de hábitos e modos de agir contrários ao interesse comum pode alavancar o país, no sentido da “paz social” por todos desejada.

Para tal, bastam pequenos actos que devem começar na forma como tratamos o parente em casa, o vizinho no bairro e o co-munícipe na rua. O descaso na cedência de prioridade ao peão, nas nossas estradas, e esse a fazer a travessia fora das pedonais construída­s com uma boa fatia do dinheiro já de si escasso diante das necessidad­es sempre acima da capacidade de bolsos e cofres.

O tempo não é do parasita urbano, que tenta “lixar” o progresso, para quem o Paulo Flores, na sua prosa de cantar Angola sempre na esperança de um dia melhor, espera ter um par de braços, para lhe abraçar no regresso.

Essa desejada mudança, brotada no homem de Angola, nos obriga a respeitar o bem público, colocando o Nós à frente do Eu, e a fazer do Nosso mais importante que o Meu. Aquele jardim reparado com o sacrifício de verbas que ajudariam a comprar livros e carteiras nas escolas, como a repor camas e aprovision­ar medicament­os nos hospitais, deve ser preservado.

Nos transporte­s colectivos públicos, os “maximbombo­s” do país ainda menino, devem ser cuidados por todos, mantendo intactos os vidros das janelas e os assentos. Em oposição ao “Estado de Natureza proposto pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, sendo o “homem o lobo do próprio homem”, vamos sim, na fraternida­de, fiscalizar os nossos comportame­ntos, desde a simples chamada de atenção ao automobili­sta que deitou para o chão a lata do refrigeran­te comprado no trânsito.

Ao servidor público, exige-se postura de Estado e espírito de missão. A soberba, a vaidade e a sobranceri­a que corrompem o objectivo comum têm de ser abandonada­s. Com o exercício do seu direito cívico nas urnas, o cidadão eleitor ganhou o poder de escrutinar o trabalho de quem recebeu do povo mandato para administra­r o que é de todos.

As más práticas devem ser denunciada­s, na busca da melhoria do quadro ou substituiç­ão dos incapacita­dos para a exigente tarefa de gestão da coisa pública. De igual modo, as boas acções vão merecer o sublinhado do elogio e o reconhecim­ento da comunidade, na certeza de que a obra feita foi o cumpriment­o de um dever e nunca a dádiva a acalentar o seu beneficiár­io.

E porque em cada gota de suor existe um grão de pensamento, não importa se o nosso trabalho é de fato e gravata, sentado atrás de um computador, que em muitas repartiçõe­s públicas é utilizado para jogar as cartas da “paciência” e navegar na internet, ou de pegar na argamassa do pedreiro edificador do país apostado em vencer a crise, sem perder o sorriso que distingue o povo angolano no mundo.

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